Réu acusado de repassar dinheiro para Vargas diz ter tentado delação
Publicitário preso na 11ª fase da Lava Jato disse que MPF não quis delação. Ricardo Hoffmann teria repassado verbas de publicidade ao ex-deputado.
Ricardo Hoffmann foi preso na 11ª fase da Operação Lava Jato (Foto: Reprodução) Bibiana Dionísio e Fernando CastroDo G1 PR O publicitário Ricardo Hoffmann, réu em uma ação da Operação Lava Jato, disse em depoimento na Justiça Federal, nesta quinta-feira (12), que se colocou à disposição para fazer um acordo de delação premiada, entretanto, não houve interesse do Ministério Público Federal (MPF). Hoffmann foi preso na 11ª fase da Operação Lava Jato, juntamente com o ex-deputado André Vargas e mais cinco pessoas. Foi nesta etapa que, pela primeira vez, as investigações saíram da Petrobras e foram para outros órgãos públicos. No caso, Caixa Econômica Federal (CEF) e Ministério da Saúde (MS). “Desde que fui preso, me coloquei à disposição da polícia, eu prestei um depoimento, não fiquei em silêncio. O passo seguinte foi manifestar o interesse em colaborar (...). Mas o doutor Carlos Fernando, de certo modo, colocou as coisas nos seguintes termos: o que você tem para contribuir não é tão relevante”, disse o publicitário. Carlos Fernando é um dos procuradors do MPF que conduzem as investigações da Lava Jato. O publicitário contou que houve três reuniões com representantes com integrantes da força-tarefa da Lava Jato e que, na última, veio a negativa. Ainda segundo o réu, o procurador disse que a partir do depoimento de Hoffmann iria procurar Borghi Lowe para um acordo de leniência. “Pelo o que me consta, isso progrediu”, disse Hoffmann. Procurado pelo G1, o MPF informou que não comenta acordos de delação premiada ou leniência que não foram homologados. É sabido que as empresas Camargo Correa e Setal Óleo e Gás já firmaram acordos de leniência. Até o dia 3 agosto, segundo o MPF, eram 22 acordos de colaboração firmados no Paraná. A denúncia Conforme a denuncia do MPF, o publicitário que dirigia Borghi Lowe ofereceu e prometeu vantagens indevidas a André Vargas para que ele fizesse uso do cargo político que ocupava e a empresa obtivesse sucesso em licitações para elaboração de peças publicitárias da Caixa Econômica Federal e Ministério da Saúde, e que também não fosse prejudicada na execução dos contratos. Ainda de acordo com o MPF, André Vargas agiu em prol da empresa. “Aceitou o oferecimento da vantagem indevida, praticando ato que infringiu o dever funcional inerente ao cargo público que ocupava, pois de fato viabilizou que a BORGHI LOWE fosse contratada para executar as campanhas publicitárias da CEF e do MS, como também assegurou a devida execução contratual”, diz trecho da denúncia. Os pagamentos A investigação aponta que o pagamento destas vantagens indevidas ocorria por meio das empresas Limar e LSI, que pertencem a Vargas e aos irmãos. Entre junho de 2010 e abril de 2014, o ex-deputado teria recebido R$ 1.103.950,12. “RICARDO HOFFMANN,que passou a destinar valores desviados das campanhas publicitárias do MS e da CEF às empresas LIMIAR e LSI, utilizando para isso de operações de lavagem de capitais. Dinheiro para campanha O publicitário foi questionado pelo juiz Sérgio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato em primeira instância, em alguns momentos do depoimento. Um deles foi quando Hoffmann mencionou que Vargas pediu doações eleitorais para a Borghi Lowe. Decidiram [os proprietários] fazer pagamentos a partir do momento de doação eleitoral, no meu entendimento”, disse o publicitário. Moro questionou o réu o porquê de ele não ter mencionado o pedido de doação eleitoral em depoimento à Polícia Federal. O réu ficou em silêncio e, alguns segundo depois, disse ter a impressão de ter mencionado isso à polícia. Mesmo, com o juiz ter lido o depoimento dele. Choro em audiência Durante a audiência, o publicitário se emocionou. Ele alega que apenas fez o que os proprietários e que chegou a pedir para não fazer mais os repasses ilícitos. “Primeiro, eu ficava sozinho nesta condução. Segundo, eu temia, e hoje eu vejo claramente o porquê, ficar sozinho nesta história. Com todo respeito que eu devo e tenho a Justiça, é difícil me ver sozinho aqui. É difícil ver o acionista, ver os empresários soltos, nem acusados soltos, e eu aqui”, disse o publicitário emocionado.
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