MEDALHA DA ABOLIÇÃO
A maior comenda do Estado do Ceará, a Medalha da Abolição, foi entregue pelo governador Cid Gomes à presidente do Grupo Edson Queiroz, D. Yolanda Queiroz. Na cerimônia, ocorrida na noite de ontem no Palácio da Abolição, foram também condecorados o empresário Ivens Dias Branco, a jornalista Adísia Sá e o humorista Chico Anysio (in memoriam).
A solenidade ocorreu, na noite de ontem, no Palácio da Abolição e homenageou a presidente do Grupo Edson Queiroz, dona Yolanda Queiroz, o empresário Ivens Dias Branco, a jornalista Adísia Sá e o humorista Chico Anysio (in memoriam) FOTO: JOSÉ LEOMAR
A outorga da Medalha da Abolição reconhece cearenses com atuação marcante na área socioeconômica, educacional e cultural. Os homenageados, como ressaltou o governador Cid Gomes ao conceder a honraria, são protagonistas na história atual do Estado, através do seu trabalho e exemplos de dignidade e generosidade.
A primeira a ser agraciada da noite, dona Yolanda Queiroz, além de presidente do Grupo Edson Queiroz, é vice-presidente da Fundação Edson Queiroz. Natural de Fortaleza, casou aos 16 anos com Edson Queiroz, com quem teve seis filhos, Airton, Myra, Edson Queiroz Filho, Renata, Lenise e Paula, que já lhe deram 15 netos e 21 bisnetos.
A companheira do industrial participou de todas as etapas de fundação e crescimento do Grupo Edson Queiroz. Com a morte precoce do marido, em junho de 1982, ela assumiu a presidência das empresas, sendo determinante para a consolidação e expansão das mesmas.
Oportunidades
Hoje, as empresas do grupo dão emprego direto a 16 mil pessoas, gerando benefícios sociais em vários Estados, sobretudo, no Ceará, onde tem sua sede, e movimentam cerca de R$ 350 milhões. Seus negócios geram em torno de R$ 300 milhões por ano em tributos, os quais revertem em benefícios para o País.
A homenageada tem atuação consolidada nas áreas educacional superior e social (somente a Escola de Aplicação Yolanda Queiroz ao longo de 30 anos já alfabetizou mais de nove mil crianças). D. Yolanda destacou-se no setor de Comunicações ao dirigir os veículos do Sistema Verdes Mares.
A outorga da condecoração ontem, dia 25 de março, assinalou o aniversário de 129 anos da libertação dos escravos no Ceará, a primeira província brasileira a extinguir a escravatura em seu território, em 1884, quatro anos antes da Lei Áurea de 1888.
D. Yolanda também já foi reconhecida com condecorações e prêmios, tais como Grande-Colar do Mérito, outorgado pelo Tribunal de Contas da União, Medalha do Pacificador, do Exército Brasileiro; Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho - Grau de Comendador - do Tribunal Superior do Trabalho; Ordem do Mérito Industrial, da Confederação Yolanda Vidal Queiroz.
Consagrou-se, ainda, por ter sido a primeira mulher brasileira a receber o Prêmio Personalidade do Ano 2008, da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. Em seu discurso de agradecimento pela Medalha da Abolição falou do júbilo ao receber a mais alta comenda do Estado, do orgulho de ter nascido na Terra da Luz, da felicidade de ter casado com Edson Queiroz e, também, do grande valor simbólico da Medalha da Abolição, que estimulará o enfrentamento de novos desafios.
A escolha dos nomes dos quatro homenageados foi feita por uma comissão composta por representantes da Secretaria de Justiça do Estado (Sejus), da Academia Cearense de Letras (ACL), da Associação Cearense de Imprensa (ACI), do Instituto Histórico do Ceará e da Associação dos Servidores Públicos, sob a presidência da titular da Sejus, atualmente Mariana Lobo.
A jornalista Adísia Sá, licenciada em Filosofia, escritora e uma das fundadoras da ACI, também foi condecorada pelo governador. "Para tudo, há um tempo. Tempo de plantar e tempo de colher", disse, referindo-se ao ensinamento bíblico e citando o Torá. "E eu me pergunto: o que plantei para merecer essa homenagem?", completou fazendo a plateia sorrir. Adísia não deixou de enfatizar em seu discurso informal a paixão pelo jornalismo.
Contribuição
O empresário Ivens Dias Branco, presidente do Grupo M. Dias Branco, cativou a todos ao falar de forma simples e direta para agradecer a honraria e ao citar, um a um, os demais homenageados, inclusive com relatos sobre a contribuição prestada por eles ao Ceará.
