SPB – Sociedade dos Poetas de Barbalha uma história em cultura popular

Processo de criação da entidade, Hugo Rodrigues já possuía uma visão do futuro papel da SPB

Poeta Francisco de Assis (Tiquim), na Cordelteca Dalinha Catunda, em palestra aos alunos do Instituto Educacional Evolução do Bairro Cirolândia, Barbalha – CE - Fonte: Blog Cordel de Saia (2019).

HISTÓRICO DA SOCIEDADE DOS POETAS DE BARBALHA.

por reginaldolandim

Fundada em 17 de setembro de 2010, a SPB tem como representantes 25 poetas associados que promovem e otimizam a cultura popular com a literatura de folhetos, bem como outros trabalhos literários. Tem o reconhecimento de Utilidade Pública pela Prefeitura Municipal de Barbalha e como patrono Napoleão Tavares Neves, um dos grandes poetas do município.

O projeto de criação de uma sociedade que congregasse alguns poetas do município de Barbalha surge a partir da idealização do professor, pesquisador e poeta Hugo Rodrigues na época, 2008, concursado como Técnico em Cultura da cidade, juntamente, com o poeta e radialista Josélio Araújo, também funcionário da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Barbalha e o poeta José Sebastião Rodrigues, notável líder comunitário. O primeiro já era membro do Instituto Cultural do Vale Carirense (ICVC) e sempre se desatacou como um ativista cultural no Cariri cearense. Quando diretor do citado instituto, já articulava atividades culturais em várias cidades da região como Missão Velha, Barbalha, Juazeiro do Norte, Araripe e Crato, buscando fomentar a cultura nas comunidades. Em uma dessas atividades conhece a Sociedade dos Poetas do Araripe (SPA) e começa a projetar uma entidade com esse viés na cidade de Barbalha (RODRIGUES, 2019, comunicação pessoal).

Desde o processo de criação da entidade, Hugo Rodrigues já possuía uma visão do futuro papel da SPB no fomento à cultura, a partir de sua proposta os três idealizadores passaram a convidar alguns poetas que transitavam pela Secretaria de Cultura e Turismo de Barbalha para formarem a SPB, procurando agregar pessoas condizentes com o perfil da futura instituição, sobretudo escritores representantes da cultura popular. Entre esses poetas destacamos o decano Liberato Vieira da Silva (Mestre Bula), poeta, agricultor e líder comunitário no Sítio Santana em Barbalha – CE.

Realizado os convites iniciais, a entidade forma-se a partir de onze membros fundadores: Hugo de Melo Rodrigues, Josélio Fidélis de Araújo, Camilo Barbosa Leandro, José Sebastião Rodrigues, Ernane Tavares Monteiro, Francisco de Assis Sousa (Tiquim), João Edson da Silva (Dão de Jaime), José Gonçalves Sobrinho, José Joel de Souza, Liberato Vieira da Silva (Mestre Bula) e Maria Lindicássia Nascimento Mendes.

Na cerimônia de posse da SPB, em 17 de setembro de 2010, no Instituto José Bernardino (escola de ensino fundamental), em Barbalha, vale frisar a presença dos membros da Sociedade dos Poetas de Araripe-CE (SPA) e do Instituto Cultural do Vale Caririense (ICVC). Coube ao ICVC a diplomação dos onze poetas, bem como a outorga de posse da primeira diretoria (provisória) da SPB a Josélio Fidélis de Araújo. Posteriormente, a entrada de novos membros na agremiação em estudo passou a ocorrer mediante indicação da diretoria e votação dos poetas efetivos.

Desde a sua fundação, a SPB procurou estabelecer parceiras e intercâmbios com outras agremiações literárias e culturais como a já citada incentivadora a Sociedade dos Poetas do Araripe (SPA); Academia dos Cordelistas do Crato (ACC); Instituto Cultural do Vale Carirense (ICVC), Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) e Academia de Letras do Brasil (ALB).

