IMPACTO EM 2013: Com seca, térmicas acionadas devem pesar na conta de luz
Com a baixa incidência de chuvas em 2012, o acionamento de usinas termelétricas tem sido mais importante para garantir o suprimento das necessidades energéticas de todo o País. No Ceará, nos últimos cinco meses, consecutivamente, foram registrados despachos fora da ordem de mérito de custo, que são realizados de forma preventiva, a fim de evitar futuros problemas de escassez. De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), entre março e julho, mais de 59 mil megawatts/hora gerados a partir da térmica Endesa Fortaleza foram utilizados, o que é suficiente para abastecer uma cidade com quase 2 milhões de habitantes por aproximadamente um mês.
Para se ter uma ideia, no ano passado - em que o nível de precipitações estava bem mais positivo -, não houve sequer um acionamento de térmicas cearenses fora de custo, conforme dados do ONS. Em 2010, que foi outro ano de seca, os despachos foram significativos: mais de 130 mil megawatts/hora.
Impacto na conta
Esta alternativa energética, logicamente, gera custos, que acabam sendo inseridos na conta paga pelo consumidor no ano seguinte. "Quando as termelétricas estão paradas, elas pagam apenas a manutenção, mas quando são acionadas, há o consumo de combustível (gás ou óleo), que vai ser pago pela tarifa", explica João Mamede Filho, professor de Instalações Elétricas Industriais e Proteção de Sistemas Elétricos de Potência da Unifor (Universidade de Fortaleza).
Todos pagam
Conforme elucida o especialista, o "preço" é pago pelo consumidor geral. Por exemplo: se as térmicas do Sudeste são as mais utilizadas, não é a população de lá que vai arcar sozinha com os custos. Como aquela energia gerada entra no Sistema Interligado Nacional, todos no País pagam. Esse impacto, segundo ele, depende do tempo que as usinas ficarem ligadas.
Conforme José Caminha Araripe, gerente de regulação e mercado da Coelce (Companhia Energética do Ceará), até o ano passado, não havia influência na conta, mas, a partir das novas regras da Aneel, criando as tarifas verde, amarela e vermelha, a tendência é de haver encarecimento para o consumidor quando os reservatórios estiveram em condições desfavoráveis e o governo optar pelas térmicas. Nestas situações, a Aneel solicitará que a distribuidora de energia use a tarifa vermelha (mais cara). Já em ocasiões de maior tranquilidade no sistema, a verde (mais barata) valerá.
De acordo com nota da Endesa, "a Central Geradora Termelétrica de Fortaleza (CGTF) vem disponibilizando 100% de sua capacidade para o ONS que, provavelmente, deverá incrementar o despacho global de geração térmica nas próximas semanas". A empresa ressalta, ainda, que o atendimento à demanda no sistema brasileiro é feito de forma integrada e centralizada, cabendo ao ONS a responsabilidade de decidir pelos blocos de energia a serem despachados. "A geração final de cada aproveitamento será aquela que agregará a maior segurança para o Sistema Interligado", pontua.
Garantia
Conforme lembra João Mamede, "todo ano, o ONS faz esse tipo de operação para economizar a água nos reservatórios. Quando a temporada de chuvas começar a se consolidar, ele vai aliviando (os acionamentos). É uma garantia para que o sistema não seja surpreendido".
Segundo dados do ONS, a capacidade total dos reservatórios da região Nordeste encerrou julho com o menor nível desde 2003 para o mês: 60,4% de energia armazenada.
O patamar é bastante inferior ao registrado em igual período do ano passado, quando se situava em 79,59%. No Sudeste e Centro-Oeste, os reservatórios também encontram-se com níveis abaixo do usual para esta época do ano.
Além do Ceará, outras matrizes termelétricas do Nordeste têm sido usadas nos últimos meses. Em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, também houve recentes despachos fora da ordem de mérito de custo.
Reservatórios
60,4 por cento é o nível atual dos reservatórios de água do Nordeste, de acordo com o ONS. No ano passado, patamar era de quase 80%
FIQUE POR DENTRO
O porquê do despacho fora da ordem de mérito
A dependência de usinas termelétricas para assegurar o abastecimento nacional foi evidenciada em 2008, quando houve atraso no início da estação chuvosa. Naquela ocasião, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) baixou uma resolução, autorizando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a extraordinariamente, despachar recursos fora da ordem do mérito econômico.
O ONS controla a oferta e a demanda no Sistema Interligado Nacional, determinando quais usinas devem ser acionadas para gerar a energia necessária à cobertura da demanda prevista, o que se conhece como despacho. Isso é sempre feito por ordem de mérito econômico, isto é, as usinas são despachadas pela ordem do seu custo de geração. As hidrelétricas são sempre as de menor custo e, por isso, são chamadas a gerar antes das termelétricas.
Naquela ocasião, diante da possibilidade de faltar água nos reservatórios das hidrelétricas, o CNPE decidiu dar permissão para realizar o despacho fora da ordem de mérito, determinando, portanto, que as usinas térmicas gerassem antes das hidrelétricas, de modo que estas pudessem armazenar água nos reservatórios.
Consumo de energia sobe mais na zona rural
A estiagem deste ano forçou a zona rural do Estado a gastar mais com energia elétrica. O consumo cresceu 48,3% em julho frente a similar mês de 2011. De acordo com o gerente de Regulação e Mercado da Coelce, José Caminha Araripe, houve uma elevação muito superior a igual período do ano passado, principalmente do uso de máquinas para bombear a água.
Segundo ele, porém, a participação desse segmento é muito pequena no avanço total de 11,6% registrado no consumo no Ceará. Um crescimento bem acima da média brasileira em igual período, que foi de 1,4%. "Foram 7,9% de crescimento na área residencial e 7,2% na comercial. Esses sim fizeram a diferença no desempenho geral de consumo", disse, ressaltando que "Somente a parte residencial corresponde a três pontos percentuais desses 11,6% de elevação", emendou.
O consumo industrial registrou expansão de apenas 0,7% no mês passado ante julho de 2011. Contudo, no acumulado do ano, a Coelce constatou alta de 4,1% no consumo nessa área, 10,3% (residencial); 11% (comercial) e de 45,1% (rural).
VICTOR XIMENES
REPÓRTER
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