Jerusalém: Confrontos com polícia israelense deixam ao menos 150 palestinos feridos
Policiais israelenses também ficaram feridos nos confrontos e dezenas de palestinos foram detidos.
Palestinos protestam no complexo que abriga a Mesquita de al-Aqsa, após confrontos com forças de segurança israelenses na Cidade Velha de Jerusalém Foto: AMMAR AWAD / REUTERS
O Globo e agências internacionais
Confrontos com polícia israelense deixam ao menos 150 palestinos feridos na Esplanada das Mesquitas em Jerusalém
Polícia entrou na Mesquita de al-Aqsa para reprimir manifestantes acusados de lançar pedras e fogos de artifício contra Muro das Lamentações; em 2021, violência na cidade provocou guerra entre Israel e o Hamas
JERUSALÉM — Pelo menos 150 palestinos ficaram feridos em confrontos com a tropa de choque israelense dentro da Mesquita de al-Aqsa, na Esplanada das Mesquitas, na Cidade Velha de Jerusalém, palco de quatro horas de embates nesta sexta-feira. Três policiais israelenses também ficaram feridos nos confrontos e dezenas de palestinos foram detidos.
A maioria dos ferimentos foi causada por balas de borracha, granadas de efeito moral e espancamentos com cassetetes, de acordo com o Crescente Vermelho palestino.
Em um comunicado, a polícia israelense disse que centenas de palestinos atiraram fogos de artifício e pedras contra seus agentes e em direção à área de oração judaica próxima do Muro das Lamentações, contíguo à Esplanada, após as orações matinais. A nota diz que a polícia entrou na Mesquita de al-Aqsa para “dispersar e repelir [a multidão] e permitir que o restante dos fiéis deixasse o local com segurança”.
— Estamos trabalhando para restaurar a calma, no Monte do Templo e em Israel. Além disso, estamos nos preparando para qualquer cenário e as forças de segurança estão prontas para qualquer tarefa — disse o premier israelense, Naftali Bennett, usando o nome judaico para a Esplanada.
A escalada de violência ocorre no auge do mês muçulmano do Ramadã e na véspera do Pessach, a Páscoa judaica, e também coincide com a Semana Santa para os cristãos, alimentando as tensões nos locais sagrados em Jerusalém. O Complexo de al-Aqsa fica na Esplanada das Mesquitas, no topo da Cidade Velha de Jerusalém Oriental, o setor árabe da cidade que foi ocupado por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e posteriormente anexado. O lugar é o mais sagrado do judaísmo e o terceiro mais sagrado do Islã, atrás da Grande Mesquita de Meca e da Mesquita do Profeta em Medina, na Arábia Saudita.
A tensão em Jerusalém — que em maio de 2021 resultou em uma guerra de 11 dias entre Israel e o grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza — volta a aflorar após semanas de atentados em Israel e incursões israelenses na Cisjordânia ocupada.
Desde março, Israel sofreu um total de quatro atentados, os dois primeiros perpetrados por árabes israelenses ligados à organização jihadista Estado Islâmico (EI) e os dois últimos por palestinos da região de Jenin. Os ataques deixaram um total de 14 mortos.
Desde 22 de março, as Forças armadas israelenses mataram 22 pessoas na Cisjordânia, segundo contagem da agência AFP, que inclui os autores dos ataques, mas também civis. Há uma semana, em 8 de abril, após um ataque a tiros que deixou três mortos em Tel Aviv, o premier Natfali Bennett deu o que chamou de “liberdade de ação” às suas forças de segurança.
— Estamos concedendo liberdade total ao Exército, ao Shin Bet [serviço de inteligência interna] e a todas as forças de segurança para derrotar o terror — afirmou ele na ocasião.
Na última quarta-feira, um advogado e dois jovens palestinos foram mortos em incidentes separados na Cisjordânia. Na quinta, mais três palestinos foram mortos, incluindo um homem de 45 anos pai de seis filhos.
O Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina (ANP), que administra algumas áreas da Cisjordânia desde os Acordos de Oslo, nos anos 1990, disse que “considera Israel total e diretamente responsável por este crime e suas consequências”, referindo-se à invasão da mesquita. O Hamas também afirmou que Israel “é responsável pelas consequências”.
— É necessária uma intervenção imediata da comunidade internacional para impedir a agressão israelense contra a Mesquita de Al-Aqsa e evitar que as coisas saiam do controle — disse Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do presidente da ANP, Mahmoud Abbas.
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A Jordânia condenou a invasão da polícia israelense ao complexo muçulmano como “uma violação flagrante”. A família hachemita governante da Jordânia é a guardiã dos locais sagrados muçulmanos e cristãos em Jerusalém Oriental. Israel reconheceu o papel hachemita como guardião da Mesquita de al-Aqsa como parte do tratado de paz de 1994 entre os dois países, embora mantenha o controle militar sobre o local.
No ano passado, os confrontos entre palestinos e policiais israelenses durante o mês do Ramadã foram causados por iniciativas de Israel para despejar famílias palestinas do setor árabe de Jerusalém. A guerra que se seguiu matou mais de 250 palestinos em Gaza, a maioria civis, e 13 civis em Israel, atingidos por foguetes lançados pelo Hamas.
As negociações de paz entre Israel e os palestinos para a criação do Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza, tal como prometido nos Acordos de Oslo, estão paralisadas desde 2014. O atual governo israelense, que em 2021 substituiu o do ultranacionalista Benjamin Netanyahu, não dá sinais de que pretende retomar as conversas.
A coalizão liderada por Bennett inclui partidos de esquerda favoráveis ao diálogo, mas o próprio premier pertence ao partido Yamina, contrário ao estabelecimento de um Estado palestino.
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