Ao lado da filha, Emanuelle Araújo relembra reações por gravidez aos 17

Emanuelle Araújo e a filha Bruna Bulhões

Ao lado da filha, Emanuelle Araújo relembra reações por gravidez aos 17: 'Senti uma ligação imediata' Thayná Rodrigues [caption id="attachment_153681" align="alignleft" width="200"] Ao lado da filha, Emanuelle Araújo relembra reações por gravidez aos 17 (Fotos: Guilherme Lima)[/caption] Com o violão em uma das mãos, a filha de Emanuelle Araújo chega sozinha e a passos mansos, no dia desta entrevista para a Canal Extra. Bruna Bulhões sorri, simpática, cumprimenta a equipe da revista e coloca o objeto no chão, no canto da sala. “Não tem ciúme do instrumento?”, pergunta esta repórter, surpresa. “Ah, não! Não tem problema deixar ali”, releva, mostrando simplicidade. Acordar numa segunda-feira para um ensaio fotográfico é atípico em sua agenda, agora mais voltada para a carreira de psicanalista. — Acabei de montar o meu consultório. Vou começar amanhã — conta a psicóloga, animada, contextualizando o motivo de não estar voltada exclusivamente para a carreira musical. Vinte minutinhos depois, Emanuelle chega para as fotos de óculos escuros, dá um abraço apertado na sua “Bu” — apelido carinhoso da filha —, fala educadamente com todos e se prepara para a maquiagem. Durante a entrevista, a artista de mais de 30 anos de carreira é acompanhada por dois assessores. Fotos para revistas são parte de sua rotina há décadas, e, atualmente, a demanda aumentou por conta de trabalhos de grande repercussão, como a novela “Órfãos da terra” e a série “Samantha!”, da Netflix, além da carreira musical. À primeira vista, já dá para notar as diferentes personalidades: a mãe fala com exclamações e gestos largos; a filha procura as palavras certas e mantém sempre a voz baixa. O mais marcante na relação entre mãe, de 42 anos, e filha, de 25, no entanto, é o que as assemelha: a autonomia que conservam, sem deixar que afeto e intimidade se diluam. Numa metáfora musical, é como se antes elas fossem uma dupla inseparável que partiu para bem-sucedidas carreiras solo. — Eu sempre estimulei Bruna a ter independência. Sete anos atrás, sofri com o “ninho vazio” ao vê-la sair de casa aos 18 para morar com amigas... Aí percebi que esse desejo era fruto do jeito como ela foi criada. Isso também existia dentro de mim, com quase a mesma faixa etária. Só que eu saí com 20 anos, hein! Bem mais tarde — diz, aos risos. Emanuelle deixou a casa dos pais com a filha já em seus braços para se casar com o namorado, o economista Sérgio Bulhões. A estudante de teatro e então aluna do ensino médio foi mãe nova, assim como sua personagem Zuleika de “Órfãos da terra”. Ela deu à luz Bruna aos 17 anos, enfrentou surpresas e reagiu aos comentários machistas por gerar um bebê no início da juventude. — O julgamento vinha muito da convivência de escola. Uma adolescente grávida no colégio chama atenção e faz as pessoas comentarem de algum jeito. O que me fez ser mais blindada a tudo isso foi minha personalidade. Nunca deixei as impressões alheias me influenciarem. Sempre rola uma diferenciação quando uma menina aparece grávida na escola: “Nossa, a Manu, viu?!”. Mas sempre tive uma presença atuante, era líder de diretório acadêmico... As pessoas tinham um certo respeito por mim. E eu encarava a realidade: “Pois é! Estou grávida! Aconteceu, e a gente tem que se posicionar”. Eu dava um jeito de colocar isso como um posicionamento político — enfatiza. A atitude de coragem foi a mesma que a moveu para nunca deixar de lado seus anseios mais ousados. Daí vem a força para a artista concretizar os próprios sonhos sem titubear. A própria Bruna se surpreende: — É surreal viver isso. Eu não consigo nem imaginar se tivesse acontecido comigo: ter que se dedicar muito a uma outra vida. Ia ser um choque para mim na adolescência. E Emanuelle explica: — Sofri bullying, mas foi transformador viver essa experiência, porque a gravidez nunca me engessou. Sempre acreditei na liberdade da mulher, e o aborto não era um tabu, mas tive uma ligação com o bebê assim que descobri que estava grávida. Tive um ligação emocional imediata e muito rápido. É claro que o apoio da minha família e do pai contaram muito. Quando você é uma grávida adolescente, todo mundo acha que você precisa de ajuda. Também fui forte para dizer que ia criá-la do meu jeito: “Sei que sou jovem, mas ela vai seguir de acordo com o que posso dar”. A cantora levava a filha para as coxias do teatro, para apresentações musicais em que houvesse com quem deixá-la. Bruna detalha: — Eu me lembro de uma vez que minha mãe estava com uma peça em Salvador, e, no meio da cena, subi ao palco e fiquei chamando: “Mãe! Mãe!”