Consignado do Auxílio Brasil tem juros mais altos que média de outras modalidades de empréstimo pessoal
Em números, quem quisesse pegar R$ 2 mil emprestados pelo consignado do Auxílio pagaria, paga R$ 973,36 só de juros.
Por Thaís Matos, g1
Auxílio Brasil — Foto: Júlio Dutra/Ministério da Cidadania
Pelas taxas máximas do consignado do Auxílio na Caixa Econômica Federal, um empréstimo de R$ 2 mil resultaria em uma dívida a ser paga de R$ 2.973,36 ao final de dois anos.
O empréstimo consignado do Auxílio Brasil tem taxa de juros mais alta que a média de outras modalidades de empréstimo pessoal, segundo dados disponibilizados pelo Banco Central do Brasil.
A máxima dos juros na linha de crédito é de 3,5% ao mês, taxa maior que diversas opções de empréstimo a que o beneficiário poderia ter acesso em bancos privados e financeiras, em linhas que não travam o recebimento do Auxílio.
O g1 usou as taxas de juros médias mais recentes disponibilizadas pelo BC e comparou com a taxa do consignado do Auxílio ofertada pela Caixa para o mesmo valor de empréstimo e a mesma quantidade de parcelas.
No banco público, a taxa máxima para quem pega o consignado pela Caixa é de 3,45% ao mês. A Caixa não explica se faz análise de crédito individual para baixar os juros mensais, por isso foi adotado o máximo.
Com isso, a reportagem utilizou a calculadora de financiamento do BC para calcular o valor mensal da parcela, o montante total pago e os juros que incidiram sobre a operação, para comparar não só as taxas, mas também a quantia de dinheiro que o beneficiário efetivamente pagaria a mais.
As comparações levam em conta apenas a taxa de juros nominal. Para analisar com precisão uma proposta de empréstimo, a recomendação é requisitar ao banco ou à financeira o Custo Efetivo Total daquele crédito.
O CET, como é chamado, leva em conta não só a taxa de juros, mas outras tarifas que entram no pacote, como IOF (Imposto sobre Operação Financeira), taxa de abertura de contas, entre outras.
Outro ponto é que instituições financeiras privadas fazem análise de crédito dos clientes antes de conceder os empréstimos. Para um tomador de empréstimo com histórico ruim, por exemplo, as taxas podem subir bastante.
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Comparação com outros consignados
Lembrando que os cálculos foram feitos com base na taxa de 3,45% ao mês, máxima cobrada pela Caixa Econômica Federal. Os juros, neste caso, são maiores do que a taxa média que todos os bancos oferecem para aposentados e pensionistas do INSS, que vai de 1,30% a 2,18% ao mês.
Também é maior do que as taxas médias da categoria "consignado público" (para funcionários públicos), oferecidas por 37 das 40 instituições listadas pelo BC. Elas vão de 1,06% a 4,35%, mas só 3 são maiores que a taxa do consignado do Auxílio na Caixa.
Já na modalidade "consignado privado" (para trabalhadores com carteira assinada da iniciativa privada), a taxa da Caixa é maior do que a média de 45 das 51 instituições listadas pelo BC.
Em números, quem quisesse pegar R$ 2 mil emprestados pelo consignado do Auxílio pagaria, no final de dois anos, R$ 2.973,36 para a Caixa. Ou seja: R$ 973,36 só de juros.
Se as taxas fossem equivalentes à média do consignado pessoal em agosto (que leva em conta as taxas de juros de todos os consignados disponíveis no mercado) que foi de 1,88% ao mês, o montante total pago seria de R$ 2.503,44 (R$ 503,44 só de juros). O adicional de juros, portanto, cairia quase pela metade.
A diferença é importante porque, segundo o professor de finanças do Insper Ricardo Rocha, a taxa do consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil deveria ser equivalente à taxa ofertada para aposentados e pensionistas.
O economista lembra que as parcelas já são descontadas do pagamento do benefício, sem um grande risco de calote, como acontece com os beneficiários do INSS. Afinal, é o risco de calote que faz uma taxa de juros ser maior ou menor.
