Mantega admite 'surpresa' com desempenho do setor de serviços

Ministro reconhece que resultado do PIB veio aquém do esperado.

Darlan AlvarengaDo G1, em São Paulo

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou nesta sexta-feira (30) que a surpresa no resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no 3º trimestre ficou em relação ao desempenho do setor de serviços.

"A surpresa foi com o desempenho do setor de serviços, é bom lembrar que o setor de serviços representa mais de 60% do PIB", disse, destacando que o setor teve crescimento zero no período. “Embora o comércio esteja indo bem, não atentamos para o peso e para o resultado da intermediação financeira”.

 “O comércio cresceu 0,4%, o que puxou para baixo foi as transações financeiras, a intermediação financeira, que teve um desempenho negativo no trimestre de 1,3%”, destacou, afirmando que a atividade tem um peso de 6,3% do PIB.

Segundo Mantega, a queda na intermediação financeira é explicada pela menor liberação de crédito dos bancos e pela redução do spread. ”Faltou crédito, faltou compensar a queda das taxas de juros por um volume maior de crédito para que essa taxa fosse positiva”, avaliou.

Nesta sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a economia brasileira cresceu 0,6% no terceiro trimestre deste ano, na comparação com os três meses anteriores.

O ministro reconheceu que o resultado não veio dentro do esperado, mas avaliou que a economia continua em trajetória de crescimento, o que garantirá um resultado melhor no 4º trimestre.

"Não foi tão alto como esperávamos e como todo mundo esperava", afirmou, lembrando que nenhuma das principais análises do mercado esperava um PIB menor que 1%.

“Temos aqui [no Brasil] 40 institutos, digamos 40 consultorias que fazem essa análise, e ninguém acertou. Acho que todo mundo se descuidou do setor de serviços”, afirmou o ministro.

"Não foi o que todos esperávamos, mas já foi melhor [que o trimestre anterior]", disse, reafirmando que o governo mantém a previsão de crescimento em torno de 4% em 2013.

"O que puxou para baixo foram as transações financeiras", disse, lembrando que a atividade representa cerca de 6,3% do PIB. "Isso é explicado pela menor liberação de crédito dos bancos e pela redução do spread", afirmou. "Faltou crédito. Faltou compensar a queda de juros com um volume maior de crédito", completou.

Satisfeito?
Questionado se tinha ficado satisfeito com o resultado do PIB, o ministro se esquivou, preferindo dizer que está satisfeito com a reação da economia brasileira.

“Claro que eu ficaria mais satisfeito se tivéssemos atingido essas previsões que todos fizeram”, disse. "Estou satisfeito com a reação da economia brasileira. Esse resultado não mostra toda a reação, porque isso foi apenas o terceiro trimestre... Estou satisfeito com a melhoria da confiança dos empresários de todos os setores", disse, acrescentando ainda estar satisfeito com o aumento do consumo de cimento, de papelão ondulado, caminhões e veículos.
“É claro que esse resultado poderia ter sido melhor. Mas temos que olhar para o que está acontecendo hoje na economia brasileira, que é um movimento difuso, de recuperação de todos os setores", afirmou. Segundo ele, a indústria – que tinha mais dificuldades – já está conseguindo se recuperar, e o setor de bens de capitais também está melhorando.

"Portanto, mantenho as minhas provisões. No 4º trimestre deveremos ter algo em torno de 1% e, no ano que vem, a economia estará numa trajetória de 4% do crescimento do PIB.”

Mantega disse que ainda não conversou com a presidente Dilma Rousseff sobre o resultado do PIB. “Eu enviei para a presidente o relatório que nós fizemos, mas eu não falei com ela”, disse. “Nós costumamos falar todo dia. Vamos falar ainda hoje”, explicou.

Setores
Em valores correntes, o PIB alcançou R$ 1,0983 trilhão. Frente ao terceiro trimestre de 2011, o PIB mostrou expansão de 0,9%.

Entre os setores do PIB, o maior crescimento foi registrado pela agropecuária, com alta de 2,5% na comparação com o período de abril a junho – menor, no entanto, que a alta de 6,8% vista no trimestre anterior.

Na indústria houve aumento de 1,1% – a maior expansão desde o segundo trimestre de 2010, quando a alta fora de 2,1% –, puxado pela indústria de transformação, que se expandiu em 1,5%, e pela construção civil (0,3%). As demais atividades caíram: extrativa mineral (-0,4%) e eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (-0,5%).

Os serviços, por sua vez, registraram taxa de variação nula, no pior resultado em quatro trimestres. Houve alta nos serviços de informação (0,5%), comércio (0,4%), atividades imobiliárias e aluguel (0,4%) e outros serviços (0,3%). Administração, saúde e educação pública (0,1%) e transporte, armazenagem e correio (-0,1%) ficaram estáveis.