Lembrou, por exemplo, que D. Yolanda Queiroz foi determinante ao crescimento econômico do grupo de empresas que dirige e, ainda, que "soube criar uma família unida e deu grande estímulo à cultura cearense", referindo-se à Universidade de Fortaleza (Unifor). Por último, Ivens Dias Branco dividiu a própria comenda com a esposa, familiares e colaboradores.
Na solenidade, o humorista, ator, escritor, compositor, pintor e roteirista, Chico Anysio, que faleceu no dia 23 de março do ano passado, foi representado pela viúva, Malga di Paula. Emocionada, ela agradeceu a todo o reconhecimento recebido pelo companheiro ao longo de 14 anos. "Quero agradecer a tudo que o povo de Chico Anysio está fazendo por ele", citou, lembrando a felicidade de ter sido casada com esse cearense de Maranguape, "pelo grande artista e homem que ele foi".
A cerimônia reuniu autoridades do meio político, judiciário e empresarial cearense, que foram recebidas ao som do Quarteto Vivace, com um repertório em que predominaram músicas clássicas e regionais. Os presentes puderam, também, desfrutar da beleza das peças do artista plástico Sérvulo Esmeraldo, em uma exposição aberta nessa segunda-feira e que ficará em cartaz pelos próximos 60 dias.
Privilégio de ter nascido na Terra da Luz
Dona Yolanda Queiroz destacou em seu discurso a honra de continuar o legado de Edson Queiroz
"Desde meus tempos de estudante, no Colégio das Dorotéias, fui ensinada que o Ceará foi a primeira província a abolir a escravidão, uma chaga social que envergonhava o Brasil. Nesse processo de libertação da raça negra, destacava-se a figura do jangadeiro Dragão de Mar, por haver declarado que, pelo porto de Fortaleza, não embarcaria mais nenhum escravo. E, ainda, aprendi que, depois da abolição decretada em 25 de março de 1884, o patriarca da Independência, José de Bonifácio, cumulou o Ceará com o título de Terra da Luz.
Essa história preencheu meu imaginário de adolescente e colaborou para minha formação intelectual, passando a ser motivo de orgulho cívico o fato de ser cearense e ter nascido na Terra da Luz. Por isso, será fácil compreender com que júbilo e ansiedade recebo a Medalha da Abolição das mãos do senhor governador Cid Ferreira Gomes. A simplicidade de minhas palavras contrasta com a magnitude simbólica desta solenidade. Não me seria possível traduzir em palavras o momento mais importante de minha vida como cidadã cearense.
Ao receber a mais alta condecoração de meu Estado, renova-se o mesmo sentimento de admiração pela autoridade moral de meus conterrâneos abolicionistas. Sinto que ter nascido na Terra da Luz foi um privilégio de Deus. A esse privilégio de nascimento, tive a felicidade do casamento com Edson Queiroz. O destino me atribuiu o legado de continuar a tarefa desse empresário visionário, que partiu muito cedo. Para mim, se tornou uma verdadeira missão promover a educação, a cidadania e o bem-estar coletivo, ajudando o Ceará a se libertar da escravidão do atraso econômico. A cruzada contra o subdesenvolvimento está sendo empreendida através da multiplicação das atividades econômicas, que geram empregos e benefícios sociais. Na Universidade de Fortaleza, os jovens obtêm ascensão social pelos cursos superiores que são oferecidos para sua capacitação para o trabalho. Desde 1951, o Grupo Edson Queiroz dá emprego direto a 16 mil pessoas, a maioria cearense. Já a Unifor formou mais de 70 mil profissionais qualificados nos seus 40 anos de fundação completados na semana passada.
Saúdo as três personalidades que, comigo, estão sendo agraciadas com a Medalha da Abolição: o empresário Ivens Dias branco, a jornalista Adísia Sá e o artista Chico Anysio, "in memoriam".
Senhor governador, agradeço a comenda que o alto discernimento de vossa excelência houve por bem me conceder. Compartilho esta homenagem com minha família e com os colaboradores nas empresas do Grupo Edson Queiroz. A Medalha da Abolição será guardada com o carinho de uma cearense que aprecia o valor de seu simbolismo. Esta medalha me dá incentivo para cumprir minha missão e enfrentar novos desafios.
Muito obrigada".
