Dólar e Bolsa são piores investimentos de janeiro; renda fixa lidera ganho
CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO
De uma só vez, a Bolsa e o dólar foram os piores investimentos do mês de janeiro no Brasil, enquanto os fundos de renda fixa lideraram os ganhos no período.
A moeda americana caiu 2,84% no mês (sendo 0,09% de baixa nesta quinta-feira,31), para R$ 1,986 no mercado à vista para venda. E o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, teve desvalorização acumulada de 1,95% no mês (com alta de 0,72% no dia), para 59.761 pontos.
Já os fundos de renda fixa tiveram rentabilidade líquida estimada de 0,72% no mês, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que computam valores até o dia 28.
A desconfiança em relação à retomada do crescimento econômico do país afugenta investidores do mercado acionário doméstico, que ainda não consegue acompanhar a recuperação das Bolsas internacionais.
Ao mesmo tempo, intervenções constantes do Banco Central no mercado de câmbio impedem o dólar de ultrapassar os R$ 2.
É um cenário atípico no mercado financeiro. Em geral, quando a Bolsa cai, esse movimento vem acompanhado de uma alta do dólar, pois reflete a saída de investidores estrangeiros --e, por consequência, de dólares-- do mercado local, o que empurra o preço da moeda americana para cima.
Os estrangeiros são responsáveis por boa parte do volume negociado na Bolsa. Representaram cerca de 40% em 2012.
A atuação do BC no mercado cambial, no entanto, com leilões de contratos de "swap" cambial (que equivalem à venda de dólares no mercado futuro) e de linhas de crédito em moeda estrangeira, reforçou entre os investidores a percepção de que a autoridade monetária não deve deixar o dólar subir.
Com isso, ganharam força as apostas na desvalorização da moeda americana, o que empurrou para baixo as cotações
"Com juro baixo e preocupações com a inflação, o câmbio é a bola da vez como ferramenta do BC para conter o aumento de preços", diz Fabio Colombo, administrador de investimentos.
Com o dólar mais baixo, fica mais barato, em reais, para os brasileiros comprarem produtos importados, o que alivia a pressão inflacionária.
Quanto à Bolsa, Colombo destaca que as incertezas em relação ao ritmo de expansão econômica, ao corte nas tarifas de energia --que prejudica o desempenho financeiro das empresas do setor--, e mesmo o problema do aumento do combustível --que, embora tenha ocorrido e pressione a inflação, não foi suficiente para fechar as contas da Petrobras-- ainda devem pesar por um período.
"Em algum momento isso vai se reverter, mas é difícil dizer quando. Como as ações estão baratas, pode ser uma boa oportunidade para entrar na Bolsa, mas é preciso ter no horizonte um prazo mais longo para o dinheiro investido", afirma o especialista.
"O ideal é pensar em pelo menos três anos. Não que a Bolsa não possa se recuperar antes, mas esse é um prazo confortável para o investimento em ações", acrescenta.
RENDA FIXA
Os fundos de renda fixa aplicam em ativos como títulos públicos (com mínimo exigido de 80% da carteira total) e de empresas, admitindo-se estratégias que impliquem risco de juros e de índice de preços do mercado doméstico (como o IPCA, índice de inflação usado pelo governo para definir a política de juros).
A poupança nova (com aniversário em 1º de fevereiro) teve rendimento líquido de 0,41%.
Luiz Sorge, diretor Anbima, destaca, no entanto, que o ambiente atual de juros baixos é um "divisor de águas" para o segmento de renda fixa.
"Acabou o cenário de alta rentabilidade, baixo risco e alta liquidez. Para ter ganhos destacados daqui para a frente, é preciso um gestor qualificado", afirma.
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