Luciana Vendramini: "Na minha casa, nunca houve tabu para falar de sexo"

Aos 43 anos, atriz fala sobre novos trabalhos, rótulo de sex symbol e nega sentir o peso da idade: "A idade passou a ser apenas um número"

Aos 43 anos, Luciana Vendramini ainda é lembrada pela imagem de adolescente. Madura, dona de uma fala pausada e serena, a atriz mostra sua versatilidade ao produzir, escrever, criar. Partiu dela a ideia de criar o programa Elas, que apresenta no canal a cabo TCM, sobre as maiores divas brasileiras.

Em entrevista ao site de QUEM, Luciana, que ganhou visibilidade ao trabalhar com Xuxa e estrelar um falado ensaio para a Playboy em 1987, fala sobre o atual programa, comenta a ideia de falar sobre sexo em uma nova atração e abre o jogo sobre beleza, intervenções estéticas, ensaio nu e beijo gay. Sem fugir das polêmicas, a atriz mantém a tranquilidade, seja o assunto que for.

QUEM: Como surgiu a ideia de comandar o programa Elas? O que mais gosta na atração?

LUCIANA VENDRAMINI: O Elas é um programa que escrevi há cinco anos. Gosto muito de documentários e sentia falta falta de alguns com ícones brasileiros. Pesquisei 250 pessoas, desde aviadora até escrava negra que se tornou santa, mulheres realmente especiais. Esse era o mote. Escrevi o programa e formatei como eu queria. Não queria que fosse lento, queria uma linguagem mais ágil, poder contextualizar. O canal TCM quis fechar o acordo logo na primeira reunião ao apresentar o projeto. Queríamos um programa feminino, não um que fosse bobo.

QUEM: Você tem o projeto de apresentar um programa sobre sexo?
L.V.: A ideia surgiu a partir da falta de conteúdo comportamental. No Brasil, quase não há programas desse tipo. Vi o trabalho de um jornalista em um blog chamado Pau para qualquer obra. Escolhi vários textos dele. Fiz o piloto antes de oferecê-los às emissoras. Na produtora, criamos tudo em multiplataforma.

QUEM: Você se considera uma pessoa desenvolta para falar sobre o assunto?
L.V.: É um assunto que considero de extrema importância. No Brasil, existe tabu para falar sobre sexo. As pessoas falam mais sobre sexo no Carnaval. Sinto que as pessoas acham que no Carnaval tudo pode. No programa, o sexo é colocado sem preconceito, sem tabu, sem apelidinhos pros órgãos. O site tem muito humor e também esclarece. As pessoas estão amando.

Tenho uma beleza de mulher de verdade, nunca tive vontade de fazer alguma interferência no meu rosto"

Luciana Vendramini

QUEM: Sexo já foi tabu para você?
L.V.: Na minha casa, nunca houve tabu para falar de sexo. Minha mãe andava pelada pela casa, sem mistério. Todos os irmãos tomavam banho juntos. Era tipo índio. Minha família sempre lidou bem com a nudez. Na minha infância, tive informação, mas, claro, não era um papo para mesa de jantar. Tive muita amiga que não sabia de nada por falta desse diálogo em casa. Acredito que religião, sexo e trabalho precisam ser falados de uma maneira muito clara. É preciso explicar para que não se crie um trauma. Gosto de falar sobre comportamento. É preciso trazer esclarecimento.

QUEM: Este seu trabalho como produtora é diferente daquele que as pessoas estão acostumadas a te ver, como atriz. Tem saudade das novelas?
L.V.: Não parei de atuar. Mas acho muito gostoso ter uma outra forma de poder trabalhar. Eu gosto de papéis que fogem do meu padrão. Quase sempre faço o mesmo, o da loira, da bonitona.

QUEM: Seu último papel em Amor e Revolução (SBT, 2011) foi de uma mulher homossexual. Acha importante ter feito o beijo gay na novela?
L.V.: O personagem em Amor e Revolução foi importante para a sociedade. Amar não é pecado. Não importa quem você ama. E o bacana é que era uma novela das 11 da noite mostrava uma temática gay. Foi um trabalho bonito por esse aspecto. As pessoas se chocam mais com o amor entre duas mulheres do que com uma briga, uma cena de violência. Acho que foi um divisor de águas, sim, ter feito essa cena.

