Sangue no quarto de motel e perícia: como a Polícia desvendou o feminicídio de jovem de 18 anos no CE

Ele matou ela no motel e agora a Justiça está sendo feita, diz familiares

Legenda: O crime aconteceu dia 10 de junho de 2024 - Foto: Reprodução 

Legenda: Samu foi acionado para atender a vítima - Foto: Reprodução

Conforme a Polícia, o suspeito forjou que a mulher morreu em um acidente de trânsito, na cidade do Crato. Ele também foi indiciado por fraude processual.

Escrito por Emanoela Campelo de Melo - 11 de Outubro de 2024

Uma reviravolta acerca da morte de uma jovem de 18 anos no Crato, cidade do Interior do Ceará, vem sendo acompanhada pela Polícia Civil do Ceará. O que parecia ter sido uma morte em decorrência de acidente de trânsito, agora, para os investigadores, se tratou de um crime de feminicídio.

Nessa quarta-feira (9), Ivanildo Leandro da Silva, 49, foi preso pelo assassinato de Robéria Caitano de Moura. O Diário do Nordeste teve acesso a documentos da investigação do caso, que passou a ser considerado como feminicídio após, conforme a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), o laudo da Perícia Forense do Ceará (Pefoce) indicar que "a vítima foi morta por asfixia por compressão cervical".

A reportagem conversou com uma das irmãs da vítima que disse: "toda a nossa família sabe que ele matou ela. Ele matou ela no motel e agora a Justiça está sendo feita. Acredito sim que foi feminicídio".

O inquérito da PCCE aponta que o suspeito e a vítima estavam no motel, instantes antes do acidente, no dia 10 de junho de 2024. Ivanildo foi inquirido e reinquirido na delegacia, tendo apresentado versões distintas para as autoridades.

No segundo depoimento, quando ele deu a versão de ter se relacionado sexualmente com a mulher instantes antes da morte dela, disse aos policiais que "no primeiro não falou a verdade na delegacia, porque estava desesperado, que tava com medo e nervoso" (sic). 

Uma das irmãs da jovem disse que esta era a segunda vez que Ivanildo e Robéria saíam juntos, mas que ela não apoiava a relação. A reportagem não localizou contato do advogado de defesa do suspeito.

No dia 1º de agosto, Ivanildo foi indiciado por fraude processual. Os resultados dos laudos da Perícia Forense do Estado do Ceará (PCCE) foram anexados aos autos depois desta data, o que, somados aos depoimentos de familiares da vítima, levaram a Polícia a acreditar na tese de femi-nicídio.

No último dia 19 de agosto, o Ministério Público do Ceará (MPCE) pediu 90 dias para se pronunciar sobre, alegando complexidade do caso.

ACIDENTE DE TRÂNSITO FORJADO

Robéria e Ivanildo estavam dentro de um veículo D20, cor Vermelha, trafegando pelo Crato, em alta velocidade. Na versão do suspeito, "faltou freio" na descida de uma ladeira e ele teve que pegar a contramão para evitar batidas. 

Primeiro, desviou de uma bicicleta, mas acabou colidindo contra uma Van. Câmeras de videomonitoramento flagraram o "acidente", registrado às 9h04 do dia 10 de junho de 2024.

"Nesse momento é possível observar o veículo D20, em velocidade visivelmente acima da velocidade média desempenhada pelos demais veículos que circulavam na via, deslocando-se através da Avenida Duque de Caxias. Ao chegar no cruzamento com a Rua José Marrocos, tenta realizar conversão à esquerda, porém, durante a manobra, colide com setor posterior esquerdo do veículo Iveco Daily e, em seguida, se choca com edificação. Após o acidente, motorista da D20 sai do veículo, conversa brevemente com ocupantes do veículo Daily e, em seguida, se dirige ao banco do passageiro. Com dificuldade, abre a porta e retira vítima do interior do veículo, aparentemente já desacordada"

Pefoce

Populares teriam gritado para pedir socorro à passageira (Robéria) acreditando que ela ainda estava viva. No entanto, a morte da jovem foi confirmada ainda quando o corpo dela estava no meio-fio.

Consta nos autos que um perito viu já no local do "acidente", que na vítima não havia lesões externas.

LOCAL DO SUPOSTO ACIDENTE

Uma das irmãs de Robéria falou que recebeu ligação de terceiros contando que a jovem tinha sido vítima de acidente de trânsito e ao chegar ao local já encontrou a familiar morta.

No depoimento desta irmã, ela fala que conversou com Ivanildo no local do "acidente" e que ele disse a ela não ter culpa e que "o Samu fez de tudo", mas estranhou o fato de ele já estar na companhia de um advogado, na via pública.

A irmã ainda teria pedido o celular de Robéria, mas Ivanildo depois disse ter entregue a um outro irmão da vítima, conforme consta nos autos. Outra irmã da vítima depois disse ter visto o aparelho

Enquanto isso, uma segunda irmã da jovem ficou responsável de ir à Pefoce de Juazeiro do Norte para liberar o corpo da jovem. Ela disse depois aos investigadores que "o médico do IML conversou com ela afirmando que no corpo não tinha nada quebrado e que ela não tinha lesões compatíveis com um acidente de carro, mas que seria necessário aguardar a perícia".

IDA AO MOTEL

Os óculos e os brincos de argola da vítima foram encontrados em um motel próximo ao local da colisão dos veículos. Os funcionários do estabelecimento foram chamados para depor e, segundo a versão de um eletricista, ele confirmou ter visto Ivanildo no motel no dia 10 de junho de 2024 e falou que "ele saiu com pressa dizendo que a esposa teria descoberto que ele estava lá com a amante e que estava indo para lá".

Outra testemunha ouvida foi a camareira. Ela falou aos policiais civis que foi a responsável pela limpeza do quarto onde o casal estava e que viu "gotas de sangue no chão, mas de início não estranhou, porque isso aconteceu outras vezes devido ao sangue de clientes menstruadas".

Quando foi chamado para depor novamente, Ivanildo apresentou nova versão e disse que Robéria era quem tinha proposto de encontrar ele no motel e que teria sabido por meio de uma das irmãs dela que a jovem era virgem.

Ao ser reinquerido, contou aos policiais que estava no motel com a vítima e que ela teria começado a sangrar e ficado pálida, que a mulher ficou mole, pálida e não falava mais nada, só gemia. Disse que levou a vítima para o banho, mas que ela não reagia

Na versão do suspeito pelo feminicídio, ele se vestiu rápido e saiu do motel e que só na saída "inventou uma história para sair rápido dizendo que a sua mulher tinha descoberto e que estava a caminho, disse que saiu dirigindo rápido e aconteceu o acidente no meio do caminho".

O preso negou ainda ter ficado com o aparelho celular da vítima dizendo não ter motivos para supostamente esconder o que o casal vinha conversando.

Segundo a SSPDS, “diante dos fatos, equipes da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Crato, representaram pela prisão do suspeito, que foi acatada pelo Poder Judiciário”.

Já com a ordem judicial em mãos, os policiais localizaram o suspeito na zona rural da cidade e ele foi levado para a delegacia. Agora, Ivanildo segue à disposição da Justiça.

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