Acionistas do Cruzeiro do Sul podem perder R$ 337 milhões com liquidação
Acionistas, considerados sócios do banco, seriam os últimos a receber.
Do G1, em São Paulo
Os acionistas do banco Cruzeiro do Sul podem perder R$ 337 milhões, com a liquidação do banco, decretada nesta sexta pelo Banco Central. O montante equivale ao valor de mercado do banco no último dia de negociação das ações, quinta-feira (13). Os acionistas, considerados sócios, são os últimos a receber os pagamentos e por isso devem ficar sem dinheiro, dizem especialistas.
"O dono do banco não tem nada que receber. Se você é sócio, vai ficar sem nada, não vai receber", diz o sócio-direitor da Global Financial Advisor, Miguel Daoud.
Segundo o presidente da Comissão de Direito Bancário do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp), Bruno Balduccini, os acionsitas do banco são os que correm maior risco de não receber por serem os últimos da fila de pagamentos, tendo grande risco de ter prejuízo total. "Como a negociação das ações está suspensa, não há mais como comprar ou vender (ações)”, explica.
Na quinta-feira (13), véspera de o futuro do banco ser divulgado, as ações do Cruzeiro do Sul fecharam em alta de mais de 20%. Segundo Daoud, a alta ocorreu porque os investidores acreditavam que o banco seria comprado - ou seja, acreditavam que valia mais que o prejuízo.
Ordem de pagamento
Como a compra do banco não ocorreu, os acionistas devem ter dificuldades para recber o dinheiro. É que pelas do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), os primeiros clientes a receberem o dinheiro de volta serão os que têm os depósitos garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o que não inclui os acionistas.
Do total de depósitos à vista e a prazo do Banco Cruzeiro do Sul e do Banco Prosper, cerca de 35% e de 60%, respectivamente, contam com essa garantia, segundo o BC. Segundo as regras do FGC, cada correntista tem garantido o pagamento de até R$ 70 mil, limitado ao saldo existente. Esse valor é calculado por CPF ou CNPJ – ou seja, clientes que tenham mais de uma conta terão garantido o pagamento de apenas R$ 70 mil ao todo. Contas conjuntas também são garantidas em até R$ 70 mil, independente do número de titulares.
"A chance dos acionistas é se o banco for vendido", diz Daoud.
Liquidação
O Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que vinha administrando o Cruzeiro do Sul desde a intervenção do Banco Central (BC), em 4 de junho, buscava um comprador para a instituição, para evitar que o banco fechasse as portas. No entanto, as negociações – que até quinta-feira incluíam o Santander – falharam.
Uma auditoria divulgada no dia 14 de agosto apontou um rombo de R$ 2,236 bilhões nas contas do banco. O Cruzeiro do Sul trabalha principalmente com empréstimos consignados, aqueles com desconto direto no salário ou aposentadoria.
Em junho, quando do anúncio da intervenção no banco, o FGC informou que uma eventual liquidação do Cruzeiro do Sul geraria um custo de até R$ 2,2 bilhões aos cofres do fundo.
O BC já nomeou liquidantes para administrar a chamada "massa falida" de ambos os bancos. Os liquidantes irão fazer o levantamento de dados e um balanço geral dos livros, documentos, recursos e bens. O liquidante também tem o poder de vender bens para honrar negócios pendentes e fazer o pagamento dos credores.
Os administradores dos bancos sob liquidação extrajudicial, por sua vez, são destituídos de seus cargos, mas devem colaborar durante o processo e podem ser punidos se forem encontradas irregularidades pela autoridade monetária.
Cruzeiro do Sul
Em junho, o Banco Central determinou a intervenção no Cruzeiro do Sul por meio do chamado Regime de Administração Especial Temporária (Raet), pelo prazo de 180 dias e, na época, foi nomeado o FGC como administrador especial temporário. Uma empresa de auditoria (Pricewaterhouse Coopers) foi contratada para avaliar as contas – e encontrou uma diferença de R$ 3,1 bilhões no balanço do banco. Descontando o patrimônio líquido do banco, de cerca de R$ 870 milhões, o "buraco" nas contas é de R$ 2,236 bilhões
Desde então, o FGC vinha tentando "enxugar" as contas. A operação de salvamento consistia em comprar os títulos de dívida do banco nas mãos dos credores, com um desconto médio de 49%, e em seguida vender a instituição. O prazo para adesão à oferta chegou a ser prorrogado por duas vezes, mas, segundo comunicado do próprio fundo, não foi "obtido êxito na alienação do controle acionário do BCSul".
Segundo o Banco Central, o Cruzeiro do Sul detém cerca de 0,25% dos ativos do sistema bancário e 0,35% dos depósitos.
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