Silvia Pfeifer redescobre o amor após fim de casamento de 44 anos

Aos 67 anos, a atriz conversou com Marie Claire por telefone para celebrar o retorno à emissora na qual foi revelada.

Silvia Pfeifer redescobre o amor após fim de casamento de 44 anos: ‘Nunca tinha me visto solteira. Hoje, estou feliz’

Aos 67 anos, Silvia Pfeifer conversou com Marie Claire sobre seu retorno às novelas da Globo após dez anos. Feliz e realizada, ela se deliciou com a oportunidade de rever grandes amigos e estar de volta à emissora na qual foi revelada. Na entrevista, ela também fala de longevidade e da redescoberta do amor na maturidade

Por Gustavo Assumpção — de São Paulo (SP) 12/08/2025 

Silvia Pfeiffer fala com animação e vigor da experiência de voltar ao ar em uma novela da Globo – ela estava longe da emissora desde 2014, hiato sentido pelos fãs. Neste tempo, nunca parou de trabalhar. Fez teatro, esteve em outras emissoras e também se ocupou como pode. Descobriu que adora fazer doces, hobby que gera aos amigos presentes com frequência.

Nos últimos dois meses, o público se encantou com seu talento. Em Dona de Mim, novela das 7, ela viveu Rebeca, uma advogada que fez dobradinha com Abel, interpretado por Tony Ramos. O convite a deixou feliz. “Me sinto muito bem trabalhando”, conta.

Silvia Pfeifer deixou Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, para tentar a carreira como modelo na Europa. Deu certo e ela desfilou para marcas como Armani, Dior e Chanel. De volta ao Brasil, recebeu convite para fazer uma transição para a atuação. Estreou na minissérie Boca do Lixo (1990), e foi duramente questionada. “A televisão te dá outro tipo de exposição”, relembra. Emendou vários trabalhos marcantes em novelas como O Rei do Gado (1996), Torre de Babel (1998), e Celebridade (2003).

Aos 67 anos, a atriz conversou com Marie Claire por telefone para celebrar o retorno à emissora na qual foi revelada. Ela também falou de outros temas. Conta como foi se apaixonar novamente após viver um casamento de 44 anos que chegou ao fim antes da pandemia. Diz que está se preparando para o envelhecimento com muita meditação e exercício físico. “Se eu olhasse para mim lá atrás, eu talvez dissesse: ‘não tenha tanto medo, se joga’”, diz.

Silvia Pfeifer — Foto: Jeff Porto

Silvia Pfeifer redescobre o amor após fim de casamento de 44 anos: ‘Nunca tinha me visto solteira. Hoje, estou feliz’ — Foto: Jeff Porto 

‘Nunca tinha me visto solteira. Hoje, estou feliz’ — Foto: Jeff Porto

MARIE CLAIRE Você está feliz com a repercussão de seu retorno ao ar?

SILVIA PFEIFER A repercussão foi muito positiva. Estou muito feliz com essa possibilidade de estar no dia a dia com esse elenco maravilhoso. É ótimo reencontrar o Tony [Ramos] com quem eu tinha gravado, Suely Franco, Rosamaria Murtinho. São tantos nomes, é um superelenco. E ainda tem uma galera jovem muito talentosa.

MC Ainda é diferente atuar em novelas da Globo [ela esteve em outras emissoras por dez anos]?

SP É. Fiz muitas novelas na Globo que marcaram. O texto da Rosane Svartman [autora da nove-la] é maravilhoso. Dona de Mim é muito bem conduzida, ela tem um ritmo, está todo mundo de parabéns. Muitas vezes é meio esquisito a gente começar uma novela com o bonde andando [ela entrou com capítulos já gravados], mas eu entendi muito rapidamente a personagem.

MC Qual é a importância do trabalho na sua vida?

