Viagem da rainha Elizabeth ao Rio teve encontro com Pelé, show da Mangueira e cerimônia de início da obra da Ponte Rio-Niterói

Além do Rio, a rainha esteve em Recife, Salvador, Brasília, São Paulo e Campinas.

A primeira e única passagem da monarca pela cidade, em novembro de 1968, teve uma série de eventos oficiais. Monarca britânica morreu aos 96 anos em sua residência de férias, o Castelo de Balmoral, na Escócia.

Por Cristina Boeckel, g1 Rio

Rainha Elizabeth II morre aos 96 anos

A rainha Elizabeth II passou pelo Rio de Janeiro em novembro de 1968. Foi a primeira e única visita da monarca ao país, quando esteve em seis cidades ao longo de 11 dias. A passagem pelo Rio teve samba da Estação Primeira de Mangueira, jogo de futebol com Pelé no Maracanã e cerimônia de lançamento das obras da Ponte Rio-Niterói.

A monarca britânica morreu aos 96 anos em sua residência de férias, o Castelo de Balmoral, na Escócia, nesta quinta-feira (8).

Além do Rio, a rainha esteve em Recife, Salvador, Brasília, São Paulo e Campinas.

Conheça a trajetória da rainha Elizabeth II

Elizabeth II chegou ao Rio no dia 5 de novembro de 1968, acompanhada do marido, o Príncipe Philip, que morreu ano passado. Ela fez o percurso de Salvador até o Rio de Janeiro pelo mar. Antes disso, ela já tinha ido ao Recife. A monarca chegou no Her Majesty Yacht Britannia (HMY Britannia), embarcação oficial da monarquia inglesa.

O HMY Britannia entrou na Baía de Guanabara no começo da manhã e ancorou próximo à Ilha do Governador. Mas Elizabeth e Philip não ficaram muito tempo no Rio de Janeiro. Eles embarcaram em um avião em direção a Brasília, e depois passaram por São Paulo e Campinas.

Na tarde do dia 8 de novembro de 1968, a rainha da Inglaterra voltou ao Rio de Janeiro para cumprir programação oficial. A cidade era a última etapa da visita ao país. Na mesma noite, a monarca ofereceu um jantar a bordo da embarcação real para 50 pessoas.

Dia movimentado

O dia 9, um sábado, foi movimentado. Ela conheceu pontos turísticos do Rio como a Praia de Botafogo, o Mirante Dona Marta e o Outeiro da Glória. Circulou em carro aberto por Copacabana, Ipanema, Lagoa, Laranjeiras e Catete. A monarca também participou de um almoço para 200 convidados com o governador Negrão de Lima no Museu de Arte Moderna (MAM).

Em seguida, a Rainha Elizabeth II e o Príncipe Philip participaram da cerimônia de início das obras da Ponte Rio-Niterói. A inauguração aconteceria mais de cinco anos depois, em março de 1974.

À noite, o casal real assistiu um espetáculo de artistas da Estação Primeira de Mangueira na Embaixada do Reino Unido, em Botafogo.

Encontro de realezas

Durante a tarde de domingo, a rainha e o príncipe conheceram o estádio do Maracanã e outra majestade: o rei do futebol, Pelé.

Sobre o encontro de realezas, Pelé lembrou dele após a morte do Príncipe Philip, em abril do ano passado.

“O futebol nasceu na Inglaterra, mas certa vez, no Maracanã lotado com 100.000 pessoas, nós tivemos a honra de mostrar a beleza do futebol brasileiro para a Realeza Britânica. Eu guardo este dia com carinho na memória, quando conheci o Príncipe Philip e a Rainha Elizabeth II, em 1968. Alguns anos mais tarde, o Duque de Edimburgo também visitou o Pacaembu e me viu jogar contra o Palmeiras”, afirmou Pelé.

O jogo visto pela monarca foi uma partida especial entre as seleções do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os paulistas levaram a melhor por 3 a 2. A rainha viu o jogo da tribuna de honra do estádio com o marido.

Pelé era o capitão do time e marcou o gol número 900 da carreira. Também estiveram na partida outros atletas consagrados como Carlos Alberto, Gerson, Rivelino e Jairzinho, que estariam na seleção que venceria o tricampeonato mundial em pouco mais de um ano, em 1970.

A edição do dia 11 de novembro de 1968 do Jornal O Globo expôs uma saia-justa quando o Príncipe Philip quis saber o que o público gritava para o árbitro da partida.

“...mesmo sendo explicado que eram expressões pejorativas, mostrou interesse em conhecer a tradução.”

Conduzindo a rainha

Um dos motoristas que atendeu o casal real durante a visita ao Rio de Janeiro contou na edição do dia seguinte do jornal que, no caminho para o Mirante Dona Marta, a rainha pediu para que ele reduzisse a velocidade para que pudesse acenar e cumprimentar sorrindo as crianças da região, que a esperavam.

“Já servia a muitos chefes de Estado estrangeiros, e a grandes personalidades brasileiras, mas creio que seja o máximo para um motorista conduzir a rainha da Inglaterra, o que provavelmente não me acontecerá mais”, disse Cabral.

A visita a uma igreja em Botafogo parou as principais vias do bairro.

“Nos edifícios ajustavam-se binóculos, lunetas e máquinas fotográficas para a festa-relâmpago e real, como Botafogo nunca viu em sua história. Até o sol foi generoso e compareceu”, afirmou a edição do dia 12 de novembro de 1968 de O Globo.

A rainha e o príncipe encerraram a visita no Aeroporto do Galeão, sendo conduzidos pelo então presidente Artur da Costa e Silva. De lá, foram para o Chile, para cumprir mais uma etapa da visita diplomática.

Apesar do clima amistoso, o país vivia dias duros. Pouco mais de um mês depois da visita do casal real, o Ato Institucional número 5 (AI-5), considerado o mais duro da ditadura militar, foi assinado pelo presidente Artur da Costa e Silva. Entre os decretos, estava o aumento do poder do presidente e a possibilidade de suspender os poderes políticos de qualquer cidadão.

Um Brasil diferente

A rainha Elizabeth II ocupou o trono inglês por 70 anos. Este ano, ela acompanhou as celebrações do Jubileu de Platina, mas não chegou a comparecer a todas as comemorações por problemas de mobilidade.

'Embora eu não tenha participado de todos os eventos pessoalmente, meu coração está com todos vocês', disse a rainha em junho deste ano.

Quando Elizabeth II foi coroada, em 1952, o presidente do Brasil era Getúlio Vargas, que voltava ao poder após eleição presidencial e reassumia o cargo em 1951. Ele governava o país do Rio de Janeiro, que ainda era capital do país.

Na época, o Brasil ainda não tinha nenhum título da Copa do Mundo.

O atual prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, ainda não tinha nascido. Paes, aliás, nasceu em 1969, um ano depois da única passagem da monarca pela cidade.

https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2022/09/08/viagem-da-rainha-elizabeth-ao-rio-teve-encontro-com-pele-show-da-mangueira-e-cerimonia-de-inicio-da-obra-da-ponte-rio-niteroi.ghtml