Crise do MEC consolida Braga Netto como vice de Bolsonaro

Braga Netto sempre foi o plano A de Bolsonaro para ser seu companheiro de chapa.

O presidente Jair Bolsonaro e o general Walter Braga Netto | Jorge William

Por Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura

O abalo que a prisão do pastor Milton Ribeiro causou na campanha de Bolsonaro consolidou a posição do general Walter Braga Netto como candidato a vice na chapa à reeleição. 

Para aliados próximos do presidente, que ouviu muitos apelos do núcleo político de sua campanha para trocar o general da reserva pela ex-ministra Tereza Cristina, não restam mais dúvidas de que o militar vai ser o companheiro de chapa do presidente nestas eleições.

Braga Netto sempre foi o plano A de Bolsonaro para ser seu companheiro de chapa. Além de ser bolsonarista raiz, o general é considerado pelo presidente uma espécie de seguro-impeachment – alguém de sua absoluta confiança que não o trairia nem se meteria em conspirações pelo seu afastamento do cargo. 

Com o agravamento da tensão política provocada pelo caso Milton Ribeiro, as chances de o presidente entregar sua vice a uma parlamentar do Centrão, que já eram mínimas, diminuem ainda mais. 

Completa o quadro o fato de que Braga Netto se engajou na estratégia de reação à crise logo nos primeiros momentos após a prisão de Ribeiro, ajudando a  traçar uma operação de guerra na tentativa de cortar o cordão umbilical do pastor com o governo, conforme informou a coluna.

Segundo relatos obtidos pela coluna, Braga Netto participou ativamente das discussões internas do governo no enfrentamento da crise.  

“Ele passou a atuar como um subcoordenador e assumir um controle maior da agenda. Os milicos que estavam fora da campanha agora entraram firme”, relatou uma fonte que acompanha de perto as discussões. Foi esse núcleo, que agora passou a contar com Braga Netto, que sugeriu que o presidente assumisse a dianteira da narrativa.

No primeiro momento, Bolsonaro tentou dizer que não tinha nada a ver com o caso do gabinete paralelo formado pelos pastores que atuavam no MEC. “Se a Polícia Federal prendeu, tem um motivo. E o ex-ministro vai se explicar”, disse em entrevista à Rádio Itatiaia.

Depois, na live de quinta-feira, o presidente voltou atrás. Disse que havia “exagerado” ao dizer que botava a cara no fogo por Milton Ribeiro. “Eu boto a mão no fogo”, afirmou.

Ribeiro acabou solto por decisão do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), mas uma ligação do pastor com a filha, com citação ao nome do presidente e receio de uma operação da PF, aumentou a preocupação dentro do governo com os desdobramentos do caso.

O áudio foi considerado grave e pode fazer Bolsonaro ser enquadrado em ao menos três crimes, na avaliação de procuradores.

Oficialmente, os governistas dizem que as gravações não trazem nenhuma evidência concreta de crime do presidente e que o caso "não vai dar em nada".  

Nas conversas de bastidores, porém, o clima é de apreensão, com temor de que mais detalhes do grampo possam comprometer  o presidente da República, ou que novas operações sobre o governo possam ocorrer. 

Aliados do presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, avaliam que a entrada da ex-ministra da Agricultura na chapa como vice poderia ser um fato novo positivo capaz de chacoalhar a campanha e diminuir a elevadíssima rejeição ao presidente no eleitorado feminino.

Segundo a última pesquisa Datafolha, Bolsonaro é rejeitado por 61% das mulheres, mesmo após a veiculação de inserções do PL mostrando o interagindo com mulheres em ambiente descontraído. É o dobro da rejeição enfrentada por Lula no mesmo eleitorado (30%).

Em entrevista à jornalista Leda Nagle, na semana passada, Bolsonaro classificou Tereza como “nome excepcional” para concorrer tanto à vice-Presidência quanto ao Senado, sua intenção original.

Os recentes sinais públicos emitidos pelo presidente, no entanto, confirmam a consolidação do status de Braga Netto. 

O general compareceu ao jantar promovido na casa do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), que reuniu membros dos três poderes na última quarta-feira (22) para uma homenagem ao ministro Gilmar Mendes. 

“Braga Netto não saiu do lado de Bolsonaro. Só falou com Bolsonaro”, relatou um dos presentes, ao ver a sintonia entre o general e o ex-capitão.

Em conversas reservadas, o general repete o mantra de que o STF está “esticando demais a corda” e não poupa críticas ao ministro Alexandre de Moraes, algoz do Palácio do Planalto.

Bolsonaro já avisou que não quer um “novo Mourão”, em referência ao atual vice-presidente, Hamilton Mourão. Visto com desconfiança pelo presidente, Mourão acabou escanteado das principais decisões políticas do governo.

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