As primeiras reuniões da SPB ocorreram na Biblioteca Padre Agostinho Mascarenhas, no Casarão Hotel Municipal, prédio histórico e tombado, com o apoio, no caso cessão de um espaço no prédio citado, da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Barbalha. Além de se encontrarem mensalmente no local, lá os poetas guardavam seu acervo e materiais de divulgação. Em 5 de julho de 2011, de acordo com a ata oficial, ocorreu a eleição e formação da primeira diretoria da SPB, tendo como presidente Josélio Araújo; na mesma data os membros aprovam o Estatuto da entidade. O estatuto apresenta a SPB como pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos e de caráter cultural. No Art. 3º desse documento oficial encontramos os objetivos da SPB:

– Colaborar no desenvolvimento cultural, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico;

– Consultar a opinião pública por meio de pesquisa quando necessário;

– Defesa de bens e direitos sociais, coletivos e difusos relativos ao meio ambiente, ao patrimônio cultural e ao meio ambiente;

– Promoção a manifestações culturais no desenvolvimento das artes em suas diversas modalidades;

– Promoção de cursos, seminários e reuniões periódicas, visando à integração dos associados e da comunidade;

– Promoção de campanhas sociais e educativas, bem como promoção de campanhas solidárias;

– Realização de projetos e ações de caráter cultural;

– Realizar eventos de reconhecimento a pessoas físicas e jurídicas por serviços prestados à sociedade no âmbito da cultura educação, inclusive, concedendo-lhes ‘Títulos Honoríficos”.

Em 25 de julho de 2011 a primeira diretoria eleita toma posse, com Josélio Fidélis de Araújo como presidente e Camilo Barbosa como vice. Na ocasião há o lançamento do primeiro cordel coletivo de autoria dos membros da SPB “A Nossa Sociedade Encantou mais o cordel”, com o mote homônimo em dez versos. Ainda em julho de 2011 o membro-fundador Francisco de Assis (Tiquim) apresenta aos poetas o brasão oficial da SPB, uma xilogravura desenhada a nanquim, de autoria do cordelista citado. 

Na gravura, observamos duas imagens representativas da cidade de Barbalha: O Casarão Hotel Municipal, sede da SPB até agosto de 2016, e dois caules de cana-de-açúcar. Segundo o poeta: “[…] a ideia da arte procura contemplar em essência esses aspectos para a Sociedade dos Poetas de Barbalha agregar a sua cultura mais um segmento”. Na margem inferior, destaca- se o endereço da sede atual da agremiação em estudo.

Em 2012, a SPB recebe apoio e rico acervo doado pela Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC). A sociedade conta ainda com Cordelteca Dalinha Catunda, inaugurada no dia 2 de dezembro de 2015 e aberta ao público. Podemos encontrar acervo composto pelos folhetos de autoria dos poetas da SPB em bibliotecas da região, como a Cordelteca do SESC de Juazeiro do Norte, e também da ABLC.

Em 04 de dezembro de 2013, em assembleia, os poetas da SPB resolvem definir a numeração da cadeira de cada membro e a indicação dos respectivos patronos, na época havia vinte membros. Combinou-se que o processo ocorreria a partir de sorteio. Os patronos escolhidos individualmente representam figuras emblemáticas da cultura da região e entes queridos dos membros.

Em setembro de 2016, a sede da Sociedade passa a funcionar na Cabana do Cordel, localizada à Rua Pinto Madeira, 380, Barbalha – CE, por cessão do poeta José Joel. A casa localiza-se vizinho à residência do cantador. Logo na entrada, deparamo-nos com a riqueza documental do lugar: inúmeros cordéis, alguns pendurados em barbante, fotos, diplomas, Lp’s (disco vinil) e prêmios/troféus dos festivais de cantoria, dos quais José Joel participou, expostos nas paredes, máquina de datilografia e móveis antigos, constituindo um rico acervo. A cada cômodo visitado, encontramos mais fotos e gravuras, muitos artefatos, como ferro de engomar à brasa, alpargatas e chapéus de couro, cabaças, lamparinas, lamparina a gás, candeeiro, viola, violão, um mimeógrafo, potes do barro, objetos preservados pelo “curador” que nos remetem ao interior, ao campo e a outros tempos. A sala principal, com uma mesa com banco e cadeiras de macarrão (de fio), onde geralmente ocorrem as reuniões da SPB, constituem o lugar para recepções e debates.

