Juazeiro do Norte-CE: Doença rara gerada por um erro deixa jovem em cadeira de rodas à espera de cirurgia que custa R$ 35 mil

Demontier Tenório

Nem mesmo o erro em um atendimento ambulatorial retirou o sonho de Sara Ludgero de Souza, de 15 anos, em um dia ser médica. O sorriso constante esconde a dor e a cadeira de rodas é quem garante a sua mobilidade, mas não deu para prosseguir os estudos. Há dois anos ela abandonou a escola, porém jamais a vontade de um dia poder estar consultando os seus pacientes. A transformação na vida de Sara foi toda ela motivada pelo erro de uma técnica em enfermagem ao aplicar uma injeção.

O sofrimento de Sara começou no dia 1º de setembro de 2010 no Hospital Tasso Jereissati em Juazeiro do Norte quando foi tomar uma medicação injetável por conta de sua escoliose. Ao invés da veia, como era ministrada anteriormente, a técnica aplicou em região glútea com perda imediata no movimento da perna direita que passou a inchar e a mesma sentindo fortes dores. Ela voltou para sua casa na Rua Madre Alice, 16, imediações do Poço de Jacó no bairro do Horto, e o quadro clínico só se agravou.

Segundo ela, a movimentação na outra perna também acabou e a doença está avançando no corpo da adolescente que estabeleceu um verdadeiro vai e vem a médicos e hospitais sem solução. Em fevereiro deste ano, o médico Luis Felipe Vieira de Oliveira do Hospital Sarah de Fortaleza, diagnosticou uma “Distrofia Simpático Reflexa” – transtorno não especificado do sistema nervoso autônomo. Com todas as dificuldades inerentes a uma família pobre, ela já viajou sete vezes à Fortaleza.

No momento, o sonho de Sara é fazer essa cirurgia de risco num ambulatório da dor em Fortaleza, mas os R$ 35 mil para o procedimento estão muito distantes do seu bolso. Fora ela, são seis irmãos e o pai, José Pedro de Souza, é vigilante de uma creche. A mãe, Maria Luzinete, de 52 anos, é apenas beneficiária do INSS. Na ponta do lápis, só um milagre garante os R$ 800,00 mensais em gastos com fraldas e os R$ 170,00 para as sessões de hidroterapia.

A alimentação que seria um componente importante na vida de Sara tornou-se inadequada e pouca. Como se não bastasse, o medicamento para conter as dores denominado Lyrica custa R$ 100,00 e já foi expurgado do orçamento, sendo obrigada a deixar de tomar. Ficaram apenas dois: Pamelor (antidepressivo) e Carbamazepina (transtornos). A mãe dela exibiu para a reportagem fotográfica do Site Miséria um saco enorme armazenando as embalagens vazias de toda medicação que a filha já tomou.

Ela não esconde a saudade do banco da Escola Vereador Francisco Barbosa da Silva, onde estava concluindo o ensino médio e sempre dizia aos colegas que um dia seria médica. Enquanto isso não acontece, Sara procura o socorro médico que possa dar um basta nas fortes dores que sente e ela voltar a caminhar sem a necessidade da cadeira de rodas. “Enquanto houver vida, existe esperança e eu acredito muito em Deus”, diz a adolescente no momento em que abre mão do sorriso e deixa rolar lágrimas no rosto.