Eleições 2022: entre o consenso e a ruptura

O caldeirão da política brasileira numa guerra de políticos com discursos diferentes, eleitor faça sua avaliação proposto entre o censo e a ruptura

Eleições 2022: entre o consenso e a ruptura

3 de agosto de 2022

Por Isaac Luna

Os movimentos observados na política brasileira nas últimas semanas apontam para a possibilidade de um cenário no qual poucos apostariam há dois anos, ou até mesmo há alguns meses: o consenso do campo democrático em torno da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A confirmação de Geraldo Alkmin na vice, a retirada da candidatura de Luciano Bivar (União Brasil), a aproximação do pré-candidato André Janones (Avnate), a adesão de banqueiros e empresários a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito” proposta pela tradicional Faculdade de Direito do Largo do São Francisco (USP), a costura para Marina Silva ser a vice de Haddad em São Paulo e várias outras manifestações de apoio, vindas de todos os lados, desde a pop-star Anita até o empresário e colunista liberal Gustavo Ioschpe, sugerem uma aglutinação de lideranças, partidos e setores do mercado em torno do líder sindical petista nas eleições de outubro.

O movimento busca construir as condições de uma possível vitória de Lula no primeiro turno, o que proporcionaria maior estabilidade ao sistema e legitimidade ao novo governo para reafirmar os postulados do Estado democrático de Direito.

Do outro lado da história está o presidente Jair Bolsonaro, que vê no “pacote de bondades” anunciado no final do mês de junho a última possibilidade de não ter que abandonar definitivamente o seu “plano A”, que seria vencer as eleições pelo voto direto do povo. Apesar da aliança com o centrão, bloco político que comanda o orçamento no Brasil de agora (o que não é pouca coisa), Bolsonaro tem encontrado dificuldades para unir as forças amadas em torno do seu projeto e, com isso, gerar as condições para a aplicação do seu “plano B”, qual seja: a ruptura democrática. O ataque de Bolsonaro as urnas eletrônicas, ao TSE e ao STF faz parte da retórica necessária para condicionar a opinião pública (ou pelo menos parte relevante dela) a apoiá-lo em um movimento de não aceitação do resultado da eleição.  O cenário da ruptura não está no campo da mais consistente probabilidade, basicamente por não haver setores relevantes da política, do mercado e da institucionalidade que tenham interesse em consolidá-lo, mas, por cautela, não deve ser integralmente descartado.

É entre essas duas possibilidades, o consenso e a ruptura, que surge uma “terceira via” silenciosa, aquela que seria o “plano C” do presidente: a anistia branca, não. A interlocutores o presidente tem externado a sua real preocupação com a possibilidade de ser preso caso não seja reeleito, de modo que os pedidos de arquivamentos das ações contra ele e familiares pela Procuradoria Geral da República (PGR) e a proposta de emenda à constituição (PEC) que corre nos bastidores do congresso visando criar o cargo senador vitalício pra blindar o atual mandatário, ainda que com pouca chance de sucesso pela sua fragilidade jurídica-constitucional, sinaliza que se está a procura da costura de um “arcodão” para que Jair Bolsonaro a aceite o resultado das urnas sem aventuras golpistas, em troca da não responsabilização jurídica da família presidencial pelos eventuais crimes cometidos pelo clã no quadriênio que vai se aproximando fim.

O fato é que se o movimento de consenso se consolidar e pavimentar as condições da vitória de Lula no 1º turno, mais distante fica o plano A e mais se fortalecem os planos B e C de Bolsonaro, ambos inconstitucionais, ilegais e muito ruins para a jovem e ainda frágil democracia brasileira.

A natureza da política torna muito delicado a afirmação peremptória de cenários, pois várias variáveis podem mudar a direção dos ventos numa corrida eleitoral. Ainda assim é possível se prever que, no campo das probabilidades, todos os sinais apontam para uma eleição atípica, conturbada e, no limite, violenta. Num cenário como esse, apenas o consenso, mesmo que em torno apenas do mínimo civilizatório, será capaz de evitar a barbárie.

Isaac Luna é cientista político, advogado, consultor e professor universitário.

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