Hoje 3 de maio comemora o Dia do Sertanejo

Pelo saudoso Patativa do Assaré hoje menagem a todos os bravos sertanejos

Pelo saudoso Patativa do Assaré hoje mensagem a todos os bravos sertanejos (Foto Rádio Tempo FM)

A terra é naturá – Patativa do Assaré

I

Sinhô doutô, meu ofício

É servir ao meu patrão.

Eu não sei fazê comício,

Nem discurso, nem sermão;

Nem sei as letra onde mora,

Mas porém, eu quero agora

Dizê, com sua licença,

Uma coisa bem singela,

Que a gente pra dizer ela

Não precisa de sabença.

II

Se um pai de famia honrado,

Morre, deixando a famia,

Os seus fiinho adorado

Por dono da moradia,

E aqueles irmão mais véio,

Sem pensá nos Evangéio,

Contra os novo a toda hora

Lança da inveja o veneno

Inté botá os mais pequeno

Daquela casa pra fora.

III

Disso tudo o resultado

Seu doutô sabe a verdade,

Pois, logo os prejudicado

Recorre às autoridade;

E no chafurdo infeliz

Depressa vai o juiz

Fazê a paz dos irmão

E se ele for justiceiro

Parte a casa dos herdeiro

Pra cada qual seu quinhão.

IV

Seu doutô, que estudou muito

E tem boa educação,

Não ignore este assunto

Da minha comparação,

Pois este pai de famia

É o Deus da Soberania,

Pai do sinhô e pai meu,

Que tudo cria e sustenta,

E esta casa representa

A terra que Ele nos deu.

V

O pai de famia honrado,

A quem tô me referindo,

É Deus nosso Pai Amado

Que lá do Céu tá me ouvindo,

O Deus justo que não erra

E que pra nós fez a terra,

Este planeta comum;

Pois a terra com certeza

É obra da natureza

Que pertence a cada um.

VI

Esta terra é como o Sol

Que nasce todos os dia

Brilhando o grande, o menor

E tudo que a terra cria.

O sol clareia os monte,

Também as água das fonte,

Com a sua luz amiga,

Protege, no mesmo instante,

Do grandaião elefante

A pequenina formiga.

VII

Esta terra é como a chuva,

Que vai da praia a campina,

Molha a casada, a viúva,

A véia, a moça, a menina.

Quando sangra o nevoeiro,

Pra conquistá o aguaceiro

Ninguém vai fazê fuxico,

Pois a chuva tudo cobre,

Molha a tapera do pobre

E a grande casa do rico.

VIII

Esta terra é como a lua,

Este foco prateado

Que é do campo até a rua,

A lâmpada dos namorado;

Mas, mesmo ao véio corcundo,

Já com ar de moribundo

Sem amô, sem vaidade,

Esta lua cor de prata

Não lhe deixa de ser grata;

Lhe manda claridade.

IX

Esta terra é como o vento,

O vento que, por capricho

Assopra, às vez, um momento,

Brando, fazendo cochicho.

Outras vez, vira o capêta,

Vai fazendo piruêta,

Roncando com desatino,

Levando tudo de móio

Jogando arguêiro nos óio

Do grande e do pequenino.

X

Se o orguiôso pudesse

Com seu rancô desmedido,

Talvez até já tivesse

Este vento repartido,

Ficando com a viração

Dando ao pobre o furacão;

Pois sei que ele tem vontade

E acha mesmo que precisa

Gozá de frescor da brisa,

Dando ao pobre a tempestade.

XI

Pois o vento, o sol, a lua,

A chuva e a terra também,

Tudo é coisa minha e sua,

Seu doutô conhece bem.

Pra se sabê disso tudo

Ninguém precisa de estudo;

Eu, sem escrevê nem ler,

Conheço desta verdade,

Seu dotô, tenha bondade

De ouvir o que vou dizê.

XII

Não invejo o seu tesouro,

Sua mala de dinheiro

A sua prata, o seu ouro

O seu boi, o seu carneiro

Seu repouso, seu recreio,

Seu bom carro de passeio,

Sua casa de morar

E a sua loja sortida,

O que quero nesta vida

É terra pra trabaiá.

