Industriais do CE buscam materiais alternativos

Diante das dificuldades sofridas pela indústria no ano passado, a busca por criar produtos com valor agregado tem sido a meta para alcançar a expectativa de crescimento positivo. A estilista Vânia Borges, da Sagian Acessórios - indústria de calçados de Juazeiro do Norte - destaca que, neste ano, é esperado um crescimento nas vendas de pelo menos 10%. Para alcançar o objetivo, ela diz que é necessário sempre buscar materiais diferenciados fora do Estado antes de iniciar as coleções.

Assim como Vânia, o designer Jânio Cândido Júnior, da Belle De Jour Acessórios - também de Juazeiro do Norte - teve que ir a São Paulo para fazer contatos com fornecedores de materiais para a produção de bolsas. A ideia é já se preparar para o verão de 2014. "A gente sai da zona de conforto e procura uma coisa diferente para levar, agregar valor e ter um produto exclusivo na região", comenta. Segundo ele, é um desafio grande para as empresas do Nordeste conseguir materiais e se antecipar na produção das estações seguintes.

"A dificuldade é encontrar um produto diferenciado que não tem na região. A gente fica limitado a fazer certos trabalhos e tem que vir buscar em São Paulo. Se não, o seu produto, quando estiver pronto e chegar no mercado, vai estar defasado", destaca Jânio.

Vânia diz que, apesar dos materiais do Sul e Sudeste normalmente terem um custo maior, o investimento reflete no sucesso das vendas, pois o produto passa a ser exclusivo. Outra dificuldade encontrada é conseguir fechar negócio com empresas que tenham representantes e que disponibilizem transporte do material comprado até o Ceará.

O designer Jânio Cândido Júnior e a estilista Vânia Borges participaram de eventos do setor para conhecer as tendências para 2014

Os dois concordam que um dos maiores problemas do setor, no Nordeste, é o grande atraso na chegada das tendências, já que há uma dificuldade de acesso aos materiais para iniciar a produção das coleções. "Não existe uma receita para fazer e vender. Se existisse, todos venderiam. O importante é nortear a coleção e saber que vai funcionar, sem tirar algo solto da sua cabeça", diz o designer.

Para a coleção do verão de 2014, os dois participaram da 7ª edição do Inspiramais Salão de Design e Inovação dos Componentes, que ocorreu em São Paulo nos dias 16 e 17 deste mês. No evento, produtores de componentes, que são os materiais para a indústria - principalmente calçadista e têxtil - estiveram presentes com o intuito de realizar negócios e mostrar as tendências de moda para o início do próximo ano. A exposição das tendência inspiram os produtores na elaboração das coleções.

Indústria de componentes

Afetada pela retração no setor calçadista, a indústria de componentes para couros, calçados e artefatos teve uma queda de 3,4% em 2012. Por conta das perdas, a expectativa é que este ano tenha uma recuperação, com aumento entre 4% e 5% em relação a 2012, diz o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Marcelo Nicolau.

Das 2.785 empresas de componentes, apenas 5% está no Nordeste, com 48 no Ceará, representando 1,72% de todo o País. Diante da pequena atuação do Estado no setor, as fábricas locais ainda têm dificuldade em conseguir se atualizar diante do mercado - já que é a indústria de componentes que antecipa os lançamentos. No setor, 25% das empresas estão na região do Vale dos Sinos, em Porto Alegre, 14% em São Paulo e 10% em Franca, no interior de São Paulo.

Mesmo com uma pequena representação no setor de componentes, o Nordeste é visto pelo presidente como "a região onde os produtores planejam instalar unidades". Contudo, ele reconhece que a movimentação industrial está estabilizada, não conseguindo visualizar atualmente uma expansão intensa - já que normalmente esse tipo de empresa segue uma demanda das indústrias de calçados.

"O Nordeste tem um crescimento acima da média do Brasil e é um mercado estratégico para todas as empresas. Com o passar do tempo, elas pensam em ter uma produção não região, mas acredito que não será agora. Quem tem empresa no Brasil já olha o Nordeste com outros olhos", conclui.

GABRIELA RAMOS
REPÓRTER
A repórter viajou a São Paulo a convite da Assintecal

Participação

48 é o número de empresas de componentes no Ceará, representando 1,72% no País