BYD anuncia início da produção no Brasil e promete sistema de recarga ultrarrápida
A capacidade produtiva inicial será de 150 mil carros por ano, podendo chegar a 300 mil.
Complexo industrial em Camaçari (BA) da montadora chinesa BYD — Foto: Guilherme Muniz/CBN
Complexo industrial em Camaçari, na Bahia, ainda está em obras. Ele vai produzir três modelos diferentes, mas ainda tem áreas embargadas em meio a investigações de tráfico humano e trabalho análogo à escravidão
Por Guilherme Muniz - — Camaçari - 01/07/2025
A montadora chinesa BYD anunciou, nesta terça-feira o início da produção local de carros eletrifi-cados. E prometeu que o Brasil será o primeiro país das Américas a receber um sistema de recarga ultrarrápida que começa a ser instalado na China.
A fábrica ocupa o terreno utilizado até 2021 pela Ford para produzir carros em Camaçari, na Bahia. Os anúncios foram feitos no primeiro e único galpão pronto até agora, nesta terça-feira. Es-vaziado de autoridades, o evento contou apenas com a presença do governador Jerônimo Rodri-gues e da ministra da cultura, Margareth Menezes.
A CEO da BYD Américas e Europa, Stella Li, disse que a fábrica será a maior da empresa fora da Ásia. A capacidade produtiva inicial será de 150 mil carros por ano, podendo chegar a 300 mil.
O local tem atualmente 156 mil metros quadrados e ficará responsável, apenas, por montar kits de peças de carros que virão pré-fabricados da China. A BYD disse ter iniciado a qualificação de 106 empresas brasileiras de autopeças.
A nacionalização da produção é ponto central, porque é cobrado da Anfavea, a associação que reúne as montadoras com fabricação nacional, bem como da indústria de autopeças e especialistas do setor.
O vice-presidente sênior Alexandre Baldy disse que o local representa um marco para a indústria e cutucou as empresas que criticam o modelo inicial de produção da BYD.
“A velha indústria não está inquieta a toa. Está inquieta e hoje perceberá que viemos aqui não para montagem de cena. Ela pode se tornar cada dia mais inquieta por todo o Brasil. Não é só pra montagem de carro, mas produção nacional, geração e desenvolvimento no Brasil com cadeia produtiva.”
Apesar de prometer chegar à produção completa no Brasil, ainda não há data para isso.
O consultor Milad Kalume Neto destaca que o início da fabricação local representa um marco im-portante para as montadoras chinesas, mas pondera que seria importante ter uma transferência tecnológica maior, com produção de baterias em solo nacional.
“A grande questão é que a transferência de tecnologia deveria ocorrer e, principalmente, na questão das baterias. Mas se a gente olhar sobre o aspecto atual, a Toyota também importa absolutamente todas as baterias. Tem que haver a produção local de acordo com o volume de vendas.”
Apesar de estar anunciando o início dos trabalhos na nova fábrica, a BYD vai começar montando carros nos modelos CKD e SKD - quando a empresa importa kits de peças e apenas, literalmente, monta o carro. Esse modelo tem baixo índice de nacionalização de peças e requer mão de obra menos qualificada.
Por isso, está sujeita a tarifas que variam de 5 a 20%. Recentemente, a BYD encampou junto ao governo federal uma redução dessas tarifas para 5% para elétricos e 10% para os híbridos.
Cassio Pagliarini, sócio da consultoria Bright Consulting, destaca que essa redução de impostos não seria benéfica para a economia brasileira:
“Beneficia a quem tem fabricação no exterior, tem capacidade de exportação e baixaria provavelmente os custos dele aqui no Brasil. Não é algo benéfico nem para o governo brasileiro, nem para os brasileiros em si - porque perdem empregos que poderiam ser localizados aqui, estão localizados na planta de produção - e nem para as montadoras que estão trabalhando segundo as regras que estão definidas aqui.”
O anúncio é feito exatamente no dia em que ficará mais caro, mais uma vez, para as montadoras importarem veículos eletrificados ao Brasil. O imposto de importação dos carros híbridos subiu de 25 para 30%, a dos híbridos plug-in foi de 20 para 28% e a dos elétricos subiu de 18 para 25%. A medida tem como objetivo incentivar os investimentos para produção local.
*O repórter Guilherme Muniz viajou para Camaçari a convite da BYD
https://cbn.globo.com/economia/noticia/2025/07/01/byd-anuncia-inicio-da-producao-no-brasil-e-promete-sistema-de-recarga-ultrarrapida.ghtml




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