Direto de Paris, França

Brasil fica com a prata em despedida olímpica de Marta

"Chorem no começo para sorrir no fim". Uma frase nunca fez tanto sentido como agora depois de mais uma medalha olímpica — a terceira da sua carreira. Foram tantos desafios desde a saída aos 14 anos de Dois Riachos, em Alagoas. Incontáveis provações, mas com um sorriso no final. A despedida de Marta dos Jogos Olímpicos, seis no total, termina com mais uma medalha de prata no Parque dos Príncipes. A caminhada começou ainda em 2004, em Atenas, aos 18 anos. Termina 20 anos depois, aos 38 anos, em Paris, cidade luz, como uma verdadeira rainha merece.

Incrivelmente, há ainda quem questione o papel de Marta, seis vezes melhor do mundo. Mas vou contar aqui um pouco dos bastidores dessa cobertura especificamente em relação à ela. Temos em nosso país um ícone do futebol e muitos ainda não entendem sua grandeza. Ela move multidões.

Da estreia diante da Nigéria, fotos pedidas pelas jogadoras rivais após a partida. E assim por diante durante a competição. Contra a Espanha, jornalistas do país confessando que também estavam no jogo para ver Marta de perto. A comoção do estádio com seu choro pelo cartão vermelho.

Marta olha para medalha de prata conquistada em Paris, sua terceira na carreira — Foto: Franck Fife/AFP

Marta é abraçada pela capitã dos Estados Unidos, Lindsey Horan, na final do futebol feminino nas Olimpíadas — Foto: Jonathan Nackstrand/AFP

Na prévia da decisão, a técnica dos EUA, Emma Hayes, e a capitã do time, Lindsey Horan, enaltecendo o papel imensurável da camisa 10 para o futebol feminino. O ponto alto chegou durante a premiação das medalhas. Em um momento emocionante, ao receber sua medalha de prata neste sábado, Marta foi ovacionada pelo estádio inteiro e detalhe: a maioria dos torcedores presentes era dos EUA. Dá para mensurar um fato assim? É o tamanho da jogadora mais incrível que já tivemos até hoje.

Espero realmente que o Brasil deixe de colocar Marta como ponto de discussão, como ponto de debate. Não há nenhuma dúvida, ela é a maior que nós temos. Não somente por sua capacidade técnica, mas por sua simplicidade mesmo com seu trono já estabelecido. Celebremos Marta.

Não coloquemos ela em meio a discussões que visam dividir torcidas pró e contra. Disfrutemos dela e de tudo que já nos deu. Levemos tudo isso para uma grande celebração da Copa do Mundo feminina de 2027 que bate à nossa porta. Devemos isso a ela.

Por Cíntia Barlem

Jornalista e comentarista de futebol feminino do Grupo Globo