Antonio Fagundes: "A velhice é o melhor momento da vida"

Em entrevista à GQ Brasil, o artista fala sobre as produções, rotina e planos para o futuro. Confira

Prestes a completar seis décadas de carreira, o ator de 73 anos estreia a peça "Baixa Terapia" no Rio de Janeiro e se prepara para o lançamento da sequência de "Deus É Brasileiro"

Por Carolina Giovanelli

Antonio Fagundes Renata Almeida

Antonio Fagundes, de 73 anos, completa seis décadas de carreira em 2023. O ator acaba de filmar Deus Ainda É Brasileiro, sequência do filme de 2003, e se prepara para estrear no Rio, em janeiro, a surpreendente peça Baixa Terapia, que levou mais de 300 mil pessoas ao teatro em São Paulo. Em entrevista à GQ Brasil, o artista fala sobre as produções, rotina e planos para o futuro. Confira:

Você contracena em “Baixa Terapia” com sua atual esposa, Alexandra Martins, e sua ex-mulher Mara Carvalho. Nem todo mundo encararia bem essa situação. Como lida com isso? Eles têm inveja (risos). Envolve maturidade de todos os envolvidos. O Bruno, meu filho, também fazia a peça antes. E a tradução do texto é da minha primeira mulher, a Clarisse Abujamra. Criamos um grupinho familiar para trabalhar junto e é muito gostoso.

Você voltará a interpretar Deus no filme Deus Ainda É Brasileiro. Cultiva algum tipo de espiritualidade? Li sobre o deísmo, que nada mais é do que a natureza, você olhar para esse céu infinito, ver as florestas, o mar, o sol, a própria vida e imaginar que alguma coisa aconteceu. Talvez isso seja um Deus. Quem é ele, o que ele disse, não interessa. Interessa que estamos vivos e estar vivo é um milagre. O milagre de todos os dias.

Como foi ser um galã que envelheceu junto com o público? A velhice é o melhor momento da vida de uma pessoa. Sempre achei uma conquista o passar dos anos, não só da parte da saúde, mas da cultura, da experiência. Além disso, a única alternativa a não envelhecer é morrer jovem. Como nunca parei de trabalhar, quem me acompanha nem percebeu que envelheci, envelhecemos juntos. Não foi como aquela pessoa que faz algo, aparece vinte anos depois e você fala “como está velho”.

Há notícias sobre possíveis remakes de Renascer, A Viagem e O Rei do Gado, novelas das quais participou. O que acha? A ideia é maravilhosa, são textos clássicos. Pantanal mostrou que não envelhecem. Novelas são séries mais longas. As melhores novelas poderiam ser fatiadas em séries e fariam sucesso no mundo inteiro. Você pega um Grey’s Anatomy, com 19 temporadas, se somar todas elas dá um Renascer.

Por qual personagem de sua carreira é mais lembrado? O Rei do Gado é eterno, não só aqui como fora do Brasil. Carga Pesada também. As pessoas lembram bastante até por causa das reprises, do streaming. Percebo pelo Instagram, com comentários como “estou vendo Vale Tudo, O Dono do Mundo, Por Amor”. Agora, estamos sempre no ar, seu trabalho não morre.

Como vê o movimento de influenciadores que viraram atores? O mercado acaba sendo um juiz. Se o influenciador for um bom ator, por que não? Seja bem-vindo. Quem sabe ele até traga um público novo para teatros, cinemas, telenovelas. Se não for bom ator, o mercado irá se encarregar de eliminá-lo. Não tenho o menor problema com isso.

Como define sua rotina? Leio todos os dias. Em média, um ou dois livros por semana. Filmes, vejo um ou dois por dia. Tenho uma grande coleção de DVDs. Às vezes, pego um diretor famoso, um Fellini, e revejo toda a obra em sequência. E estou fazendo exercícios como nunca, quatro vezes por semana.

Você já chegou a ser bloqueado no Instagram, após responder milhares de seguidores com emojis de rosas e acabar confundido com um robô. Gosta das redes sociais? Só tenho Instagram, onde falo sobre livros, declamo poemas. Leio todos os comentários e curto quase todos, alguns respondo com flores. Sábado e domingo só uso o telefone, não entro em Instagram, WhatsApp. Não adianta mandar nada no fim de semana que não vou ver. É uma forma de descanso.

Interessa-se por estilo? Eu gosto do confortável, casual. Não compro roupas, quem compra para mim é a minha mulher. Não tenho paciência para ficar em lojas e ela tem bom gosto. As meias coloridas são uma marca minha. Conto com uma vasta coleção. Dá para usar um par diferente por dia por um ou dois anos.

Quais seus planos para o futuro? Estou envolvido no projeto de uma outra peça que vou fazer, no desenvolvimento de uma série para o streaming e em roteiros de cinema que quero produzir. Produzi um filme só até agora. Quero produzir dez nos próximos anos.

https://gq.globo.com/cultura/noticia/2022/12/antonio-fagundes-velhice-melhor-momento-vida.ghtml