A taxa do consignado do Auxílio, inclusive, é bem diferente da média de consignado para esse grupo oferecida pela Caixa, que é de 1,91% ao mês.
Além disso, o prazo de pagamento (máximo de 24 meses) é menor do que o prazo que se costuma praticar nestes casos. Também por isso, o economista avalia que a taxa poderia ser menor.
Rocha enxerga dois possíveis motivos para esta elevação: o “risco político” de o auxílio ser encerrado ou modificado no próximo ano e o perfil do público.
“Para crédito pessoal, não tem teto ou valor fixo, depende muito de quem está tomando o dinheiro. Então também tem a questão de não ser correntista e que a maioria das pessoas que usam o auxílio tem apenas o benefício como renda formal”, explica o professor.
Comparação com empréstimo pessoal
A comparação com outras modalidades de consignado serve apenas para dimensionar a diferença de tratamento entre os tipos de crédito consignado, já que elas não são modalidades acessíveis para os beneficiários do Auxílio Brasil.
Por isso, o g1 também comparou as taxas do consignado do Auxílio com o empréstimo pessoal, que pode ser uma alternativa real para quem busca crédito.
A taxa média do crédito pessoal não consignado em agosto, último mês levantado pelo BC, foi de 5,28% ao mês, maior do que o consignado do Auxílio. Mas metade das instituições listadas (42 de 84) tem taxa média menor que os 3,45%.
A taxa média do empréstimo pessoal não consignado da Caixa, por exemplo, foi 2,30% (entre 29/09 e 5/10).
Pegando como exemplo um empréstimo de R$ 1 mil pagos em 12 meses, o cliente que optar pelo crédito pessoal pagaria R$ 1.155,72 no final do prazo.
Já com a taxa do consignado do Auxílio, esse valor subiria para R$ 1.238,16.
Mas uma observação merece ser feitas: neste caso também vale entender qual o Custo Efetivo Total daquele crédito, porque as taxas podem variar de acordo com a análise de crédito que a instituição financeira faz do tomador de crédito.
Como funciona o consignado
De acordo com as normas estabelecidas pelo governo federal, o valor máximo do consignado está limitado a 40% do valor mensal do Auxílio Brasil. Para o cálculo, serão considerados os R$ 400, já que o valor atual de R$ 600 só vale até dezembro. Assim, o valor da parcela será, no máximo, R$ 160.
O Ministério da Cidadania estabeleceu um limite de juros de 3,5% ao mês, mas cada instituição financeira pode adotar uma taxa diferente, respeitando esse teto. No caso da Caixa, o banco estabeleceu uma taxa de 3,45% ao mês.
Se o benefício for cancelado, o empréstimo não será cancelado. Ou seja, mesmo se deixar de receber o Auxílio Brasil, o beneficiário precisa se organizar para pagar todos os meses o empréstimo até o final do prazo do contrato, depositando na sua conta o valor da parcela.
No empréstimo consignado, o desconto é feito direto na fonte. Ou seja, durante o prazo contratado, a parcela é descontada diretamente do valor mensal do benefício.
Críticas
A oferta de crédito consignado por meio do Auxílio Brasil tem sido criticada por especialistas e entidades. Eles alegam que a medida pode ser danosa à população, porque os recursos do programa de transferência de renda costumam ser utilizados para gastos básicos de sobrevivência.
Para o Idec, a taxa máxima de juros estabelecida pelo governo, de 3,5% ao mês, é abusiva.
“Isso porque ela é bem maior do que a praticada atualmente para outros tipos de empréstimo consignado, como os para aposentados, pensionistas e servidores públicos”, disse a entidade.
Na avaliação da Caixa Econômica, porém, o crédito pode ser uma oportunidade para os beneficiários do Auxílio Brasil quitarem empréstimos com juros mais altos, como o cartão de crédito.
"Clientes que possuem empréstimos com taxas de juros elevadas podem verificar se o consignado tem taxas mais acessíveis e utilizar o valor para liquidação de dívidas mais caras", argumenta o banco.
https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/10/22/consignado-do-auxilio-brasil-tem-juros-mais-altos-que-media-de-outras-modalidades-de-emprestimo-pessoal.ghtml
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