Oito mil na Caminhada da Fraternidade no Cariri
O evento completou 25 anos ininterruptos e teve como base de reflexão a Campanha da Fraternidade de 2015
DIA DO TRABALHO A caminhada também serviu como forma de chamamento para a manutenção da produtividade agrícola nos municípios interioranos, a partir da permanência dos jovens que residem nas comunidades das zonas rurais FOTO: ROBERTO CRISPIM Juazeiro do Norte. Cerca de 8 mil trabalhadores participaram ontem (1º) da Caminhada da Fraternidade, evento que reúne reivindicações por melhores condições salariais e de trabalho a manifestações cristãs e orações, num percurso de 14 quilômetros, feito a pé pelos participantes, que saem, por volta das 4 horas da manhã, da Igreja de São Francisco, no bairro Pinto Madeira, em Crato, em direção ao Santuário Franciscano, localizado em Juazeiro do Norte. O evento, que neste ano completou 25 anos ininterruptos, teve como base de reflexão a Campanha da Fraternidade de 2015, que discute a necessidade de maior fraternidade, a partir do envolvimento entre sociedade e Igreja, a partir do lema "Eu Vim Para Servir". A caminhada também serviu como forma de chamamento para a manutenção da produtividade agrícola nos municípios interioranos, a partir da permanência dos jovens que residem nas comunidades das zonas rurais que, motivados pelo desejo de mudar de vida, acabam migrando para as zonas urbanas e estabelecendo, desta forma, o esvaziamento do campo. O diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura Orgânica e Ecológica no Cariri, Expedito Guedes, avalia que é preciso que se busque uma certa sintonia entre o crescimento urbano e rural, evitando, desta forma, que haja a continuidade do êxodo já verificado nas comunidades rurícolas. Produção "É necessário que continuemos produzindo no campo. Homens e mulheres precisam compreender a importância do trabalho que resulta na produção de alimentos que geram a sustentação do nosso povo. Toda a história da humanidade passa pelo setor agrícola, pelo setor produtivo. Hoje, infelizmente, nós vemos que há um certo desinteresse da juventude em continuar vivendo nas comunidades da zona rural. Isso é extremamente prejudicial. Daqui a alguns anos, pode ser que falte comida na mesa do trabalhador por conta de não haver ninguém produzindo estes alimentos. É preciso discutir essa realidade e encontrar mecanismos para que este abandono (do campo) deixe de acontecer", observou o sindicalista. Revisão Além das questões relativas à diminuição da população jovem nas comunidades interioranas, Expedito Guedes também salienta a necessidade de uma revisão na política de distribuição agrária no País. "Não apenas nesta caminhada de primeiro de maio, mas, em todas as caminhadas realizadas pelo trabalhador rural, é necessário que se provoque esta discussão. O homem do campo ainda espera que a reforma agrária seja realizada de fato. Tem muita terra que poderia estar sendo utilizada de forma produtiva e que, por falta de interesse do próprio governo, acaba não servindo para nada", disse. Para o torneiro mecânico Antônio do Nascimento Cruz, a caminhada também tem a finalidade de expor à sociedade um problema pelo qual muitos chefes de família vem atravessando no Cariri: o desemprego. Segundo afirma, embora a região possua status de área metropolitana, o mercado de trabalho no Cariri ainda não consegue absorver a mão de obra existente. "Eu estou desempregado há mais de dois meses. Da mesma forma que eu, estão amigos que possuem formação técnica e que não conseguem arranjar emprego por conta de salário defasado ou por falta de vaga no mercado de trabalho. Embora os municípios da região estejam crescendo, o desemprego ainda é uma realidade", afirmou. Para o padre Arileudo Machado, vigário da Paróquia de São Francisco, em Crato, e um dos organizadores da Caminhada da Fraternidade, o evento consegue consagrar questões sociais e religiosidade de maneira natural por conta da relevância dos temas abordados. "Na caminhada deste ano, a principal discussão faz alusão à Campanha da Fraternidade que, oportunamente, discute com a sociedade a necessidade do servir. Hoje, neste evento, nós dividimos esta discussão com todos os trabalhadores presentes. Dividimos a responsabilidade da reflexão com as representações sindicais, com demais membros de pastorais da nossa Igreja e com a população que também participa desta caminhada", explicou o pároco. Comodidade Após percorrerem todo o trajeto da caminhada, os participantes foram recebidos com café da manhã comunitário, servido no Santuário dos Franciscanos, em Juazeiro do Norte. Cerca de 7 mil refeições matinais foram oferecidas aos participantes do evento. Vários ônibus também foram disponibilizados para que os participantes fizessem o percurso de volta com maior comodidade. Roberto Crispim Colaborador
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