Itatira-CE: Jumento "apicultor" está sem trabalho
Itatira Os apicultores do município que contavam com uma ajuda especial na hora de transportar o mel, agora estão torcendo por um bom inverno em 2013. O jumento apicultor criado para este fim está praticamente aposentado, pelo menos nesse período. Ele que ganhou até roupa especial com proteção contra as abelhas, vive na comunidade de Monte Alegre sem nenhuma atividade nesta época do ano.
Juraci Vieira e seu jumento vestido para o trabalho de coletar o mel nas colmeias da região. Com a queda na produção, o animal está praticamente parado.
O município de Itatira, um dos maiores produtores de mel do Ceará, enfrenta a pior crise de sua história. A diversidade de flores da região é muito forte, mas não existe mais nada, a não ser a caatinga estorricada pelo sol forte e o calor insuportável. Vegetação e animais sofrem em dobro.
Pioneiro
"Temos aproximadamente 70 plantas que produzem bastante néctar para nossas abelhas", mas a seca se encarregou de dizimar tudo", lamenta Mauro Vieira, filho do produtor Juraci Vieira, um dos pioneiros na região dos Sertões de Canindé.
No período bom, são mais de 2 mil colmeias em plena atividade, com excelente produção de mel, cerca de 90 toneladas do produto ao ano. Porém, para chegar até o apiário e recolher os favos dos cultivos, o caminho sempre é de difícil acesso. Carro não consegue trafegar, somente animais, como o jumento.
Antes, o percurso era feito a pé e o mel levado em carrinhos de mão. Mas agora, sem produção, o jumento, velho companheiro do sertanejo, não está fazendo seu trajeto costumeiro em período de colheita, quando os produtores não encontraram tantas dificuldades na realização do trabalho
Quem teve a ideia de vestir o animal foi o apicultor Juraci Vieira. "Uma parte da roupa pega a cabeça, tem uma viseira e é feita com uma lasca de ferro, para que as abelhas não alcancem o jumento com o ferrão. Nas patas, ele não usa botas porque já tem as naturais, dele, que são obra da natureza", disse.
Além de transportar a produção de Juraci, o animal ainda dava uma forcinha a outros apicultores. "Esse animal significa tudo na vida para mim. Ele fazia um trabalho que nós íamos fazer", falou a apicultora Maria do Socorro Alves Vieira, a dona do jumento, que foi "batizado" na região com a denominação de "Boneco".
"Essa ideia, na verdade, se estendeu às nossas 19 comunidades e veio para amenizar e resolver em grande parte a nossa dificuldade de transporte desse produto, mas infelizmente ele está aposentado, por falta do que fazer´´, disse Antônio Lopes, da Associação dos Apicultores.
Oitenta por cento do mel produzido em Itatira era destinado para a merenda escolar, nas unidades da rede pública de ensino.
O produtor recebia R$ 7,00 por quilo vendido para Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Isto permitia que a criançada pudesse ter uma merenda regionalizada e de boa qualidade. Com a queda da safra, vai faltar o produto.
Impacto
120 apicultores de Itatira tiveram prejuízos porque as abelhas, diante da ausência de floração provocada pela seca, se transferiram para outras regiões
ANTÔNIO CARLOS ALVES
COLABORADOR
Comentários