. Eu tinha 5 anos e não sabia que ela estava ali representando! Todo mundo da plateia ficou rindo... Tinha uma babá que cuidava de mim e foi tentar me pegar. Foi uma bagunça só (risos)! Quando ela entrou na Banda Eva (Emanuelle substituiu Ivete Sangalo no fim dos anos 90), me levava para o trio. Confesso que eu não gostava muito. Ficava meio emburrada por estar tantas horas ali, com ela cantando. Hoje, compreendo que foi o jeito que se deu naquele momento. Ainda que alheia aos holofotes, Bruna herdou a paixão pela música. Na adolescência, escrevia letras, fez seis anos de piano, aprendeu a tocar violão e integrou a banda Zarapatéu, de canções regionais. Moradora da Zona Sul do Rio de Janeiro, ela se apresentou em casas de espetáculos locais, chegou a ser contratada pelo “Jovens tardes” (apresentações gratuitas em pontos turísticos da cidade) e, no segundo semestre de 2018, lançou o EP “O ar que tenho em mim” no Spotify. Em todos esses trabalhos, a pisciana decidiu nadar com os próprios braços. — As pessoas às vezes são meio cruéis com comparações, expectativas. É fogo! Eu nunca pretendi usar isso. Muita gente até disse que podia ser bom para a minha carreira, mas não quis explorar. Preferi separar o meu e o dela. Não sei se isso foi muito inteligente ou se acabou atrapalhando, mas tudo bem. Cada um tem seus processos, não fico comparando se seria melhor. O meio artístico tem algo em que sou péssima: ter que fazer networking, “estar na cena”, bancar uma onda. Sou péssima nisso. Atualmente, continuo amando música, e ela não foi interrompida para mim, mas estou muito feliz dedicada ao trabalho na psicologia. Quando estou ali, minha vida não interessa, e sim a do paciente. É um ofício de “backstage” (“por trás das câmeras”, da tradução do inglês). Fico em audição, não estou em destaque. Agora, prefiro isso. A música é um lugar de fala, e o trabalho de psicanalista, de escuta — justifica a jovem, formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, que pede a Emanuelle: — Você bem que podia dar uns cartões meus para os atores lá da Globo, hein, mãe! Bom astral, aparência física, determinação... Qualquer semelhança com Manu não é mera coincidência e pode ser fruto de um estudo mais aprofundado de sua árvore genealógica. A psicóloga explica: — Somos de uma família de mulheres que priorizam seus desejos próprios. Minha avó materna sempre correu muito atrás também (Noélia Borges é pós-doutora em Letras e acadêmica da Universidade Federal da Bahia). Nunca nos submetemos a regras sociais. Se estar num relacionamento afetivo significa desistir dos nossos sonhos, é melhor separar. [caption id="attachment_153682" align="alignleft" width="200"] Bruna Bulhões e Emanuelle Araújo Foto: Guilheme Lima/Designer floral: Lu Figueiredo[/caption] Bruna já namorou o ator Danilo Mesquita e foi casada informalmente (“Na verdade, morei junto”, diz). Hoje, vive com as gatas Harmona e Pandora. No meio da entrevista, ouve da mãe, namorada do músico e produtor musical Guilherme Monteiro, que não terá irmãos: a atriz espera netos. — Do jeito que está, está ótimo! Pensei várias vezes em ter mais filhos. Hoje, não quero mais, ó (a atriz bate na mesa de madeira)! Agora, mentalizo: “Daqui a pouco vou ser vovó”. Será, Bruna? — Não penso em maternidade, não faço planos. Nem estou num relacionamento! As coisas acontecem quando têm que acontecer — responde. Apesar da brincadeira, Emanuelle reforça que uma de suas exigências é não alimentar expectativas em relação à cria: — É perigoso demais fazer projeções. Hoje em dia, vivemos assim: Bruna já é adulta, eu estou voltando a morar sozinha, de fato vivendo minha liberdade. Brinco que, depois dos 40 anos, virei adolescente, sem, é claro, deixar de ser mãe. Porque as preocupações continuam, tenha ela 5, 25, 30 anos... Só que agora vem tudo com mais leveza. Créditos

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