Milhares de pessoas se reúnem em Washington para marcha contra a violência policial nos EUA

Blake sobreviveu e está hospitalizado, mas pode nunca mais voltar a andar, de acordo com seu advogado

Manifestantes se reúnem no Lincoln Memorial durante a marcha "Tira o joelho do nosso pescoço" em apoio à justiça racial, na capital dos EUA, em 28 de agosto — Foto: Michael M. Santiago/Pool/Reuters

Famílias de americanos negros mortos ou que levaram tiros de policiais discursaram; manifestação acontecem em meio a cinco noites de protestos em Kenosha após Jacob Blake ser alvejado pela polícia.

Por G1

Milhares de pessoas se reuniram nesta sexta-feira (28) em Washington para uma grande marcha contra o racismo, no aniversário da marcha de 1963, quando o líder dos direitos civis Martin Luther King Jr. fez seu histórico discurso "Eu tenho um sonho".

"Você pode ter matado o sonhador, mas não pode matar o sonho", disse o reverendo Al Sharpton, um dos líderes do movimento pelos direitos civis, durante a concentração. Planejada há meses, a marcha foi alimentada pela prisão de Jacob Blake, alvejado pela polícia de Kenosha, no Wisconsin.

Ativistas e políticos discursaram antes do início da marcha e a candidata democrata à vice-presidência, Kamala Harris compareceu em um vídeo gravado. Muitos dos discursos relembraram a trajetória de John Lewis, pioneiro do combate ao racismo nos EUA, morto no mês passado.

A manifestação tem como bandeira "Get Your Knee Off Our Necks" ("Tira o joelho do nosso pescoço", em inglês), em referência às últimas palavras de George Floyd, um ex-segurança negro sufocado por um policial branco em Minneapolis. O episódio provocou os maiores protestos em décadas no país.

A família de Floyd esteve presente na abertura da marcha, em Washington. Philonise Floyd, seu irmão discursou e precisou interromper sua fala algumas vezes para se recompor por conta da forte emoção.

"Gostaria que George estivesse aqui para ver isso", disse Philonise.

Pela manhã, milhares de pessoas com máscaras, por conta da pandemia de Covid-19, fizeram fila para verificar a temperatura e entrar no perímetro do National Mall, onde acontece a concentração. No calor úmido do final do verão, centenas se aglomeravam nos poucos locais com sombra.

"Planejei esta viagem há meses", disse a agência France Presse, Gardner, uma mulher negra de 47 anos de Cincinnati. "Cheguei aqui um pouco depois das 6h, então não dormi muito na noite passada. Espero que haja justiça."

Blake sobreviveu e está hospitalizado, mas pode nunca mais voltar a andar, de acordo com seu advogado. Seu pai, também chamado Jacob Blake, relatou que ele está algemado à cama. As autoridades identificaram o policial que abriu fogo contra Blake como Rusten Sheskey.

O agente foi suspenso, mas não foi preso, nem enfrentou acusações. Na sexta-feira, o Departamento de Justiça de Wisconsin disse que outros dois policiais, Vincent Arenas e Brittany Meronek, estiveram envolvidos no episódio.

De acordo com as autoridades, dois agentes tentaram dominar Blake com uma pistola de choque antes que ele entrasse em seu carro. Uma faca foi encontrada no veículo.

Nos violentos protestos que se seguiram, duas pessoas foram mortas por um homem com um rifle de assalto. As autoridades prenderam um garoto branco de 17 anos pelos assassinatos e apresentaram acusações de homicídio doloso contra ele na quinta-feira (27).

Menos de dez semanas antes da eleição, membros do governo Donald Trump criticaram os protestos. O vice-presidente americano, Mike Pence, rejeitou as alegações de racismo policial sistêmico e condenou "a violência e o caos que tomam cidades em todo país".

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