XIII

Escute o que tô dizendo,

Seu doutô, seu coroné:

De fome tão padecendo

Meus fio e minha muié.

Sem briga, questão nem guerra,

Meça desta grande terra

Umas tarefa pra eu!

Tenha pena do agregado

Não me deixe deserdado

Daquilo que Deus me deu.

VEJA TAMBÉM

Cante Lá Que Eu Canto Cá

Patativa do Assaré

I

Poeta, cantô de rua

Que na cidade nasceu

Cante a cidade que é sua

Que eu canto o sertão que é meu

II

Se aí você teve estudo

Aqui, Deus me ensinou tudo

Sem de livro precisá

Por favô, não mêxa aqui

Que eu também não mexo aí

Cante lá, que eu canto cá

III

Você teve inducação

Aprendeu munta ciença

Mas das coisa do sertão

Não tem boa esperiença

Nunca fez uma paioça

Nunca trabaiou na roça

Não pode conhecê bem

Pois nesta penosa vida

Só quem provou da comida

Sabe o gosto que ela tem

IV 

Pra gente cantá o sertão

Precisa nele morá

Tê armoço de fejão

E a janta de mucunzá

Vivê pobre, sem dinhêro

Socado dentro do mato

De apragata currelepe

Pisando inriba do estrepe

Brocando a unha-de-gato

V

Você é muito ditoso

Sabe lê, sabe escrevê

Pois vá cantando o seu gozo

Que eu canto meu padecê

Inquanto a felicidade

Você canta na cidade

Cá no sertão eu infrento

A fome, a dô e a misera

Pra sê poeta divera

Precisa tê sofrimento

VI

Sua rima, inda que seja

Bordada de prata e de ôro

Para a gente sertaneja

É perdido este tesôro

Com o seu verso bem feito

Não canta o sertão dereito

Porque você não conhece

Nossa vida aperreada

E a dô só é bem cantada

Cantada por quem padece

VII

Só canta o sertão dereito

Com tudo quanto ele tem

Quem sempre correu estreito

Sem proteção de ninguém

Coberto de precisão

Suportando a privação

Com paciença de Jó

Puxando o cabo da inxada

Na quebrada e na chapada

Moiadinho de suó

VIII

Amigo, não tenha quêxa

Veja que eu tenho razão

Em lhe dizê que não mêxa

Nas coisa do meu sertão

Pois, se não sabe o colega

De quá manêra se pega

Num ferro pra trabaiá

Por favô, não mêxa aqui

Que eu também não mêxo aí

Cante lá que eu canto cá

IX

Repare que a minha vida

É deferente da sua

A sua rima pulida

Nasceu no salão da rua

Já eu sou bem deferente

Meu verso é como a simente

Que nasce inriba do chão

Não tenho estudo nem arte

A minha rima faz parte

Das obra da criação

X

Mas porém, eu não invejo

O grande tesôro seu

Os livro do seu colejo

Onde você aprendeu

Pra gente aqui sê poeta

E fazê rima compreta

Não precisa professô

Basta vê no mês de maio

Um poema em cada gaio

E um verso em cada fulô

XI

Seu verso é uma mistura

É um tá sarapaté

Que quem tem pôca leitura

Lê, mais não sabe o que é

Tem tanta coisa incantada

Tanta deusa, tanta fada

Tanto mistéro e condão

E ôtros negoço impossive

Eu canto as coisa visive

Do meu querido sertão

XII

Canto as fulô e os abróio

Com todas coisa daqui

Pra toda parte que eu óio

Vejo um verso se bulí

Se as vêz andando no vale

Atrás de curá meus male

Quero repará pra serra

Assim que eu óio pra cima

Vejo um divule de rima

Caindo inriba da terra

XIII

Mas tudo é rima rastêra

De fruita de jatobá

De fôia de gamelêra

E fulô de trapiá

De canto de passarinho

E da poêra do caminho

Quando a ventania vem

Pois você já tá ciente

Nossa vida é deferente

E nosso verso também

XIV

Repare que deferença

Iziste na vida nossa

Inquanto eu tô na sentença

Trabaiando em minha roça

Você lá no seu descanso

Fuma o seu cigarro manso