Conhecer esse espaço torna-se uma experiência gratificante, faz-nos recordar e ressignificar sensações passadas. Nesse contexto A Cabana do Cordel funciona como um lugar de memória, como dissertou Pollak (1992) ou um espaço de recordação, como nos lembra Aleida Assmann (2011). A Cabana é aberta ao público e constantemente recebe vistas de escolas da educação básica da região como também de professores pesquisadores universitários. Como exemplo ilustrativo destacamos o projeto de extensão “De Repente Ação” do Curso de Música da UFCA coordenado pelo professor Márcio Mattos Aragão Madeira. Vale lembrar: o cantador José Joel não conta com nenhum incentivo governamental e procura preservar o espaço da melhor forma possível.

Na Ata de reunião ordinária de 2016, os membros debateram e traçam os parâmetros para ingresso de novos membros oficiais na agremiação. A Diretoria indica o nome e os membros decidem sobre sua nomeação em assembleia.

O candidato deve estar enquadrado em pelo menos um dos seguintes quesitos: morar na cidade de Barbalha, ter laços familiares no município citado ou ter alguma obra escrita sobre a cidade sede da SPB. Observa-se claramente aqui a ideia de pertencimento, de questão identitária com a região e com a Sociedade.

Em 2016, a SPB perde dois grandes vates: José Sebastião Rodrigues, falece em 22 de setembro de 2016, e Liberato Vieira (Mestre Bula), em 29 dezembro de 2016. Ambos os líderes comunitários, representavam a entidade com empenho, o primeiro assumiu a presidência da SPB no biênio 2013-2015 e desenvolveu políticas para publicação de cordéis pela agremiação; o segundo, entre várias homenagens em vida, foi o primeiro a ser agraciado com a Comanda de honraria da SPB (ATA, SPB). Constantemente os poetas membros evocam a memória dos dois saudosos poetas em seus eventos. A cadeira do Mestre Bula passa a ser ocupada pelo seu filho Sérgio Pereira, primeiramente como membro benemérito e depois como oficial; já a cadeira de José Sebastião tem sua companheira Maria Lúcia Lopes como sócia benemérita.

Nesse contexto, vale lembrar as considerações de Assmann (2011) segundo a qual memoração dos mortos, fama e lembrança histórica representam formas de acesso ao passado. No caso do poema acima, temos um exemplo da primeira modalidade, a memoração dos mortos, que surge como meio de perpetuar a lembrança na família.

Assim, mais uma vez constatamos o folheto como suporte de uma memória e a SPB como uma instituição canal, um fio condutor de divulgação das obras dos poetas, reafirmando seu nome a partir do registro de sua poética no folheto.

Essa narrativa coaduna com as ideias sobre oralidade, memória e folheto desenvolvidas nesse trabalho: o cordel escrito guarda marcas da poética da oralidade como ritmo, melodia, assonâncias, aliterações e repetições que facilitam e dinamizam sua memorização. Observamos que o entrevistado usa o verbo “declamar” para descrever a ação do garoto e não simplesmente o verbo dizer, falar ou repetir, pois a oralidade do cordel evidencia-se claramente na performance do locutor e na interação como nos lembra Paul Zumthor, Francisca Pereira dos Santos e Edilene Matos (2010).

