Niède, a mulher que ajudou a reescrever a história de nossos antepassados
Dramatização foi sucedida por shows de artistas com repertórios bem brasileiros
Símbolo na luta pela preservação de um dos maiores tesouros arqueológicos brasileiro, Niède Guidon teve trajetória contada em espetáculo não biográfico, no Parque Nacional da Serra da Capivara
Piauí, 03 de agosto de 2022
Niéde Guidon, a arqueóloga franco-brasileira que dedicou mais de cinco décadas de sua vida ao Parque Nacional da Serra da Capivara, foi a grande homenageada no retorno da Ópera da Serra da Capivara ao anfiteatro da Pedra Furada do Parque Nacional da Serra da Capivara, entre os dias 28 e 30 de julho.
Após dois anos de interrupção devido à pandemia de covid-19, a Ópera retornou para a quarta edição, desta vez narrando momentos da vida da arqueóloga, com licença poética, em um evento multissensorial com música, dança, teatro, circo e tecnologia de ponta - reunindo projeções de laser, videomapping e inteligência artificial -, numa junção de talentos de diferentes regiões do Brasil, harmonizando arte e tecnologia em um espetáculo emocionante.
Foram três dias de apresentação à beira do maior cartão postal da Serra da Capivara que, além do ato principal narrando momentos da trajetória de Guidon, foi brindado com a presença da própria homenageada, que assistiu à estreia.
E a dramatização foi sucedida por shows de artistas com repertórios bem brasileiros, como Roberta Sá, Dona Onete, Cordel do Fogo Encantado, Cátia de França, Ostiga Júnior, e a discotecagem com Gil Preto, do projeto Brasilidades.
*A Homenageada*
Natural de Jaú, interior de São Paulo, Niéde é um dos grandes nomes da ciência no Brasil. Filha de pai francês e mãe brasileira, se formou em História Natural pela Universidade de São Paulo em 1959. Fez doutorado em Pré-história pela prestigiada Universidade Sorbonne, em Paris. Ao longo de seus quase 90 anos construiu uma história que se confunde com a do próprio Parque Nacional da Serra da Capivara e os importantes achados que ajudou a revelar para o mundo sobre a presença do homem pré-histórico nas Américas.
Seu primeiro contato com o que viria a ser o atual Parque Nacional foi em 1963. Durante um trabalho no Museu do Ipiranga, quando coordenava uma exposição de pinturas rupestres encontradas em Minas Gerais, o até então prefeito de Petrolina, Luiz Augusto Fernandes, entregou às mãos de Niède fotos de pinturas encontradas nos paredões da Serra da Capivara. De pronto, seduzida pelo que viu, ela programou uma viagem de carro para conhecer o local.
Entretanto, a viagem não pôde ser concluída devido às fortes chuvas da época que destruíram o acesso à região dos achados. Logo em seguida ela precisou deixar o Brasil às pressas por causa da ditadura militar, indo morar em Paris. Após o exílio na França, Guidon retornou ao Brasil em 1973. Com o aval e financiamento do governo francês, liderou uma missão arqueológica ao Piauí, enquanto pesquisadora do Centre National de La Recherche Scientifique, e nunca mais saiu da região de São Raimundo Nonato, no sudeste do estado.
Lá, ao longo da carreira de pesquisadora e diretora do então fundado Parque Nacional da Serra da Capivara, criou a Fundação Museu do Homem Americano (FUNDHAM) — que administra o Parque em parceria com o ICMBio —, e dois museus: o do Homem Americano e o Museu da Natureza, este último fundado em 2018.
*Parque Nacional da Serra da Capivara*
Um dos maiores atrativos culturais e de natureza do país, o Parque é internacionalmente conhecido pelos registros rupestres pré-históricos datados entre 6 e 12 mil anos, e que contam detalhes da vida de nossos ancestrais, como seus ritos, costumes e cultura, que habitaram a região durante muitos milênios. Ao todo, são mais de 1,3 mil registros pré-históricos da presença humana em mais de 100 mil hectares de área.
Em 1991, a Unesco incluiu o Parque na lista de Patrimônio Mundial por sua importância histórico-cultural e, posteriormente, em 1993, ele foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (IPHAN).
Em reportagem do The New York Times publicada em janeiro de 2022, a Serra da Capivara foi o único destino turístico brasileiro citado dentre 52 lugares no mundo “imperdíveis” para se conhecer.
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