Adriana vence, vai à semi e garante medalha histórica no boxe olímpico
Na estreia da modalidade feminina nos Jogos, brasileira bate marroquina e assegura um lugar no pódio; luta por vaga na final será nesta quarta-feira
Por Rodrigo AlvesDireto de Londres
Elas tiveram de esperar 108 anos para trocar golpes em solo olímpico. Em um esporte que, ao longo do século 20, rendeu ouros para lendas como Muhammad Ali, George Foreman e Oscar de la Hoya, as mulheres só agora receberam o convite para a festa. E o Brasil teve pressa para levar uma lembrancinha reluzente de volta para casa. A baiana Adriana Araújo, de 30 anos, bateu nesta segunda-feira a marroquina Mahjouba Oubtil por 16 a 12, avançou para as semifinais do boxe (categoria até 60kg) e garantiu uma medalha histórica para o país. Na próxima fase, na quarta-feira, a pentacampeã pan-americana enfrenta a russa Sofya Ochigava. Como as duas perdedoras das semis ganham o bronze, Adriana já tem seu momento de glória assegurado.
Além da conquista na primeira participação do boxe feminino nos Jogos, a boxeadora paulista quebra um jejum verde-amarelo de 44 anos. A última medalha do país no boxe olímpico tinha sido em 1968, com Servílio de Oliveira na Cidade do México.
- Só tenho que agradecer. Essa medalha não é só para o Brasil, é para toda a América. Fico feliz por ter sido eu. Agora é me preparar e pensar por etapas, primeiro garantir a prata, e depois lutar pelo ouro. Ainda não peguei a medalha, ela ainda não veio para a minha mão - brincou Adriana, feliz pela medalha garantida, mas concentrada e ciente de que o caminho em Londres ainda não acabou.
Russa é a próxima pedreira
O desafio na semi será contra uma adversária conhecida e perigosa. Adriana já perdeu para Ochigava no Mundial, mas garante que em Londres a história pode ser diferente. Nesta segunda-feira, a russa massacrou a neozelandesa Alexis Pritchard por 22 a 4. O duelo está marcado para quarta-feira, às 10h15m (de Brasília), e na outra semi estão a irlandesa Katie Taylor e Mavzuna Chorieva, do Tajiquistão. A final será na quinta.
Nesta segunda-feira, a brasileira pegou uma arena ainda elétrica. Duas lutas antes, Katie Taylor, uma das favoritas ao ouro, fez tremer arquibancadas com um mar de bandeiras em verde, branco e laranja. Ela bateu a britânica Natasha Jonas por 26 a 15 e avançou às semis, para delírio da torcida.
Adriana já havia encontrado a marroquina uma vez, no Torneio Internacional de Astana, no ano passado, e vencido por 15 a 5. Confiante de que poderia repetir o resultado, a baiana começou partindo para cima. Mostrando guarda mais fechada do que na estreia, Adriana se protegeu bem e atacou mais no contragolpe. Nas trocas francas, a brasileira sempre deixava pelo menos um direto ou um gancho. Ao fim do round, 4 a 2 para Adriana.
Em desvantagem, Oubtil começou mais agressiva no segundo round e logo acertou um direto de direita. Na segunda metade do round, a brasileira voltou a comandar o ritmo e acertou diretos e ganchos novamente. Os árbitros pontuaram 3 a 2 para Adriana no round, ampliando sua vantagem no total para 7 a 4.
Sentindo o bom momento, a boxeadora baiana seguiu avançando contra Oubtil no início do terceiro assalto. Ela prensou a marroquina contra as cordas, e a adversária apelou para os clinches para segurar seu ímpeto. Adriana, todavia, ficou passiva na segunda metade, Oubtil cresceu e terminou vencendo por 4 a 3, reduzindo a diferença para 10 a 8.
Para evitar a virada, Adriana voltou a ser agressiva no último round e começou acertando dois bons ganchos de esquerda. Oubtil, porém, novamente atacou com vontade e a brasileira pareceu cansar, abusando da esquiva. Passou a andar muito para trás para escapar do boxe da adversária. Ela ainda acertou dois golpes no fim para tentar garantir a vitória e, no soar do gongo, levantou os braços em comemoração. O anúncio veio em seguida: 6 a 4 para a brasileira no último round, 16 a 12 no geral.
- Eu procurei usar apenas golpes duros. Vinha de uma luta ontem, então também trabalhei a recuperação. Sobre a próxima, já lutei com ela, perdi no Mundial, mas cada luta é uma luta. Conta muito o psicológico, e estou tranquila. Eu me preparei bem para estar aqui - afirmou Adriana, enquanto a russa Ochigava, que acabara de sair do ringue, cumprimentava a brasileira na zona de entrevistas.
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