Iguatu A seca que atinge o sertão do Ceará desde o ano passado tem provocado estragos não apenas na bovinocultura de leite e de corte, mas no rebanho ovino e caprino. Apesar de serem animais mais rústicos e resistentes para enfrentar períodos de estiagem, o setor sofre com a falta de alimentação, perda de peso e de produção de leite. A agricultura familiar é afetada diretamente, pois a maioria é formada por pequenos criadores.
Ainda não se pode falar em mortandade, mas evidenciam-se nas áreas de criação, as dificuldades para alimentar com ração os animais de pequeno porte. "A situação é preocupante para todos os produtores rurais", observa o presidente da Associação de Caprinos Leiteiros do Ceará (Caprileice), Daniel Pimentel. "A ampla maioria dos criadores não tem reserva alimentar e nem sistema de irrigação para produção de forragem".
O próprio Pimentel é vítima da cultura do criador nordestino, que fica a cada ano esperando pela chuva que Deus dará. "A minha produção de capim é de sequeiro (que depende da chuva)", contou. "Só agora diante das dificuldades vou implantar uma área irrigada de um hectare para produção de forragem".
O rebanho caprino (cabra e bode) tem maior resistência e enfrenta longos períodos de estiagem, alimentando-se de folhagem. São animais que enfrentam obstáculos, sobem em árvores e encontram comida mesmo na seca, qualquer tipo de rama. Já os ovinos (carneiros e ovelhas) apresentam menor resistência em comparação com os cabritos. De acordo com Pimentel, a produção de leite de cabra no Ceará registrou pequena variação negativa, de 137 mil litros em 2011 para 125 mil litros em 2012. "Se persistir a seca, neste ano, a queda será mais acentuada", estima. "No meu caso particular, na minha área, a produção foi reduzida em 30%".
Na feira semanal realizada em Quixadá, um dos principais entrepostos de comercialização do Interior do Ceará, o preço do quilo/vivo de ovino caiu de R$ 6,00 para R$ 4,00. "Houve uma redução de quase 40% e muitos criadores estão vendendo por qualquer preço em decorrência da dificuldade de alimentação. Recentemente, caprinos foram vendidos por R$ 100,00 por cabeça, quando deveria ser pelo menos de R$ 150,00".
A produção de leite e de carne de caprino e ovino no Ceará anda longe de atender a demanda local. "A produção não abastece o mercado da Capital e falta qualidade para a exigência do consumo moderno", observou Pimentel. Questões culturais ao longo dos anos forjaram uma resistência entre os criadores e a grande maioria prefere a bovinocultura à ovinocaprinocultura, que sofre preconceito.
O semiárido tem amplas áreas propícias à criação de ovinos e caprinos. Numa área de um hectare é possível criar 50 cabeças. A alimentação de um bovino atende a necessidade de dez cabritos ou carneiros. "Falta incentivo por parte do governo estadual. Havia uma ideia de difusão, mas o projeto não saiu do papel", criticou Pimentel.
Em 2009, quando foi implantado o programa de fomento à caprinocultura leiteira para aquisição e distribuição de leite com famílias pobres, o Ceará pagava por um litro do produto R$ 1,20. "Três anos depois o preço é o mesmo. Em outros estados varia entre R$ 1,55 a R$ 1,80 (o litro de leite de cabra)".
No período, o preço dos insumos subiu consideravelmente. A saca de 60 quilos de milho é vendida por R$ 55,00 e a de soja de 50 kg por R$ 78,00. Resultado: o preço do leite e da carne não cobre a despesa de produção.
A reclamação dos produtores rurais é geral. A seca traz perda de renda para os pequenos produtores e afeta a alimentação do núcleo da agricultura familiar, pois os animais estão magros. Neste período, não há possibilidade de difusão da atividade.
Em Acopiara, a atividade registrou crescimento na década de 2000 a 2010, graças ao associativismo e aos recursos liberados pelo programa Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS), do Banco do Brasil.
Mais informações
Associação de Caprinos
Leiteiros do Ceará
(85) 9984. 8322/ (85) 8699. 8322
HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER
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