CE - Agricultores fortalecem o setor da produção familiar

Limoeiro do Norte Diante da expansão da agricultura irrigada e da produção de alimentos em larga escala, a agricultura familiar continua sendo responsável por boa parte da segurança alimentar em todo o País, como importante fornecedora de alimentos para o consumo interno. Diante da procura, muitos dos pequenos produtores, aos poucos, estão modernizando as pequenas produções familiares e, com isso, passando a elevar a fabricação dos alimentos em maior quantidade.

Moradores da comunidade do Arraial, zona rural deste município, vivem quase que integralmente da agricultura. Culturas de época como o milho e o feijão, pastagem, horta e criação de bovinos são as atividades financeiras das famílias locais. A produção de queijo e doces por algumas famílias tem se destacado na comunidade, como é o caso da agricultora Arnóbia Galiza, de 37 anos, que aos poucos montou uma pequena queijeira no quintal de casa.

Ela conta que em 2007 recebeu incentivo do então coordenador do Instituto Agropólos, Silva Filho, para realizar cursos na área de laticínios. Quatro anos depois, em 2011, começou a pequena produção em sua casa. "No começo tive muitos prejuízos porque eu não sabia como preparar a receita corretamente, perdi muito leite e minhas primeiras produções eram de 1kg de queijo por dia", relembra. Sem condições de possuir os equipamentos necessários para a produção, Galiza conta que conseguia o material emprestado de alguns laticínios na região.

Aos poucos, com a melhoria das técnicas a produção foi crescendo gradativamente. Galiza foi investindo em equipamentos e na melhoria do espaço de acordo com as determinações da vigilância sanitária. Da produção de queijo veio à diversificação dos produtos, como achocolatado, iogurte e vários outros tipos de queijo. A agricultora possuía um pequeno rebanho bovino do qual retirava a matéria-prima. Porém, com a forte estiagem do último ano, ela teve que vender tudo para amenizar os prejuízos. Mesmo assim, a produção dos queijos e derivados não parou, a agricultora possui atualmente 17 fornecedores de leite, dois da própria comunidade, que auxiliam no processamento dos cerca de 800 litros de leite por dia.

Mercado interno

Seu pequeno laticínio, "Mão na Massa", fornece queijo para o mercado interno e para outras cidades. Galiza possui 32 clientes, em sua maioria mercadinhos e supermercados. A expansão das vendas do produto se deu por conta do selo Agricultura 100% Familiar, que ela conquistou ano passado. O Selo foi criado pela Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), em parceria com o Instituto Agropólos, como forma de dar mais visibilidade aos produtos de pequenos produtores, de forma que possam ter seu lugar nas prateleiras dos supermercados e que possam ser vendidos a órgãos do governo.

A modernidade da produção também foi necessária para o agricultor Francisco Eli, de 51 anos, morador do Distrito de Flores, no município de Russas. Há cerca de dois anos, Francisco tinha uma pequena processadora de frutas para a venda da poupa. A ideia veio já do seu pequeno pomar que ele mantém há cinco anos. Com acesso ao crédito do Banco do Nordeste, o agricultor montou a estrutura e comprou máquinas para realizar o trabalho. Ele e a esposa cuidam sozinhos da produção e embalagem de cerca de 200Kg de polpa por dia. O investimento tem dado retorno positivo ao agricultor. Com o que ganha da venda da poupa eles têm conseguido pagar o empréstimo e comprar frutas de outros fornecedores para diversificar a produção.

A goiaba ele compra de produtores do Perímetro Irrigado Tabuleiro de Russas e o abacaxi vem do Rio Grande do Norte. Além deste, ele também processa acerola, manga, tamarindo e cajarana. De acordo com Francisco, a atual estrutura não tem atendido a quantidade de pedidos, que vem crescendo.

"Eu já estou precisando comprar uma outra empacotadeira mais rápida, aumentar a estrutura e contratar alguém para ajudar, tenho negado alguns pedidos porque a minha produção ainda é pequena", afirma.

Há seis meses Francisco tenta conseguir o selo da agricultura familiar para a Docepolpa, marca registrada pelo produtor. Com isso, ele garante que haverá mais espaço no mercado para seu produto. "Eu preciso desse selo para vender as poupas para a merenda escolar", explica.

Os alimentos da agricultura familiar são alternativas mais saudáveis, em sua maioria 100% orgânicos ou com utilização mínima de agrotóxico. Em quantidade por famílias, a produção ainda é limitada devido à falta de recursos e acesso às tecnologias mais avançadas de produção. Mesmo assim, de acordo com o senso agropecuário de 2006, o ciclo produtivo da agricultura familiar ocupa 84,4% dos estabelecimentos agropecuários em todo o País, empregando 12,3 milhões de pessoas.

A produção direta para o mercado consumidor é crescente no setor de hortifruti. Frutas e legumes produzidos por pequenos agricultores preenchem as prateleiras dos mercados locais. Um exemplo é o agricultor Cosmo Germano, de Limoeiro do norte, cultiva há cinco anos alface e cheiro verde.

Ciclo beneficia comunidades inteiras

Limoeiro do Norte A cadeia de produção da agricultura familiar envolve vários produtores. Dos que fornecem à matéria-prima aos que transformam em alimento derivado, o ciclo produtivo beneficia comunidades inteiras de agricultores. Nessa perspectiva, o homem do campo ainda vê mais alternativas no trabalho rural.

Uma das empresas de produtor familiar é de polpa de frutas (Docepolpa), do agricultor Francisco Eli, de 51 anos, de Russas

Para pequenos produtores produzir para alimentar centenas de pessoas ainda é um desafio, ainda mais diante da valorização da agricultura irrigada. Só no Baixo Jaguaribe concentram-se os dois maiores perímetros irrigados do Estado (Jaguaribe/Apodi e Tabuleiro de Russas). Neste cenário, a atuação da agricultura familiar na região, em especial nas comunidades agrícolas do município Limoeiro do Norte, tem conseguido manter-se, ainda que imperceptível, na mesa da população.

O município está localizado na região que possui a maior bacia leiteira do Estado. O leite produzido aqui vai em grande parte para a produção de queijos e derivados e para a mesa da população, in natura. Segundo o Censo Agropecuário de 2006 só aqui, em um ano, foram produzidos pouco mais de oito mil litros de leite de vaca, em sua grande parte oriunda da agricultura familiar. Mesmo com a forte seca do último ano, alguns produtores conseguiram salvar o rebanho e mantiveram a produção.

Trabalho

Um destes produtores é Elias Ferreira, de 72 anos. Há dez anos é aposentado, no entanto, ainda faz questão de ir à roça todos os dias. Morador do Sítio Ilha, zona rural deste município, de lá saem todos os dias cerca de 120 litros de leite para o laticínio "Mão na Massa".

Ele conta que, mesmo com dificuldades, a agricultura possui uma boa renda para a família, mas com muito trabalho. "Já trabalhei em firma durante vários anos, mas não tem como esse trabalho. Estou em cima do que é meu, tenho meu horário e vendo minha produção de leite mesmo sendo pouca, quando chove eu planto e se não chove a gente vai dando um jeito", conta o agricultor, contente com o resultado do trabalho.

ELLEN FREITAS
COLABORADORA