Debate na Globo: Nem Bolsonaro e nem Lula desfizeram impasse sobre voto útil no primeiro turno

O formato era propício a desfazer essas dúvidas, por ter sido feito para expor ao máximo as diferenças entre ideias e propostas

Indeciso que ficou até de madrugada assistindo ao confronto entre os candidatos à presidência não viu razão para mudar de ideia

Por Malu Gaspar

Bolsonaro e Lula no debate da Globo Marcos Serra Lima/g1

O fato de que o debate dos candidatos à presidência na TV Globo teve índices de audiência típicos de Jornal Nacional, no pico, e acima da média do horário até o final, já na madrugada, é um sinal contundente de que o eleitor estava sim interessado em conhecer melhor as ideias e propostas dos candidatos à presidência da República.

Uma boa parte desse público talvez estivesse sensibilizada pela divulgação dos resultados das pesquisas que mostram que falta pouco para Lula atingir mais de 50% dos votos válidos no próximo domingo (2).

Buscavam, possivelmente, alguma pista para decidir se atendia ao apelo dos petistas e trocava seu voto em Ciro e Simone Tebet pelo voto em Lula, por exemplo. Outros podiam estar buscando uma razão para decidir votar em Bolsonaro.

O formato era propício a desfazer essas dúvidas, por ter sido feito para expor ao máximo as diferenças entre ideias e propostas.

Mas nada do que fizeram ou disseram Bolsonaro e Lula na madrugada de quinta para sexta foi suficiente para dirimir os dilemas do indeciso ou do nem-nem (nem Lula, nem Bolsonaro) que resiste a dar um voto para encerrar a eleição já no primeiro turno.

Pelo contrário. De todos os candidatos, a que melhor aproveitou a noite para expor suas plataformas foi Simone Tebet, a quarta colocada nas pesquisas.

Simone escapou com firmeza da tentativa de Bolsonaro de terceirizar seus ataques a Lula, lançando sobre ele suspeitas sem provas de envolvimento no assassinato do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, em 2002.

A candidata do MDB também conseguiu falar de suas propostas para educação e para o meio ambiente. Mas acima de tudo, segundo constatou um pesquisador sem ligação com partidos que acompanhava ao vivo eleitores em um grupo focal, foi a candidata que pareceu mais "normal" e não entrou em baixarias.

Com Ciro Gomes nervoso e apagado, oscilando entre um início com ataques a Lula e um final de parceria forçada sobre preservação da floresta, Simone sai do debate com chance de ganhar algum ponto a mais nesta reta final e ainda terminar a corrida em terceiro lugar.

Lula caiu nas ciladas colocadas pelo candidato-laranja de Bolsonaro, o suposto padre Kelmon, em perguntas sobre corrupção. Agora, corre o risco de ter seu desequilíbrio exposto em cortes de vídeos que não mostram o contexto nem a piada que o suposto padre representou no debate.

Já Bolsonaro atacou Lula mas evitou confrontá-lo diretamente, derrapou na explicação sobre o orçamento secreto e resistiu aos ataques de Soraya e Simone, mas tampouco saiu do lugar.

Ao terceirizar os ataques para Kelmon e não trazer nada de novo sobre seu governo, andou de lado – o que talvez fosse mesmo seu objetivo.

Debate presidencial na Globo

Ao final do debate, o grupo de eleitores que participavam da pesquisa qualitativa acompanhado pelo pesquisador com quem conversei se diziam exaustos e dececpcionados com os candidatos à presidência do Brasil.

Se nada mais acontecer para mudar o rumo da coisa, periga a corrida ainda durar mais quatro semanas – e eles ficarem ainda mais cansados.

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