Lapinha Santa Clara festeja centenário em Juazeiro
Juazeiro do Norte. As lapinhas vivas do Cariri saem às ruas para saudar Jesus, com alegria, até o dia 6 de janeiro. As crianças assumem as personagens, que vão desde anjos, pastorinhas, caboclinhos, astros e animais. A sagrada família formada por Jesus, Maria e José é a protagonista de uma história que, ao longo dos séculos, tem sido encenada. Em Juazeiro do Norte, neste ano, a lapinha de dona Tatai, Maria Pereira da Silva, completa 100 anos. Criada a pedido do Padre Cícero, dona Tatai deu continuidade ao legado de sua mãe, Teodora Clarindo. Depois de falecida, o trabalho segue aos cuidados da terceira geração.
Dois personagens santos assumem destaque na Lapinha Santa Clara: o que dá o nome ao grupo, e o Padre Cícero, que fez o pedido a dona Teodora. A característica principal dos brincantes é quantidade maior de pastorinhas.
Por conta do aniversário da lapinha, as apresentações têm sido intensas. O grupo renova as vestimentas, com mais cores nas ruas. Dois personagens importantes assumem destaque na Lapinha Santa Clara: a que dá o nome do grupo, e o Padre Cícero, que fez o pedido a dona Teodora. Ela tinha 12 anos, e começou o trabalho com 24 componentes. A característica maior do grupo é pela quantidade de pastorinhas. A primeira apresentação aconteceu justamente para o sacerdote, na noite de Natal de 1912, na casa do padre, onde hoje funciona o Museu São José.
No dia 6, as homenagens continuam. Depois da primeira apresentação do grupo no Terreiro da Mestre Margarida, no Sesc, a lapinha segue para a Praça Padre Cícero, onde acontece a tradicional queima de palhas, a partir das 18 horas, em que praticamente todos os grupos de Juazeiro marcam presença. Hoje, são cerca de cinco delas. Logo depois, acontece a grande apresentação de frente ao Memorial de Dona Tatai, na Rua Santa Clara, no bairro Salesianos, com todos os componentes para fechar o período natalino, no Dia de Reis. A queima das palhinhas representa a renovação da fé cristã.
Dona Tatai se tornou mestre da cultura em 2006. Morreu três anos depois. Ela assumiu a lapinha Santa Clara em 1956, segundo o coordenador do grupo, Damião Felipe, marido da filha da mestre, Wanda Pereira da Silva, que também atua na organização dos trabalhos e, juntos, criaram o memorial, em Juazeiro.
A lapinha tem uma forte característica de pastoreio, com 33 componentes. Uma herança, segundo Damião, de Estados como Rio Grande do Norte e do Pernambuco. As apresentações acontecem durante o ano, como um dos fortes exemplares da manutenção dessa tradição viva. Na última quinta-feira, foi a vez do grupo abrir o Natal de Luz da cidade de Altaneira, no Cariri. Ontem, em Santa Cruz. "É um trabalho que permanece e a cada ano queremos inovar e fortalecer mais ainda", diz Damião.
Segundo o coordenador, foram realizadas melhorias. Ele destaca a homenagem a Pernambuco, Estado de origem da criadora da Lapinha Santa Clara, dona Teodora, da cidade de Garanhuns. O trabalho desenvolvido por ela começou a ser realizado em Juazeiro do Norte pelos beatos, a exemplo de beata Alexandrina e beato José. Dona Tatai fez dessa missão referência para criar outras lapinhas na cidade e até na região.
Mas, em cada uma delas, existem mudanças relacionadas aos personagens, por exemplo. No caso da Lapinha Santa Clara, são poucos os animais, o Jesus não é vivo, mas uma escultura de gesso. No dia 6 terá a participação de um criança. Há também a figura do soldado, além do Padre Cícero, sempre homenageado, e a Santa Clara. Os índios e caboclinhos são em menor número, em relação a alguns personagens de outras lapinhas da região.
Em outros bairros de Juazeiro, como João Cabral, a tradição das lapinhas vivas se fortalece, como a de Nossa Senhora Aparecida, dentre outras. "As crianças se sentem felizes de poder participar", diz a filha de Tatai, Wanda Pereira. Hoje, Juazeiro do Norte reúne um maior número de lapinhas vivas na região. Para a filha de dona Tatai, é uma grande alegria poder estar dando continuidade a esse trabalho. No memorial, estão reunidas as inúmeras premiações do grupo.
A lapinha comandada por dona Tatai, vestida de branco, usando uma coroa e um manto vermelho, mantém o seu legado. As pastorinhas, ciganos, anjos, borboletas, astros, flores e os diversos personagens foram levados para outras cidades, como Missão Velha, cidade natal da mestre da cultura, que incentivava e orientava a formação de outros grupos. A saudação do boa noite ao público continua sendo o canto das crianças e adolescentes da lapinha. E se depender do incentivo dos que herdaram a missão, continuará por muitos anos.
Mais informações:
Lapinha Santa Clara, Rua Santa Clara, 258, (88) 3511.7826
Lapinha de Zulene Galdino
Rua Marechal M. de Morais, 81
Novo Horizonte, (88) 3586.2056
ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER
Comentários