Em setembro de 2017, toma posse no Sítio Riacho do Meio em Barbalha, a primeira mulher presidente da SPB, Lindicássia Nascimento, membro-fundadora, o evento é marcado com muita poesia e a presença de membros da ACC, da ABLC e comunidade em geral. Logo após a posse, a nova presidenta nomeou como sócio beneméritos Sérgio Pereira, filho de Mestre Bula e Maria Lúcia Lopes, em homenagem, respectivamente, a Liberato Vieira e José Sebastião Rodrigues.

Membros da Sociedade dos Poetas de Barbalha-SPB.

01- Maria Lindicassia do Nascimento Mendes (Lindicassia Nascimento): 10 de setembro, 1976 – Barbalha CE.

02- Antônio Oliveira da Silva (Antônio Pirajá): 09 de setembro de 1965, Barbalha-CE.

03- Hugo de Melo Rodrigues: 10 de maio de 1973, Juazeiro do Norte-CE.

04- Antônio Cassiano da Silva (poeta Cassiano): 02 de setembro de 1966, Juazeiro do Norte-CE.

05- Josélio Fidélis de Araújo (Jota Fidelis): 19 de março de 1960, Cedro-PE

06- José Joel de Sousa (Zé Joel): 30 de dezembro,1962 – Barbalha CE.

07- Camilo Barbosa Leandro, 04 de novembro/1960, Mauriti CE.

08- Francisco Timóteo Ribeiro: 22 de dezembro/1949, Barbalha CE.

09- Francisco de Assis Sousa (poeta Tiquinho): 16 de fevereiro/1962, Barbalha CE.

10- Nivia Maria de Morais Landim (Nivia Morais) 24 de agosto/1976, Pereiro CE.

11- Ernane Tavares Monteiro: 30 de abril /1968, Barbalha CE.

12- Maria do Rosário Lustosa – 02 de novembro 1953 – Juazeiro do Norte CE.

13- Francisco Sérgio Pereira da Silva (Sérgio Pereira) – 08 de março 1974.

14- Maria de Lourdes Aragão Catunda

(Dalinha Catunda), 28 de outubro 1952, natural de Ipueiras CE.

15- Angela Maria Pereira da Silva (Angela Liberato) 16 de outubro de 1979, Barbalha CE.

16- João Edson da Silva (Dão de Jaime): 17 de agosto, 1960. Barbalha-CE.

17- Jacinta Maria Correia (Jacinta Correia):10/abril/1958 – Barbalha CE

18- Francildo Cesário da Silva (Francildo Silva): 05 de setembro 1971, Juazeiro do Norte CE.

19- Francisco de Assis Silva (Tico Bento): 24 de novembro 1967, natural de Missão Velha CE.

20- José Gonçalves Sobrinho: 01 de março de 1962, Barbalha CE.

21- Francisco Santos de Souza (poeta Capitão)10 de setembro 1963, Missão Velha CE.

22- Heliane Maria de Sousa Leite (Heliane Leite): 28 de Abril de 1965, Barbalha CE.

Desses, apenas 15 estão ativos, 7 estão afastados.

São eles:

01-Josélio Fidélis de Araújo

02-Francisco Timóteo Ribeiro

03-José Gonçalves Sobrinho

04-Francisco Santos de Souza

05-Heliane Maria de Souza

06-Camillo Barbosa Leandro

07- Francildo Cesário da Silva

SÓCIOS BENEMÉRITO

Maria Lúcia Lopes

Francisco Sérgio Pereira

Dalinha Catunda

Germano Araujo Sampaio

Elizer Bezerra.

Poetas indicados a receber posse em janeiro de 2021:

-Agliberto Bezerra

-Antônio Ferreira

CADEIRAS IMORTALIZADA:

*José Sebastião Rodrigues

*Liberato Vieira da Silva

*Maria Fátima Vieira.

Fonte:

AUTOR: GERMANO ARAÚJO SAMPAIO

Universidade Federal do Cariri 

Programa de Pós-Graduação em Biblioteconomia 

Mestrado profissional em biblioteconomia

Colaboração: Maria Lindicassia do Nascimento Mendes.

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