Trabalhador com carteira assinada não tem ganho real há três anos, diz estudo
Nordeste foi a região com a maior diferença dos salários em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), com variação de -39,4%.
Por EquipeTimes Brasília
Cenário é influenciado pelas altas taxas de desemprego e atividade econômica na pandemia, que complicam as negociações de reajustes
Um estudo feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) revelou que os trabalhadores formais não têm tido ganho real há três anos — ou seja, os reajustes salariais estão abaixo da inflação. O boletim Salariômetro, divulgado nesta quarta-feira (26/1) com dados do fim do ano passado, registrou que o Nordeste foi a região com a maior diferença dos salários em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), com variação de -39,4%.
Não só a disparada da inflação em si, como também o baixo movimento da atividade econômica na pandemia e a alta do desemprego influenciam as condições de reajuste salarial, deixando o cenário mais difícil para os funcionários, que têm seu poder de compra corroído. A variação mediana usada no cálculo das médias de 2019 e 2020 foi zero, ao passo que em 2021 terminou em 0,1%.
A pesquisa também apontou que, no ano passado, apenas 18,6% dos contratos resultaram em aumentos de salário acima dos índices da inflação referentes aos últimos 12 meses, ao passo que em 2019, antes da pandemia, o número se aproximava dos 50%. Outro cenário relatado pelo estudo da Fipe foi o escalonamento de reajustes – quando o aumento vem parcelado.
O coordenador do Salariômetro e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, Hélio Zylberstajn, lembrou que o teto para aplicação de reajustes é uma boa medida.
O sistema pode ser adotado para definir a correção de uma faixa salarial específica ou para definir quem receberá o aumento. Em novembro do ano passado, 36,5% das negociações foram feitas utilizando essa metodologia. Já em dezembro, apenas 16,4%.
Zylberstajn, porém, afirma que mecanismos a exemplo dos escalonamentos e estabelecimento de tetos não compensam a redução do poder de compra dos trabalhadores, e que a situação entre funcionários e patrões está tensionada.
Em 2021, benefícios como vale-alimentação e vale-refeição se mantiveram praticamente estáveis, com o primeiro indo de R$ 275 para R$ 280 e o último permanecendo em R$ 22. O piso dos salários também não apresentou grande variação, passando para os R$ 1.332, elevação de 4,5%. O quadro não condiz com índices comumente usados como base para reajustes salariais, tais como o INPC, que fechou em 7,71%.
Serviços é o setor mais afetado
O boletim da Fipe mostrou que o segmento da economia que apresenta a defasagem mais significativa entre os números da inflação indicados pelo INPC e os da mediana dos reajustes salariais foi o de serviços, – 38,9%.
A área tradicionalmente é uma das que mais participam para o cenário econômico do país, contribuindo com cerca de 70% do valor do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. Durante o período pandêmico do novo coronavírus, porém, o setor foi fortemente afetado pelas restrições sanitárias, que resultaram no fechamento de hotéis, bares e restaurantes.
Hélio Zylberstajn afirma que as negociações no âmbito salarial devem melhorar em 2022, a partir do segundo semestre, mas devem seguir apertadas. “Com o INPC acumulado em dois dígitos, não há espaço para ganho real. Mesmo assim, este será mais um ano complicado, de eleições e juros em elevação. A situação não é boa para os trabalhadores”, conclui.
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