Câmbio se desvalorizou e está em 'outro patamar', diz Banco Central

Ele citou a necessidade de 'defender' o real frente à alta liquidez mundial.

Alexandro MartelloDo G1, em Brasília

O dólar ganhou valor frente ao real nas últimas semanas e, atualmente, já se encontra em "outro patamar", o que ajuda na evolução da indústria brasileira, segundo avaliação feita nesta quinta-feira (22) pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, durante audiência pública na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional.

(Inicialmente, a reportagem foi publicada com o título: "Dólar se desvalorizou e está em 'outro patamar', diz Banco Central". O título foi corrigido às 16h)

"O câmbio se desvalorizou e está em outro patamar e isso ajuda no processo de evolução da indústria", disse ele. Tombini lembrou que o dólar ganhou valor frente a várias moedas nas últimas semanas. "Não foi diferente no Brasil", acrescentou ele. 

Um valor mais alto para o dólar gera melhores condições de competitividade para as empresas brasileiras, uma vez que suas exportações ficam mais baratas. As compras do exterior, por sua vez, também ficam mais caras. Um dólar mais alto, entretanto, também pode gerar mais pressões inflacionárias. 

"Há sempre a necessidade de nos defendemos em um mundo no qual as condições de liquidez são diferentes de anos anteriores. Os bancos centrais estão tentando políticas nunca antes tentadas [como o 'quantitative easing' nos EUA, com injeção de recursos nos mercados]. O custo do dinheiro está muito baixo no mundo. Se não tivermos cuidado, podem entrar no país [baixando o dólar] e saír rapidamente deixando uma trilha de problemas como o registrado no passado", declarou Tombini.

'Câmbio flutuante'
Apesar das intervenções feitas pela autoridade monetária no decorrer deste ano para impedir uma queda do dólar, e da ausência de atuações para evitar a alta da moeda nas últimas semanas, o presidente do BC disse que não há um objetivo para a taxa de câmbio.

"O que tenho dito é que não temos qualquer objetivo de câmbio. Estamos no regime de câmbio flutuante, mas sempre tomaremos precauções para evitar que o nosso mercado seja uma praça de desvalorização [com queda do dólar, que prejudica a indústria brasileira]. Isso temos feito. São precauções para que o real nao vire moeda de valorização muito além de seus fundamentos", declarou o presidente do BC.

Intervenções temporárias no fim do ano
Tombini lembrou que tradicionalmente há uma "oferta menor de dólares" no fim de cada ano, que tende a se reverter assim que o ano novo tem início. "O BC está pronto para intervir no mercado e fazer com que ele funcione dentro da normalidade. No final do ano, tradicionalmente há uma oferta menor de dólares e demanda maior, que tende históricamente a se reverter no início do ano. Se preciso for, interviremos na provisão temporária de liquidez no fim do ano [vendendo dólares]", explicou ele.

Comportamento do dólar nos últimos dias
Perto das 9h30 (horário de Brasília), a moeda norte-americana tinha discreta queda de 0,01%, cotada a R$ 2,0950 para a venda.

Na quarta-feira, o dólar fechou em alta de 0,68%, a R$ 2,0952 na venda, mantendo-se no maior nível de fechamento desde o dia 15 de maio de 2009, quando ficou em R$ 2,109 reais.

O dólar se encontra no maior patamar em três anos e meio desde o dia 16, quando fechou cotado a cotada a R$ 2,0818.

Política cambial brasileira
Teoricamente, a política de câmbio do Brasil é chamada de "flutuante", pela qual o preço da moeda norte-americana oscilaria de acordo com os fluxos de entrada e saída de dólares do Brasil.

Entretanto, o governo tem estabelecido, informalmente, o dólar um pouco acima de R$ 2 e, mais recentemente, não tem atuado para conter uma elevação maior do dólar, que já opera acima de R$ 2,05 há alguns dias.

Para controlar o preço do dólar, o governo tem uma série de instrumentos. Além das compras e vendas de dólares no mercado à vista, o BC também pode operar no mercado futuro (por meio das operações de "swap" cambial tradicionais e reversas).

O Ministério da Fazenda, por sua vez, pode utilizar as alíquotas do IOF para tentar controlar o ingresso de divisas no país – assim como foi feito no passado recente.