Metralhadoras furtadas do Exército encontradas em São Roque estavam escondidas em lamaçal

O Exército foi chamado e reconheceu o armamento pelo número de registro.

Nove das 21 armas desviadas por militares, em setembro, de um quartel do Exército em Barueri, Grande São Paulo, foram recuperadas pela Polícia Civil na noite desta sexta (20).

Por Kleber Tomaz, Wesley Bischoff, Leonardo Rinaldi, Johan Carlos, Anderson Colombo, Lucas Jozino, Amanda Polato, g1 SP e TV Globo — São Paulo

Nove das 21 metralhadoras furtadas de quartel do Exército são encontradas na lama em SP

As nove das 21 metralhadoras que foram furtadas em setembro do Exército acabaram encontradas pela Polícia Civil, na noite desta sexta-feira (20), em São Roque, interior de São Paulo, escondidas no lamaçal de uma área de mata, conforme divulgação pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).

Foram recuperadas quatro metralhadoras calibre 7,62 e cinco metralhadoras calibre .50 – conhecidas por poder de fogo e alcance para derrubar até aeronaves. O Exército foi chamado e reconheceu o armamento pelo número de registro. O conjunto faz parte das armas que foram desviadas por militares, no período do feriado de 7 de setembro, de um quartel do Exército em Barueri, Grande São Paulo. O crime só foi descoberto em 10 de outubro, durante inspeção.

"As armas são muito pesadas e de difícil locomoção. Então elas estavam escondidas lá, dentro da lama, molhadas. E os indivíduos que estavam lá iam carregar um veículo com as armas. Só que nós chegamos antes", disse o delegado Marcelo Prado, titular do 1º Distrito Policial (DP) de Carapicuíba, na região metropolitana, em entrevista neste sábado (21) ao g1.

"Surgiu a informação de que ontem [sexta-feira] haveria um carregamento de armas naquele local. Nós fizemos a diligência rapidamente e confirmamos. Os indivíduos nos receberam já armados. Efetuaram disparos contra os policiais que estavam na viatura. Os policiais revidaram. A viatura foi bastante alvejada por disparos de arma de fogo e esses indivíduos acabaram fugindo, num lugar bem ermo, escuro, à noite, numa estrada de terra", disse o delegado. Ninguém ficou ferido.

O secretário da Segurança Pública de São Paulo (SSP), Guilherme Derrite, disse que a polícia conseguiu apurar que o armamento seria entregue para criminosos entre esta sexta e sábado, em São Roque, e enviou uma equipe até o local.

A suspeita da SSP é de que todo arsenal furtado do Exército iria ser negociado e vendido para facções, como o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), que age principalmente em São Paulo.

"Elas [as metralhadoras] tinham endereço certo. A informação que se tem é que tanto Comando Vermelho quanto PCC seriam os destinatários finais desse armamento", disse Derrite na manhã deste sábado durante coletiva de imprensa em um evento na capital.

Nove armas foram encontradas na lama em São Roque, interior paulista, segundo a polícia — Foto: Divulgação/Polícia Civil 

Armas foram encontradas pela Polícia Civil na Grande São Paulo — Foto: Johan Carlos/TV Globo

Nove armas furtadas do Exército são encontradas na Grande SP — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Armas furtadas do Exército foram recuperadas na Grande São Paulo — Foto: SSP-SP/Divulgação 

Tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista foi substituído pelo coronel Mário Victor Vargas Júnior para dirigir o Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri, na região metropolitana — Foto: Reprodução/Exército brasileiro

Na última quinta-feira (19), mais oito armas (quatro.50 e outras quatro 7,62) já tinham sido localizadas e recuperadas pela Polícia Civil no Rio de Janeiro. Das 17 metralhadoras recuperadas, outras quatro (todas calibre .50) continuam desaparecidas e são procuradas pelas autoridades.

Em entrevista à TV Globo, o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste, disse que as metralhadoras voltarão para o Exército após perícia da polícia.

O general ainda afirmou que não será feito um esquema especial para proteção das armas.

Relembre o furto de armas

O furto de 13 metralhadoras calibre .50 e de oito metralhadoras calibre 7,62 do Arsenal de Guerra São Paulo (AGSP), em Barueri, só foi verificado pelo Exército no último dia 10 de outubro.

Desde então, o órgão passou a investigar internamente e sozinho o desaparecimento delas e impediu a saída da tropa do quartel. Inicialmente, cerca de 480 militares foram impedidos de irem para casa e tiveram seus celulares confiscados. Mas 320 foram liberados e até este final de semana, 160 continuavam "aquartelados".

O Exército constatou ainda que mais de três militares participaram do crime. A suspeita é de que eles foram cooptados por facções interessadas em comprar as metralhadoras para usarem em ações criminosas.

Investigação

O Exército investiga se pelo menos três militares do quartel de Barueri, na Grande São Paulo, participaram do furto das 21 metralhadoras de guerra a pedido de facções e se as armas começaram a ser retiradas do local a partir do feriado de 7 de setembro.

As informações acima foram confirmadas pela TV Globo e g1 com fontes ligadas à investigação e também parentes dos militares que continuam impedidos de sair do Arsenal de Guerra depois que o desaparecimento delas foi confirmado.

Até a última atualização desta reportagem, cerca de 160 militares estavam "aquartelados" no quartel desde a semana passada. Todos tiveram seus celulares confiscados e estavam trabalhando entre os dias 6, 7 e 8 de setembro.

Antes, aproximadamente 480 tinham sido "retidos" inicialmente. Mas na terça-feira (16) 320 deles foram "soltos" para voltarem para suas casas. Mais de 50 militares já foram ouvidos pelo Exército no Inquérito Policial Militar (IPM).

Exoneração

Após o sumiço das metralhadoras, o tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, diretor do Arsenal de Guerra, foi exonerado, conforme publicação do Diário Oficial da União.

Em seu lugar, assume o novo diretor, o coronel Mário Victor Vargas Júnior, de 48 anos, que comandará o quartel.

A exoneração de Rivelino havia sido anunciada na quinta (19) pelo general de Brigada Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste (CMSE) durante entrevista coletiva com jornalistas na sede do órgão, na capital paulista.

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/10/21/metralhadoras-do-exercito-achadas-em-sao-roque-estavam-dentro-de-lamacal-veja-video.ghtml