África do Sul busca agricultor brasileiro para vender comida ao Oriente Médio

Projeto incentivado pelo governo prevê o uso de estufas construídas no entorno do novo aeroporto de Durban como plataforma de produção e exportação

Dubes Sônego

A África do Sul está em busca de agricultores e investidores brasileiros dispostos produzir comida no país para vender ao Oriente Médio e à Ásia. De acordo com Zamo Gwala, CEO da agência de atração de investimentos da província de KwaZulu-Natal, no noroeste do país, a África do Sul precisa tanto do dinheiro quanto da experiência dos produtores brasileiros – e também argentinos. Muitos dos agricultores locais estão se aposentando e as novas gerações de sul-africanos “não estão se interessando por agricultura”, afirma: “estamos importando comida de fora”.

O principal foco de atração da província é a região do entorno do novo aeroporto de Durban, o primeiro na África do Sul a seguir o conceito de cidades aeroporto (aerotrópolis). Construído para a Copa do Mundo, o empreendimento têm hoje capacidade ociosa e áreas reservadas para a edificação de hotéis, prédios de escritório, condomínios industriais e grandes estufas para a produção e alimentos, erguidas e alugadas por uma estatal da província criada especialmente para isso, a Dube Tradeport.

Na primeira etapa do projeto, iniciada há 14 meses, foram colocadas em funcionamento seis estufas, que totalizam 160 mil metros quadrados (16 hectares), todas climatizadas. A segunda etapa, a ser iniciada assim que a primeira estiver concluída, prevê a ocupação de outros 90 hectares com novas estufas, além de mais três unidades de armazenagem, lavagem, seleção e embalagem dos produtos – uma já está em funcionamento.

Hoje, no local, são produzidos tomates, pepinos, pimentas e berinjelas para a rede varejista Woolworth, equivalente local da inglesa Marks & Spencer. Mas, de acordo com Hamish Erskine, diretor de TI e patrimônio da Dube Tradeport, em setembro, cerca de 80% da produção passará a ser embarcada em aviões para clientes de regiões do mundo com pouca área agriculturável Hong Kong, Taiwan e países do Oriente Médio. É quando será colocada em marcha também a última etapa de desenvolvimento da primeira fase do projeto, com a entrada em operação da estufa de flores.

Gwala não diz qual a rentabilidade do negócio. Mas a perspectiva é de que seja sustentável em até cinco anos. Na medida em que a receita aumenta, afirma, diminui o dinheiro fornecido como auxílio pelo governo.

Pelo modelo de negócio desenhado, cabe a Dube fornecer a infraestrutura. Os agricultores alugam a área, cuidam da produção e aproveitam as facilidades do aeroporto para vender seus produtos no exterior. A Dube também atende produtores da região que queiram utilizar somente as instalações de armazenagem, embalagem e logística.

“Temos terra, temos água e temos infraestrutura”, diz Gwala. “Estamos buscando no Brasil e na Argentina gente com experiência e dinheiro para produzir”. O entorno de Durban é forte na produção e cana de açúcar e existe expectativa do governo de desenvolver usinas de etanol na região. Da argentina, os sul-africanos pretendem atrair plantadores de soja.

A iniciativa faz parte de um programa mais amplo, do governo federal. Segundo Charles Manuel, vice-diretor de promoção e facilitação de investimentos do departamento de comércio e indústria da África do Sul, o país já está também em contato com cooperativas agrícolas brasileiras. A ideia é levar o modelo de cooperativas, que funciona bem no Brasil, para a África do Sul, como forma de agregar valor aos produtos agrícolas.

Centro logístico

Durban é hoje o principal centro logístico da África do Sul. Seu porto é o segundo mais movimentado da África, atrás apenas do de Suez. Através dele deverão ser movimentados neste ano cerca de 3,9 milhões de TEU (unidade correspondente a um contêiner de 20 pés). É mais do que o volume movimentado em Santos, o maior do Brasil, por exemplo. E há um projeto de expansão orçado em US$ 25 bilhões, já aprovado, que vai elevar a 22 milhões de TEU a capacidade de movimentação, até 2040.

No modal aéreo, o governo pretende incentivar o uso do novo aeroporto como hub de entrada para outros países da região. A Dube Trade também é a responsável por gerenciar o centro de movimentação de cargas do aeroporto de Durban, que terá um grande condomínio de empresas em uma área adjacente. Ali, em uma área de 26 hectares – primeira fase do projeto –, vão se instalar cerca 30 unidades de empresas. “Já fechamos com 19 e temos outros oito ou nove em vista”, afirma Claude Jerome Pretorius, responsável pelo marketing do empreendimento.

Entre as que já fecharam, afirma, estão unidades de armazenagem e distribuição de peças, uma empresa de confecção, unidades de montagem de produtos, empresas de logística e de alta tecnologia.

O projeto é parte de um plano maior do governo, de agregar localmente algum valor às commodities agrícolas e minerais que produz, como forma de gerar mais empregos e reduzir a desigualdade social. Mas, nesse caso, não prevê incentivos fiscais ou de qualquer outro gênero. A vantagem vendida pela província de KwalaZulu, onde está localizado o aeroporto, é a qualidade da infraestrutura para exportação e produção.

(O repórter viajou a convite do governo da África do Sul)