CE tem R$ 11,4 mi investidos em redes inteligentes

Com a regulamentação dos medidores eletrônicos pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), ocorrida em agosto, abriu-se espaço para concessionárias de energia no País darem os primeiros passos rumo à implementação do smart grid - rede inteligente que deve revolucionar as relações de consumo energético no Brasil. De olho num futuro próximo, o Ceará já conta com algumas iniciativas que visam desenvolver suporte para as novas tecnologias que se aproximam. Os investimentos no Estado já somam R$ 11,4 milhões, de acordo com dados passados pelo diretor da Aneel, André Pepitone, com exclusividade, ao Diário do Nordeste.

Em todo o País, os aportes chegam a R$ 411 milhões, envolvendo 178 projetos-piloto. Segundo Pepitone, especificamente no Estado, são nove pesquisas em andamento, das quais seis pertencem à Coelce (Companhia Energética do Ceará), em parceria com instituições de ensino e pesquisa, e outras três são alheios à distribuidora.

Transformação

"Todos esses projetos estão sendo desenvolvidos buscando, em última instância, o smart grid. Podemos observar que a inserção da tecnologia na rede de baixa tensão abre caminho para elevar os níveis de eficiência e transformar a rede em uma espécie de internet da energia", compara André Pepitone.

Em nota, a Coelce informou que "a implantação de redes inteligentes em distribuidoras de energia no Brasil é uma tendência para o futuro". "No Estado do Ceará, a Coelce está desenvolvendo estudos com esse objetivo", limitou-se a empresa.

Aprimoramento

Conforme detalha o diretor da Agência, o Instituto Federal de Educação Tecnológica do Ceará (IFCE) trabalha, atualmente, em dois projetos, ambos ligados à Coelce. Um deles, no valor de R$ 1,8 milhão, objetiva aprimorar os processos de detecção, informação e tratamento automático quando ocorre uma interrupção de energia. A maior qualidade na distribuição é uma das características inerentes ao smart grid. Com as redes inteligentes, o número de falhas é significativamente menor e, quando ocorrem quedas de energia, elas tendem a ser corrigidas de modo mais rápido e eficaz.

O IFCE também realiza uma pesquisa sobre chaves fusíveis com religamento automático, no valor de R$ 1,1 milhão. Esses equipamentos deverão otimizar a recuperação de fusíveis em casos de queima, sem a necessidade de obras de instalação.

Automação

A Universidade de Fortaleza (Unifor) e a Universidade Federal do Ceará (UFC) estão desenvolvendo, também a pedido da Coelce, estudos com o intuito de levar automação à rede de média tensão em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza. Juntos, os projetos somam o montante de R$ 575 mil.

Com o smart grid, consumidor pode acompanhar o gasto de cada aparelho usado. Dessa forma, é possível equilibrar o consumo e economizar FOTO: DENISE MUSTAFA

Já o trabalho realizado pela PC4 Comunicação e Tecnologia desenvolve sistemas que ajudarão na coleta e no registro do consumo energético. O estudo deve possibilitar que o consumidor identifique, em sua residência, quais os equipamentos que mais estão demandando energia. Com esse conhecimento, o cliente pode equilibrar a utilização de determinados aparelhos, tornando seu consumo mais eficiente e até 30% mais barato.

Controle

Por sua vez, a Control Tecnologia e Comunicação busca uma solução integrada de hardware e software, acoplada ao medidor eletrônico de energia.

A intenção da experiência é conseguir mensurar, faturar e também controlar, em tempo real, as atividades energéticas dos usuários.

O que falta?

Conforme lembra o diretor da Aneel, os medidores eletrônicos, fundamentais no processo que compõe as redes inteligentes, estão regulamentados pela Agência desde o último mês de agosto, a partir de quando foi dado um prazo máximo de 18 meses para que as concessionárias se adaptem às regras.

A única pendência, afirma, é a certificação dos equipamentos pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). Quando essa fase for ultrapassada, projeta, o smart grid deverá, então, ser integrado de modo mais massivo ao setor elétrico nacional.

FIQUE POR DENTRO
Os benefícios da tecnologia


Também chamado de rede inteligente, o smart grid é a aplicação de Tecnologia da Informação para o sistema elétrico, integrada aos sistemas de comunicação e infraestrutura de rede automatizada. Envolve a instalação de sensores que detectam informações sobre a operação e desempenho da rede. Por exemplo: quando a tensão está muito alta, os softwares percebem o nível elevado e instruem os dispositivos a reduzir a tensão, economizando, assim, a energia gerada.

Dentre os benefícios, está a maior eficiência, já que o cliente consome menos energia; outro é a confiabilidade, pois a rede inteligente detecta as falhas em seu estágio inicial, permitindo um reparo mais rápido, às vezes, antes mesmo de haver interrupção; e o terceiro é a integração. Por meio de medidores eletrônicos, o cliente passa a ter um nível superior de informações, muito além do que o simples recebimento da tarifa no fim do mês, tornando-se mais ativo na relação de consumo.

Por meio da microgeração, a descentralização da produção de energia é capaz de fazer com que qualquer um possa produzir, armazenar ou até mesmo vender o excedente energético contribuem para que a fatura de luz diminua. Na medida em que possibilita a integração de fontes de energia renováveis, como eólica e solar, o smart grid também traz vantagens no tema sustentabilidade.

A rede inteligente deve acabar com as perdas não-técnicas de energia, popularmente conhecidas como ´gatos´. A nova tecnologia detecta, automaticamente, os furtos e aponta os locais em que as gambiarras são feitas. Esses atos ilegais geram perdas da ordem de R$ 8 bilhões (incluindo-se impostos que seriam arrecadados), anualmente, para o setor.

VICTOR XIMENES
REPÓRTER