40 anos do disco “Caçador de Mim” celebra a atemporalidade de Milton Nascimento

“Caçador de Mim”, disco que segue sendo um dos marcos no cancioneiro deste país

Legenda: Depois de longos meses repletos de lançamentos e duetos, Milton Nascimento chega em 2021 celebrando os 30 anos de um dos seus principais álbuns, “Caçador de Mim” - Foto: João Couto / Divulgação

Escrito por Luã Diógenes

Um dos principais compositores da música popular brasileira (MPB) segue em atividade, carregando no repertório músicas que atravessam gerações

Dizer que a arte tem sido fundamental para a sobrevivência nesses tempos árduos e incertos pode ser até repetitivo, mas muitos cantores souberam aproveitar essa necessidade atual e fizeram de suas obras um respiro mais forte no meio do caos. Já mencionado neste espaço, Caetano Veloso foi um dos artistas que utilizaram o isolamento para elaborar novos trabalhos, músicas e se destacar como um ídolo brasileiro. 

Outros dois gênios que se fizeram presentes na quarentena foi Chico Buarque e Gilberto Gil, que lançaram o single “Sob Pressão”, música do baiano com Ruy Guerra, e que além de se tornar tema da série de mesmo nome da TV Globo, ainda musicalizou o sofrimento dos brasileiros diante a Covid-19.

O ano de 2020 também foi palco para um dos principais nomes da MPB brilhar. Discorro sobre Milton Nascimento, o querido “Bituca”, que além de possuir uma obra magnífica, segue sendo um dos preferidos da sua geração e celebrado por uma juventude consciente.

Depois de longos meses repletos de lançamentos e duetos, o mineiro chega em 2021, celebrando os 40 anos de um dos seus principais álbuns, “Caçador de Mim”, disco que segue sendo um dos marcos no cancioneiro deste país, com faixas atuais mesmo diante o passar do tempo.

Bituca pelos bailes da vida

Em 1981 o Brasil vivia em uma ditadura militar em seu último governo, do Presidente João Figueiredo. Ainda no cenário político, o país “assistiu o atentado do Rio Centro”, quando duas bombas explodiram em um carro no show do Dia do Trabalhador, na Capital Carioca, deixando um morto e outro ferido.

Eram tempos difíceis, apesar de certas evoluções. A liberdade de expressão, por exemplo, começava a ressurgir mediante a Lei de Anistia do ano de 1979, quando exilados políticos puderam voltar para o país. 

Esse foi o cenário que Milton Nascimento lançou o LP “Caçador de Mim” pela gravadora Ariola. O disco, que tem a participação especial de Ney Matogrosso, Tunai, Flávio Venturini, Wagner Tiso e da banda Roupa Nova,  foi um marco na sua carreira do cantor, lhe rendendo um enorme sucesso. Mas hoje, 30 anos após sua produção, o que é possível falar dele ?

“Caçador de Mim” é um trabalho que segue constante, a começar pela música que dá nome ao álbum e de autoria de Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá,  onde Milton exclama “Nada a temer/ Senão o correr da luta/ Nada a fazer/ Senão esquecer o medo”, versos que parecem se equiparar a força de milhares de brasileiros em 2021 lutando pela vida mesmo com tantas incertezas e desejando um futuro saudável.

Outras faixas fogem do efêmero como “Nos Bailes da Vida”(Milton Nascimento e Fernando Brant), onde a luta do artista pela sobrevivência é reverenciada. Essa batalha, de alguma forma, simboliza as dores de muitos operários da arte que tiveram suas apresentações castradas devido ao vírus e tiveram de se renovar.  

Novos sonhos e futuro é o que desejam as engajadas e sensíveis “Coração Civil”(Milton Nascimento e  Fernando Brant), "Notícias do Meu Brasil” (Milton Nascimento e Fernando Brant) e “Sonho de Moço” (Francis Hime e Milton Nascimento). O amor segue vivo na sutil “Amor Amigo” ou na igualmente melódica “Vida”, ambas fruto da parceria Bituca e Fernando Brant.  

O álbum de dez faixas ainda inclui pérolas como “De Magia, de Dança e Pés”(Milton Nascimento), “Crescente” (Wagner Tiso) e “Cavaleiros do Céu” (versão de Haroldo Barbosa para a música Riders in the Sky de S. Jones). A última faixa encerra o trabalho fonográfico com chave de ouro. O mineiro musicaliza um trecho do “Poema Sujo” do maranhense Ferreira Gullar e comove.

Uma música jovem e repleta de novos brilhos 

Em junho do último ano, Milton Nascimento fez uma live primorosa de nome “Um domingo qualquer, qualquer hora” quando cantou seu refinado repertório para seus fãs que muito lhe aplaudiram de casa. Meses antes o compositor selou dueto sintonizado com Criolo em músicas como “Cais” e “Não existe amor em SP” no piano dolente de Amaro Freiras.

Já para o fim de 2020, Bituca grava lindamente a clássica “Drão'’, canção de Gilberto Gil composta em 1982, mas até hoje altamente ouvida nas rádios do país. O registro foi feito especialmente para a série “Amor e Sorte” da TV Globo.

Diante tantos trabalhos e motivos, o eterno Milton Nascimento segue com o coração de estudante, aprendendo com a juventude a ser eterno. Exibe força, raça e a gana para vencer os desafios apresentando o que existe de melhor para o seu público. Do “Clube da Esquina” para o mundo, Bituca segue atemporal, com obra consolidada e consagração necessária. 

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