\'Grazie\', diz Papa Bento XVI a cardeal brasileiro em sua última audiência
Presidente da CNBB afirmou que há \'sentimento de pesar\' após despedida.
Eduardo CarvalhoDo G1, em São Paulo
O Papa Bento XVI respondeu "grazie" – obrigado, em italiano – para o brasileiro Dom Raymundo Damasceno de Assis, de 76 anos, após receber do cardeal um agradecimento pela visita feita ao país, em 2007, quando o pontífice passou por São Paulo e Aparecida, para realizar a canonização de Frei Galvão e abrir o encontro do Conselho Episcopal Latino-Americano.
"Ele sorriu e recordou toda aquela viagem e aquele momento. Pela maneira como se expressou, sorridente, estava feliz diante das minhas palavras e me disse um \'grazie\'".
O cardeal brasileiro agradeceu também pela oportunidade do país ser sede da Jornada Mundial da Juventude, que acontece em julho no Rio de Janeiro.
O diálogo aconteceu nesta quinta-feira (28), no encontro de despedida entre Bento XVI e os cardeais, no Vaticano, no dia de sua histórica renúncia.
"Continuarei próximo a vocês em oração, especialmente nos próximos dias, em que elegem o novo Papa, ao qual hoje declaro incondicionais reverência e obediência", Bento XVI.
Dom Raymundo Damasceno de Assis, que é arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse ao G1 ter ficado um "sentimento de pesar" após a despedida do Papa Bento XVI.
O cardeal brasileiro afirmou não estar nem pensando na possibilidade de ser eleito Papa no conclave dos próximos dias. "Pobre de mim", afirmou em entrevista.
Conclave
Sobre a expectativa da eleição do sucessor de Bento XVI, que se tornará Papa Emérito a partir das 20h (16h, no horário de Brasília), Dom Raymundo Damasceno disse que há um clima de serenidade entre os cardeais.
“O clima está tranquilo. Como disse o Papa, ‘vamos em frente com Deus’. Ele está guiando a Igreja, que ficará sem o Papa, evidentemente. Mas como Jesus é o Supremo Pastor, Ele está conosco. Os cardeais estão (...) na expectativa de começar os trabalhos, porque o tempo vai passando e não podemos ficar aqui esse tempo todo”, disse o cardeal.
Dom Damasceno preferiu não opinar sobre favoritos ao “trono de Pedro” e disse ser difícil fazer esse apontamento antes do início pré-conclave, previsto para começar na segunda-feira (4). “Esse discernimento fazemos no processo inicial do pré-conclave, num clima de muita oração, muita reflexão. Com transparência vai se delineando o [sucessor] ideal”, explicou.
Papa brasileiro
Para ele não importa de qual continente será o sucessor de Bento XVI. “Se ele for um brasileiro, ficaremos felizes, mas acolheremos aquele eleito seja de onde ele vier. A Igreja é universal e o ministério do Papa também é um ministério a serviço de toda a igreja. Aquele for eleito vem do consenso dos cardeais e corresponderá à necessidade da Igreja”, disse.
Questionado pelo G1 se ele estaria pronto caso fosse eleito pelos cardeais, Dom Damasceno disse não estar nem pensando nisso. “Pobre de mim. Não estou nem pensando nisso. Estou pronto para votar com responsabilidade, com consciência, pensando no bem da Igreja, não no bem pessoal de ninguém. Essa é minha grande preocupação”, explicou.
Sobre o legado de Bento XVI, o cardeal brasileiro apontou que seu pensamento “rico e precioso” ficará como herança. “Um homem de diálogo aberto com a cultura do mundo de hoje, diálogo no mundo inter-religioso. Um homem que sempre procurou contribuir pela paz no mundo e fez da sua parte o que podia para testemunhar e anunciar os valores humanos”, explicou.
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