Após 33h, SAP confirma 470 fugas durante motim no CPP de Jardinópolis
Fugas de presos, 470, foram recapturados 338
338 foram recapturados e perderam direito a regime semiaberto, diz governo. Moradores relatam medo e famílias dos detentos criticam falta de informações. Do G1 Ribeirão e Franca Mais de 30 horas após o início da rebelião no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Jardinópolis (SP), a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) informou pela primeira vez o número de fugitivos: 470. Desse total, 338 haviam sido recapturados até o fim da tarde de sexta-feira (30). Em nota, a SAP informou que todos perderão o direito ao regime semiaberto, e que já estão sendo transferidos para unidades penais fechadas na região de Ribeirão Preto (SP). "A Corregedoria da SAP já instaurou uma sindicância para apurar as causas do tumulto ocorrido ontem [quinta-feira] após a realização de revista de rotina. Conforme determina a legislação, todos os presos recapturados foram transferidos para unidades penais de regime fechado e perderam o direito ao semiaberto", diz o comunicado. As polícias Civil e Militar ainda buscam pelos presos que fugiram. Na tarde desta sexta, uma denúncia anônima informou que detentos estariam escondidos em uma mata em Brodowski (SP), a 20 quilômetros do local da fuga. Os PMs fizeram um cerco, mas nada foi encontrado. Moradores da região dizem que estão com medo. É o caso da cabeleireira Neusa Mercedez Esquevel, que ficou aguardando o marido em uma padaria, após sair do trabalho, porque temia ira para casa sozinha. “A gente fica preocupada, e o bairro onde eu moro é afastado, então é complicado. Eu cheguei de Ribeirão, fiquei na padaria esperando o meu marido chegar do trabalho para poder ir embora. Eu tinha muito medo de chegar lá”, contou. CPP em Jardinópolis continua transferindo presos recapturados para unidades de regime fechado (Foto: Reprodução/EPTV) O sentimento é compartilhado pela musicista Gilda Montans, que mora em uma fazenda bem em frente ao CPP, às margens da Rodovia Cândido Portinari. Ela estava viajando nesta quinta-feira (29), mas pediu aos familiares para reforçarem a segurança da propriedade. “Nós ficamos em alerta, soltamos cachorros e mantivemos a segurança. Fomos acompanhando de longe, através da mídia, assustados e sem uma informação correta. Foi a primeira vez que aconteceu um levante desses, que assustou toda a região”, disse. Familiares dos presos ficaram em frente ao CPP nesta sexta-feira (30) em busca de informações (Foto: Reprodução/EPTV) Rebelião e fugas Com capacidade para 1.080 detentos em regime semiaberto, o CPP abrigava 1.864 presos. A superlotação, no entanto, não seria a causa do motim. Presos recapturados reclamaram das punições aplicadas pela direção da unidade, como a suspensão de visitas. A rebelião teve início por volta de 9h de quinta-feira, durante a revista de rotina. Não houve reféns. Os presos atearam fogo em colchões de um dos pavilhões, derrubaram uma grade de quatro metros de altura e fugiram pela Rodovia Cândido Portinari. Segundo a PM, alguns presidiários se esconderam no meio de um canavial, onde havia um incêndio. Oito foram recapturados feridos e precisaram ser levados a hospitais de Ribeirão e Jardinópolis. Um corpo carbonizado também foi encontrado entre a plantação. Ainda não se sabe a causa do fogo, que também atingiu uma mata. Em nota, a PM negou que tenha iniciado as chamas com a intenção de afastar os fugitivos e conseguir recapturá-los. O Corpo de Bombeiros controlou o incêndio ainda durante a manhã. PMs continuam realizando buscas pelos fugitivos em canaviais próximos ao CPP (Foto: Reprodução/EPTV) Buscas Os fugitivos recapturados foram colocados no pátio da unidade prisional para contagem e o CPP passou por uma varredura. Ainda na tarde de quinta-feira, familiares dos presos começaram a chegar ao presídio para acompanhar a situação. Muitos passaram a noite no local e permaneceram em frente aos portões da unidade durante toda a sexta-feira, à espera de informações. Entre essas pessoas estava a aposentada Maria Cândida da Silva, de Guariba (SP), cujo filho está preso no CPP. Sem notícias, Maria Cândida foi até Jurucê, distrito de Jardinópolis, durante à tarde, para se alimentar. “Lá [no CPP] não tem banheiro, então a gente veio tomar água, comer alguma coisa, porque lá não tem nada. Eles não deixam entrar nem para tomar água”, disse. A pedagoga Soraia Vido também aguardava por informações do filho, que está preso na unidade. Ela chegou ao CPP às 6h desta sexta-feira e reclamou que as famílias estavam sendo impedidas de usar o banheiro e beber água no presídio. “Era para ele ter saído no dia 27 de junho e até agora nada, estão segurando o processo, estão esperando o diretor autorizar. Quando eu liguei, a menina foi muito grossa e falou que não adiantava ficar ligando, que só na hora que o diretor autorizar a saída”, afirmou. Polícia Civil informou que buscas por fugitivos continuarão durante a noite (Foto: Reprodução/EPTV) SAP justifica Em nota enviada na noite de quinta, a SAP informou que não havia motivos para a rebelião, mas suspeitava que as fugas tivessem sido provocadas pelo descontentamento em relação às revistas diárias. A Secretaria justificou que a maioria dos presos exerce atividade laboterápica. "Dos 1861 presos, 1.602 trabalham dentro e fora do presídio, e 662 estudam no ensino regular e/ou profissionalizante – parte dos presos estuda e trabalha, inclusive", diz o comunicado. Ainda de acordo com a SAP, a alimentação é produzida na cozinha do próprio CPP, por presos devidamente treinados. A pasta exemplifica também que, na saída temporária do Dia dos Pais, dos 1.166 presos liberados para visitas, 1.131 retornaram, ou seja, 97% do total. "O CPP é uma unidade de regime semiaberto e de acordo com a legislação brasileira e finalidade da pena, é totalmente circundado por alambrados e não conta com vigilância armada, como nos presídios de regime fechado", diz a nota. Presos fugiram por canaviais às margens da Rodovia Cândido Portinari (Foto: Reprodução/EPTV)
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