SP Gosto de estar produtiva, ativa. Eu me sinto muito bem trabalhando. Na época da pandemia, por exemplo, eu comecei a ficar agoniada e fazia doces para os amigos (risos). Nessa idade, estar trabalhando é mais significativo ainda, principalmente na minha profissão.

MC Por quê?

SP Porque se tem feito menos produtos audiovisuais com pessoas da minha faixa etária. No momento que eu sou requisitada, procurada, é um prazer. Eu fiquei três anos sem trabalhar e já tinha ficado dois por culpa da pandemia. Nunca fiquei períodos tão longos sem trabalhar. A vida do ator tem esses períodos de entressafra. Isso gera uma insegurança e tem sido normal na nossa idade.

MC O público tem pedido o retorno de atores veteranos. Você acredita que é importante um elenco mais diverso?

SP Há necessidade de surgirem atores novos, mas eu acredito que estava acontecendo um desequilíbrio, não só na escalação dos atores, mas também das próprias histórias que estavam sendo contadas. É preciso dialogar com o público mais velho. Por que não se fala de conflitos entre gerações? Eu, por exemplo, tenho minhas questões. O que eu não fiz na minha vida, o que dá tempo de fazer? O que eu poderia ter construído de outra forma? O que me resta daqui para frente, como é lidar com a proximidade da finitude? Como é uma relação amorosa, sexual, entre pessoas mais velhas? Tem que se falar sobre esses temas.

MC Quais memórias você guarda do seu período como modelo?

SP Eu saí do Brasil pela primeira vez sozinha com um book debaixo do braço para bater na porta de agências lá fora em uma época em que aqui nem existia esse tipo de trabalho. Eu fui conhecer o mundo na marra. Enfrentei as dificuldades de estar sozinha, a limitação de uma língua. Não existia celular, então você não tinha o contato rápido e apoio. Lembro que fiquei gripada, me sentindo mal, a comida não era boa, dormi em hotel que não tinha nem banheiro no quarto. Tomei banho de água quase fria porque o aquecimento não era suficiente. Eu tinha uma boa vida [no Brasil], era de classe média. Em casa, tinha comida, roupa lavada, gente sempre por perto para apoiar. Eu fui para a vida. Isso me deu um estofo de não reclamar, saber relevar, viver com coisas simples, despojadas, enfrentar dificuldades, medos e desafios.

MC Após tantas dificuldades, você ainda quis recomeçar tudo como atriz…

SP Me sinto afortunada, mas foi muito difícil, porque ouvi muitas críticas. A televisão te dá outro tipo de exposição. Antes, eu estava em um grupo mais restrito. Você ouvia comentários, eventualmente saia uma coisa ou outra, mas na hora que fui para televisão, até o meu círculo de relações foi convocado para opinar sobre mim. Veio a oportunidade, eu agarrei e me joguei. Eu resolvi experimentar, de uma maneira meio inconsequente, inocente. Se eu tivesse pensado muito, talvez não tivesse aceitado.

MC As pessoas costumam se referir a você como um ícone de elegância e estilo. Você se vê dessa forma?

SP Nunca me achei um ícone. Eu não demonstro, mas eu sofro comigo. Eu vou com medo, mas eu vou, sabe?

MC Esse aprendizado veio do budismo?

SP O budismo veio por influência de uma amiga, com quem eu sempre estava. Depois, meu ex-marido também teve contato. Tenho meditado muito pouco. Hoje, casualmente, eu meditei. A meditação te centra. Desde os 28 anos, eu também faço terapia, o que me ajudou bastante. Lembro dos 10 anos em que morei fora e fiquei sem [terapia]. Não foi fácil.

MC Do que você não abre mão no seu cotidiano?

SP As relações, tanto as afetivas, como as amizades. Elas são importantes para você atravessar qualquer momento. Eu tenho que levantar as mãos para o céu porque além de ter uma estrutura familiar muito grande, eu sempre tive muitos amigos. Amizade é uma troca. Não abro mão também de uma boa alimentação, fazer exercício, uma acupuntura, caminhar ao ar livre…

MC Você malha?