Bem perfumado e sadio

Já eu, aqui tive a sorte

De fumá cigarro forte

Feito de paia de mio

XV

Você, vaidoso e facêro

Toda vez que qué fumá

Tira do bôrso um isquêro

Do mais bonito metá

Eu que não posso com isso

Puxo por meu artifiço

Arranjado por aqui

Feito de chifre de gado

Cheio de argodão queimado

Boa pedra e bom fuzí

XVI

Sua vida é divirtida

E a minha é grande pená

Só numa parte de vida

Nóis dois samo bem iguá

É no dereito sagrado

Por Jesus abençoado

Pra consolá nosso pranto

Conheço e não me confundo

Da coisa mió do mundo

Nóis goza do mesmo tanto

XVII

Eu não posso lhe invejá

Nem você invejá eu

O que Deus lhe deu por lá

Aqui Deus também me deu

Pois minha boa muié

Me estima com munta fé

Me abraça, beja e qué bem

E ninguém pode negá

Que das coisa naturá

Tem ela o que a sua tem

XVIII

Aqui findo esta verdade

Toda cheia de razão

Fique na sua cidade

Que eu fico no meu sertão

Já lhe mostrei um ispeio

Já lhe dei grande conseio

Que você deve tomá

Por favô, não mexa aqui

Que eu também não mêxo aí

Cante lá que eu canto cá.

Homenagem do diariodocariri ao Dia do Sertanejo            

Patativa do Assaré: Poemas de Luta e de Terra

Antônio Gonçalves da Silva, dito Patativa do Assaré, nasceu a 5 de março de 1909 na Serra de Santana, pequena propriedade rural, no município de Assaré, no Sul do Ceará. É o segundo filho de Pedro Gonçalves da Silva e Maria Pereira da Silva. Foi casado com D. Belinha, de cujo consórcio nasceram nove filhos. Publicou Inspiração Nordestina, em 1956, Cantos de Patativa, em 1966. Em 1970, Figueiredo Filho publicou seus poemas comentados Patativa do Assaré. Tem inúmeros folhetos de cordel e poemas publicados em revistas e jornais. Está sendo estudado na Sorbonne, na cadeira da Literatura Popular Universal, sob a regência do Professor Raymond Cantel. Patativa do Assaré era unanimidade no papel de poeta mais popular do Brasil. Para chegar onde chegou, tinha uma receita prosaica: dizia que para ser poeta não era preciso ser professor. 'Basta, no mês de maio, recolher um poema em cada flor brotada nas árvores do seu sertão', declamava.

MAIS DETALHES

Desde 1964, caravanas vinham a Aparecida, os violeiros participavam das celebrações, pelo menos uma vez durante um ano.

Geraldo Meireles, considerado o "Marechal da música sertaneja", junto com Tonico e Tinoco, As Galvão e outros artistas do sertanejo raiz, tiveram a ideia de criar um dia em especial para os cantores sertanejos. Os primeiros encontros aconteceram no antigo Cine Aparecida ao lado da Matriz Basílica, anos depois passou acontecer no subsolo do Santuário Nacional. Com a redução do evento que antes chegava ser o dia todo, a direção da emissora que tinha comprado o projeto, achou melhor que acontecesse no atual local de realização do evento. A data "3 de maio" ficou conhecido como o "Dia do Sertanejo" cunhado pela fé e perseverança dos violeiros que todos os anos vinham até a capital mariana do Brasil para agradecer a Nossa Senhora pelo trabalho realizado durante o ano todo. E então foi informada a direção da Rádio Aparecida, que aceitou e incentivou os que tocavam viola, na época era dirigida pelo Padre Ruben Leme Galvão. Geralmente, sendo realizado no Auditório Orlando Gambi, localizado no edifício da Rede Aparecida de Comunicação. 

Homenagem do diariodocariri ao Dia do Sertanejo            

Silva Neto