Com projeção de boas chuvas e novas opções de crédito, agronegócio se prepara para crescer em 2021

O setor já tem se destacado neste ano pelo bom desempenho, mesmo em meio à crise gerada pela pandemia

Legenda: Boas chuvas, opções de financiamento e dólar elevado devem impulsionar a agropecuária local - Foto: Natinho Rodrigues

Escrito por Samuel Quintela 

Setor está otimista com o cenário para o próximo ano, mas, para que as expectativas positivas se confirmem, a oferta hídrica será essencial

O anúncio de uma nova linha de crédito voltada para o agronegócio pelo Banco do Brasil trouxe mais um reforço para as perspectivas positivas do setor no Ceará. Contudo, segundo empresários e representantes do mercado estadual, a sustentação dessas expectativas otimistas estão diretamente conectadas às previsões climáticas e à segurança hídrica no Estado. Apesar de as previsões não serem, ainda, precisas, há um consenso de que o próximo ano deverá ser de evolução para o agronegócio cearense.

O setor já tem se destacado neste ano pelo bom desempenho, mesmo em meio à crise gerada pela pandemia. No segundo trimestre, conforme os dados mais recentes do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), o PIB da agropecuária registrou alta de 18,8% na comparação com igual período do ano anterior, na contramão dos demais setores que despencaram.

De acordo com o empresário e diretor de agronegócio do Lide Ceará, Tom Prado, a nova opção ofertada pelo Banco do Brasil, que promete injetar R$ 1 bilhão para o financiamento de máquinas e equipamentos para o setor, foi muito bem recebida no mercado cearense. No entanto, ele destacou que outros bancos já oferecem linhas de crédito com vantagens semelhantes no Estado, e que, dependendo das relações das empresas com cada instituição financeira, as facilitações de acesso a recursos financeiros podem ser até melhores, em certos casos.

"Muitas empresas já tinham acesso a outras ferramentas parecidas a essa do Banco do Brasil. Mas, claro, o BB tem uma capilaridade muito grande, então, as pessoas que não tinham acesso a essas opções serão beneficiadas. Todas as fontes de financiamento competitivas possibilitam o desenvolvimento de áreas no Brasil inteiro", apontou Prado.

Segundo dados do Banco do Brasil, durante o ano safra de 2021, que teve início em julho de 2020 e vai até julho do próximo ano, cerca de R$ 300 milhões devem ser financiados somente no Ceará.

O empresário deixou claro, contudo, que o planejamento do setor para 2021 se baseia nas projeções de chuva no Ceará, que poderão encerrar o próximo ano com um resultado acima da média; e nas obras estruturais desenvolvidas para garantir a segurança hídrica do Nordeste, além do nível dos reservatórios cearenses, como o Açude Castanhão.

"O que mais impacta o agronegócio no Ceará é a oferta hídrica", garantiu Prado. A opinião é corroborada por Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). Ele também é empresário do setor.

Acesso prejudicado

Barcelos afirmou que o acesso ao crédito tem sido muito complicado para as empresas do setor desde o começo da pandemia do novo coronavírus e que os bons resultados apresentados em 2020 e os esperados para 2021 vêm sendo conquistados graças ao empenho dos empresários em garantir a continuidade e escoamento da produção.

De acordo com o diretor da Abrafrutas, o agronegócio cearense deverá apresentar, sim, um crescimento no próximo ano, se as previsões pluviométricas de chuvas acima da médias se concretizarem. "Eu acho que estamos com uma perspectiva boa para 2021, mas a chuva é muito importante para garantir os resultados do agronegócio no Ceará".

"As linhas de créditos são uma questão complicada, e não dá para contar com isso, porque nunca chega na gente. Se depender do Governo, é complicado e não tenho visto chegar através dos bancos públicos. Havia muita burocracia e não houve nenhuma facilitação. E nos privados, a cautela foi ainda maior, então, foi muito complicado para a gente durante a pandemia", completou Barcelos.

As chuvas também foram apontadas como chave do crescimento pelo presidente da Câmara Setorial do Agronegócio da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), José Amilcar, que também apontou a nova linha de crédito do BB como um fator positivo para desenvolvimento do mercado.

Amilcar ponderou que os empresários cearenses já contam com uma boa oferta de opções para financiamentos, destacando a atuação do Banco do Nordeste (BNB) no Estado. A instituição pública, segundo dados da Adece concentra mais de 80% das operações de crédito para o agronegócio no Ceará.

Por conta disso, a oferta hídrica deverá ser o ponto mais importante para o setor no próximo ano. Amilcar destacou que o Governo do Estado já vem trabalhando em um planejamento para promover a utilização do máximo possível das áreas irrigadas para a produção agrícola cearense.

A Adece espera dobrar as áreas plantadas no Estado em 2021 para conseguir aproveitar o potencial de chuvas no próximo ano e impulsionar a produção de alimentos por pequenos e médios produtores.

O objetivo é aumentar a oferta de alimentos no mercado interno para ajudar no controle de preços, já que vários itens nos supermercados vêm sofrendo com a pressão inflacionária observada durante a crise do coronavírus.

Planejamento

Apesar de todo o planejamento já estar montado, com representantes do Estado entrando em contato com produtores que ainda estão sem produzir, Amilcar defende que o desempenho do projeto deverá ser definido pelos níveis de oferta hídrica. "Se não vier a chuva, eu não consigo fazer todo o planejamento, porque não temos tantos reservatórios como têm outros estados", disse. "Nós temos um potencial muito grande para o próximo ano, um hectare representa um emprego. Vinte mil hectares representam uma siderúrgica como a que temos no Pecém, então estamos otimistas para ter uma evolução do agronegócio no Ceará no próximo ano", disse.

Câmbio

Além das linhas de crédito, outro fator que poderá impulsionar o desenvolvimento do agronegócio é a taxa de câmbio, considerando principalmente a comparação entre o real e o dólar, que vem se mantendo em um patamar elevado desde o começo da pandemia no Brasil.

Para Luiz Roberto Barcelos, se o dólar se mantiver na cotação atual, o agronegócio poderá explorar bastante as exportações. "O dólar tem de se manter nesse patamar, até para dar uma perspectiva positiva para ajudar na exportação do setor", disse.

Barcelos destacou as novas negociações do mercado de frutas local com a China, que começou a importar melões do Ceará neste ano. Contudo, ainda será preciso aguardar a chegada das primeiras cargas e das novas negociações para quantificar o impacto da abertura desse novo mercado. "Não temos ainda a primeira resposta, porque as cargas estão chegando, é um potencial grande, mas ainda vamos esperar essas primeiras negociações, que podem ser muito importantes", analisou.

Já Tom Prado defendeu que taxa de câmbio deva voltar "à normalidade", se estabilizando em um patamar abaixo do atual. O cenário poderá garantir bons resultados aos empresários que estiverem focados em exportações sem pressionar os preços no mercado interno.

"O cambio atual é em função das questões políticas e macroeconômicas, e depois das eleições, no Brasil e nos Estados Unidos, a expectativa é que ele volte a um patamar mais normal. Se você tem alguns investimentos que são baseados em máquinas no exterior, esse não é o momento ideal para ser fazer, isso pode atrapalhar os resultados em alguns setores", explicou. 

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