SP É importante. Faço musculação. Eu estou focada nisso. Sempre fiz atividade física, balé clássico desde pequena, depois passei para a balé moderno, vôlei, voltei para a dança. Na minha época, modelo não poderia ser malhada, só precisava ser magra. A gente fechava a boca. Eu nunca tive dificuldades para controlar a boca, por isso só comecei a malhar numa idade mais tarde. Dizem que você eu não tenho a idade que aparento. Eu tenho uma genética muito forte, meus pais também não aparentaram. Mas, isso também é resultado de ter levado uma vida saudável, equilibrada.

MC Você pensa muito sobre a finitude?

SP O meu pai trabalhou até tarde, minha mãe é ativa até hoje. Eu tive bons exemplos. Me sinto muito bem trabalhando, fazendo meus doces, atuando. Gosto de estar ocupada, de interagir com as pessoas. Eu acho muito importante para o nosso equilíbrio psíquico a gente pensar coisas boas. Eu fico me policiando porque eu fico me culpando em alguns momentos. Meu trabalho agora é cuidar cada vez mais da cabeça para reconhecer tudo de bom que eu tenho, porque a gente tem que agradecer. A velhice não é fácil. Hoje, ela está mais tranquila por culpa dos novos recursos, mas fácil não é. Sinto que eu venho me preparando bem.

MC Foi difícil terminar um casamento de 44 anos?

SP Eu me separei de uma relação muito feliz, ótima, num momento difícil [ela foi casada por 44 anos com o empresário Nelson Chamma Filho]. Eu me separei 60 dias antes da pandemia. Perdi o contato com outras pessoas, minha produtividade. Isso começou a gerar uma angústia, um medo. Eu conhecia a minha individualidade, porque sempre viajei sozinha, tinha meus compromissos. Mas, eu nunca tinha me visto realmente solteira, sozinha. Com o passar da pandemia, as relações voltaram a acontecer.

MC É bom estar apaixonada [ela agora namora o advogado Edson Pinto]?

SP As coisas foram acontecendo naturalmente, até pela minha maneira de ser. Hoje, eu tô muito bem, feliz, resolvida.

MC Você cresceu no interior do Rio Grande do Sul, esteve em passarelas pelo mundo e conquistou uma carreira como atriz. Você se sente realizada?

Sim. Se eu olhasse para mim lá atrás, eu talvez dissesse: ‘não tenha tanto medo, se joga’. Eu tive medo, claro, mas eu me joguei, com apoio da minha estrutura familiar, e graças às minhas características. Aí é que está a minha felicidade: eu posso me orgulhar como mulher, como mãe, tive um casamento lindo, uma profissão linda, fui modelo, sou atriz. Ainda tenho minha mãe, meus amigos. Me sinto muito afortunada, por tudo que conquistei. Eu faço uma oração de manhã, hinduísta, que um dos estágios é olhar para trás e agradecer tudo o que você teve. A primeira vez que fiz isso, descobri muita coisa: eu tive uma cama para ser colocada quando bebê. Não me faltou carinho, estudo, oportunidade de viajar, de crescer em todos os sentidos. Fiz minhas viagens, voltei para casa viva, inteira. Tive zilhões de experiências, não cai em muitas perdições, só em algumas (risos). Eu tenho muita coisa para agradecer. Espero que eu tenha a lucidez de continuar tendo essa disponibilidade, essa força, clareza, saúde para conduzir a vida no que me resta.

Fotos @jeffportostudio Jeff Porto

Beleza @maxro Max Araújo

Styling @thiagoganndra Thiago Gandra

Press Camila Novo @casnovo

https://revistamarieclaire.globo.com/celebridades/noticia/2025/08/silvia-pfeifer-redescobre-o-amor-apos-fim-de-casamento-de-44-anos-nunca-tinha-me-visto-solteira-hoje-estou-feliz.ghtml