QUEM: De uns tempos pra cá, sua vida pessoal é mantida de uma maneira discreta. Foi uma decisão sua?
L.V.: Posso dizer que eu estou superbem, casada. A grande dificuldade das pessoas hoje em dia é lidar com os problemas cotidianos As pessoas chegam a se separar rapidamente por não conseguir lidar com questões do dia a dia. Na minha opinião, o mais importante hoje é conversar. Acho que as brigas são motivo de aprendizado. Tem que existir diálogo.

QUEM: Você nota que existe uma cobrança do público e da mídia para que você seja sempre um sex symbol?
L.V.: Esses rótulos são criados sem a gente saber. Tive esse título sem saber o que era um sex symbol. As pessoas veem uma mulher bonita e já rotulam. Sempre tem uma cobrança, mas não sou escrava disso. Sou uma mulher de verdade. Achei maravilhoso ver que a Preta Gil foi para capa de revistas. Ela é uma mulher brasileira, com curvas. As mulheres brasileiras não são secas.

QUEM: Você já passou por alguma cirurgia estética?
L.V.: Nunca fiz um botox, nunca fiz cirurgia. Já tive problemas com meu peito. Achava que era grande demais. Sei que não sou uma mulher magra-magérrima. Peso 56 quilos. Já estive um pouco acima do meu peso. Teve uma época que era mais magra e não me senti bem – isso quando eu tinha entre 18 e 22 anos. Tenho uma beleza de mulher de verdade, nunca tive vontade de fazer alguma interferência no meu rosto. Vejo algumas mulheres que fizeram e percebo que há plásticas que ficam bem feias.

QUEM: Em algum momento você já chegou a ficar chateada ao ver notas “Luciana Vendramini aparece mais cheinha”?
L.V.: Existe cobrança, mas sou feliz do jeito que sou. Nunca percebi um “você precisa ser mais magra”. Minha genética ajuda bastante. Na minha família, todo mundo é magro, normal.

QUEM: Existe alguma coisa que não consegue abrir mão de comer?
L.V.: Todo mundo tem o seu pecado – tem quem beba, tem quem fume – eu sou chocólatra. Trocaria um jantar por uma sobremesa. Me controlo. Sou uma formiguinha.

Nunca bebi, mas não acho isso uma virtude"

Luciana Vendramini

QUEM: Segue alguma dieta?
L.V.: Sou vegetariana. Não como carne vermelha há anos. Evito a lactose porque leite não é de fácil digestão para mim. Além disso, nunca bebi. Não é uma questão de esforço e sacrifício ficar sem álcool. Não gosto do gosto. As pessoas nem acreditam. Não acho isso uma virtude, queria até encarar um drink para descontrair, socializar, mas realmente não é a minha.

QUEM: A chegada aos 40 trouxe alguma mudança para você?
L.V.: Os 40 anos foram sentidos mais no psicológico do que no físico. Fiquei mais focada. Busquei aquilo que me dá mais prazer e deixei de adiar tanto as coisas. Quando a gente tem 20 anos, temos postura de deixar tudo mais pra frente. Hoje, sei mais do que não quero fazer. No começo da carreira, a gente nem sempre sabe. Não encontrei um lado negativo da idade. Passou a ser apenas um número. Na época da minha mãe e da minha avó era um peso. Mas, atualmente, vejo que a idade traz maturidade.

QUEM: Você já declarou que não tem a intenção de voltar a posar nua. O que faria mudar de opinião?
L.V.: Como posei muito jovem, não tinha muita certeza que do que estava fazendo. Ficava muito tímida durante as fotos. Hoje, encararia muito melhor. Não teria mais vergonha, mas não me imagino. Achei bárbaro a Kate Moss ter posado nua aos 40 anos. O Brasil tem estigma. Temos que evoluir nesse sentido. Senti isso quando abordei as mulheres das pornochanchadas para o programa Elas. Nosso país, profissionalmente, cria estigmas e congela.

QUEM: Se recebesse uma proposta milionária não chegaria a cogitar a possibilidade de um novo ensaio?
L.V.: Proposta milionária? Milionária nunca é. As pessoas falam que foi por cachê que posaram, mas as cifras nunca são assim tão altas. Até tive propostas, mas minha ligação com o dinheiro é bem esquisita. Minha relação com ele não está nas cifras.

QUEM: Para finalizar, uma curiosidade: é verdade que você dublou o Power Ranger amarelo como diz a sua Wikipédia?
L.V.: Nunca!!! Não mesmo (risos). É cada uma que escrevem...