CE - ´Árvore da vida´ é fonte de renda durante a seca

A venda de derivados da carnaúba é o que ajuda os agricultores a superar os efeitos da seca na região semiárida

Canindé Eles começam a luta ainda pela madrugada. Nessa época do ano, a colheita da carnaúba torna-se uma grande fonte de renda. O sol forte do Ceará não alivia. Para alcançar as palhas que atingem até 15 metros de altura, os homens usam foices amarradas a varas de bambu. Depois do corte, a palha é estendida ao sol.

Com a palha seca, os agricultores obtém o produto mais nobre da carnaúba, a palha, que sai da lavoura em forma de pó e vai para uma máquina para ser batida. Hoje, o pó da palha é vendido por R$ 4,30. Já o quilo do pó extraído do olho da carnaúba custa R$ 10,00. A venda do produto é que ajuda os agricultores a superar o perigo da maior seca dos últimos 30 anos no Ceará.

O pó da carnaúba é transformado em sebo. O produto é aproveitado na indústria de automóveis, medicamentos e cosméticos. A palha também vira artesanato. São esteiras, cestos, bolsas, chapéus, surrões, tapetes, entre outros produtos.

O que sobra da palha ainda vira bagana, um subproduto de muita utilidade na agricultura. Essas propriedades deram fama à carnaúba, que ficou conhecida como "árvore da vida". O Ceará responde hoje por 80% dos derivados produzidos no Brasil.

A reportagem do Diário do Nordeste foi conhecer o maior produtor dos Sertões de Canindé. José Ives Lima mora no Distrito de Targinos, a 43 quilômetros da sede, e começou a lidar com a matéria-prima ainda rapaz. Segundo ele, tudo da planta é aproveitado. A safra deste ano está estimada em 40 mil quilos de pó, sendo que 34 mil vem do pó da palha e seis mil quilos do olho da carnaúba.

"Um quilo do pó do olho da carnaúba é vendido no mercado por R$ 10,00, e o produzido da palha vale apenas R$ 4,30", confirma Ives Lima, que trabalha com 45 homens, entre tiradores, carregadores, espalhadores e funcionários da máquina.

"O que nos falta é incentivo dos governos federal e estadual para um maior aproveitamento da matéria prima da carnaúba. Quando isso existir, a vida de quem trabalha nesse ramo vai melhorar bastante. Tanto para quem produz como para aqueles que vivem desse trabalho´´, acredita o produtor.

Abrangência

De acordo com ele, sua área de atuação vai de Targinos até a cidade de Itapiúna, onde existe uma plantação de 280 mil pés. Nesse período do ano, Ives Lima garante emprego para a maioria das famílias da região. Um deles é Antônio Luis de Sousa, que trabalha há mais de 20 anos com o produtor.

"O dinheiro é bom e recebo em dia. Dá para ir vivendo, porque a agricultura está falida. A seca acabou com tudo e, agora, o melhor mesmo é cuidar dos plantios da carnaúba, que gera emprego para todos nós do sertão. Tem emprego pra todo mundo, basta ter coragem´´, falou.

O gerente do Centro ao Atendimento ao Cliente da Ematerce de Canindé, Domingos Sávio, foi conhecer de perto todo o processo da carnaúba. Disse que, a partir de agora, irá desenvolver um plano de assistência para os produtores cearenses.

Revitalização

"Vamos primeiro identificar cada um, para depois iniciarmos a fase de projetos. Já participei de um programa de revitalização da carnaúba, quando exercia a função de agente rural, mas, como tive que assumir a Ematerce de Canindé, foi preciso parar todo o trabalho.

Agora, com toda essa imensidão de plantios espalhados pela nossa região, vamos retomar o processo", prometeu Domingos Sávio.

A carnaubeira é uma planta nativa do Nordeste brasileiro que, em condições normais, cresce cerca de 30cm por ano, atingindo a maturidade botânica (primeira floração) entre 12 e 15 anos de idade, podendo chegar a uma altura superior a 10 metros e produzir entre 45 e 60 folhas por ano.

Colheita

A colheita dura, em média, 120 dias. A operação de secagem, feita no chão, é demorada e demanda entre seis e doze dias. A palha da carnaúba é renovável e, em pouco tempo, brota e cresce para mais uma colheita. "Essa atividade tira várias famílias da miséria, e também garante emprego para jovens do Interior do Ceará, evitando o êxodo rural para as áreas urbanas das grandes cidades´´, observa José Ives.

O ouro verde do sertão, como é chamada a palha da carnaúba, é retirado duas vezes ao ano, um intervalo que serve de descanso para a planta ter um rendimento mais elevado.

"Tudo que consegui na minha vida foi com a participação dessa planta, que é considerada a árvore da vida no Ceará. Tenho orgulho de viver desse ramo, porque foi por meio dele que criei meus filhos. Nossa região é muita rica nesse sentido, o que falta mesmo é incentivo para que outros produtores ganhem interesse por essa cultura, que preserva a natureza e ainda assegura trabalho para muita gente", observa.

Mais informações:

Ematerce de Canindé
Rua Simão Barbosa, s/n
Bairro São Matheus
Canindé (CE)
Telefone: (85) 3343.6826

ANTONIO CARLOS ALVES

COLABORADOR