Condecoração homenageia pessoas que atuam com coragem
Governador Cid Gomes disse em discurso que o Ceará deve seguir os passos dos homenageados da noite
"Cento e vinte nove anos atrás - naquele 25 de março, o Ceará tornou-se a primeira província brasileira a libertar os escravos. Dessa forma, os cearenses se antecipavam em quatro anos a Lei Áurea. Eram os primeiros estágios do pioneirismo que marcaria a história do Ceará e que se estenderia até os nossos dias. Hoje, não há mais escravos para libertar. Ou então, as senzalas mudaram de endereço. É que persistem desigualdades e outras mazelas sociais que tramam contra a nossa liberdade, o nosso desejo e o nosso direito de vivermos em uma sociedade próspera, feliz e solidária.
A Medalha da Abolição, a mais alta comenda outorgada pelo governo do Estado, vem distinguir aqueles que, nos dias atuais, agem com a mesma coragem e o mesmo ímpeto precursor que inspiravam os abolicionistas no século 19. Os métodos utilizados, nas cruzadas atuais, evidentemente diferem daqueles empregados pela sociedade cearense libertadora, onde transitavam figuras do porte de João Cordeiro, Isac Amaral, Antônio Bezerra, Justiniano de Serpa, Pedro Borges e tantos próceres abolicionistas.
Hoje, o instrumento utilizado para provocar mudanças é o trabalho sério e incansável, é o compromisso social, é a força da inteligência, é a capacidade de produzir e, das mais diferentes formas, contribuir para o avanço social e econômico. No Ceará, mais do que nunca, é hora de arregaçar as mangas. Atravessamos, em nosso Estado e em todo o Nordeste, uma quadra de dificuldades impostas pela seca prolongada, que trouxe perdas para a lavoura e a pecuária. Mas não perdemos a esperança nem a capacidade de lutar. Somos cearenses, somos forjados com a têmpera da resistência e, na medida em que os desafios se apresentam, estamos buscando e encontrando soluções.
No último dia 19, consagrado ao nosso São José, o governo do Estado lançou um pacote de ações voltadas para o abastecimento de água, destinado a atender a mais de 11 mil famílias. As 88 obras previstas envolvem recursos superiores a 39 milhões de reais, sendo esta a maior liberação já autorizada dentro do Projeto São José. O propósito é trazer água de açude, poço, adutora ou até de reservatórios mais distantes para entregá-la àqueles que dela necessitam. Sabemos que, tão logo os sertões sejam abençoados pela chuva, o sertanejo voltará ao campo e recobrará toda a sua inesgotável capacidade de trabalhar e produzir.
Ações de convivência com a seca estão sendo executadas pelo governo do Estado e governo federal. Entre elas estão o Eixão das Águas, o Cinturão das Águas do Ceará, adutoras - sendo 95 quilômetros emergenciais para suprir o abastecimento de água em nove municípios -, sistemas de abastecimento de água, barragens e açudes, que vão beneficiar mais de um milhão e duzentas mil pessoas. Essas ações somam quase três bilhões de reais.
Neste momento, o nosso papel é distribuir água de imediato, as sementes na hora certa, a confiança o tempo inteiro. Bem mais que isso, precisamos levar para o Interior aqueles benefícios que no passado eram oferecidos apenas na Capital - saúde, educação, segurança, habitação e lazer. Os investimentos que temos feito na área da saúde são ilustrativos desse propósito. Resultam, de fato, de uma decisão política ousada: edificar, no Ceará, a melhor rede de saúde pública do País. Estamos caminhando nessa direção.
São 22 policlínicas, 17 centros de especialidades odontológicas, 32 unidades de pronto atendimento 24 horas. Dois hospitais regionais já foram entregues e estão funcionando - o Hospital Regional do Cariri e o Hospital Regional Norte. Com obras em andamento, temos o Hospital Regional do Sertão Central e em fase de contratação o Hospital Regional Metropolitano. Todos os hospitais do governo do Estado foram reformados e ampliados. É nisso que empregamos os recursos arrecadados por meio dos impostos. É para isso que estabelecemos as indispensáveis parcerias.
A política de segurança também exemplifica o modo como encaramos o desafio de governar com equidade, lançando olhar sobre o Ceará inteiro. Embora seja um grande desafio, o elenco de iniciativas vem sendo cumprido com muita determinação com a criação do programa Ronda do Quarteirão, hoje estendido às cidades com mais de 50 mil habitantes; implantação do Pró-Cidadania, que estimula a criação de guardas civis em municípios com menor população; mais que dobramos o número de delegacias - em 2007 eram 44, e de lá pra cá inauguramos mais 50; ampliação dos efetivos das polícias civil e militar; e construção de novas casas de detenção, dentre outras iniciativas.
Podemos assegurar que, em toda a história do Ceará, jamais a segurança pública recebeu tantos recursos e experimentou um reforço tão importante como nos dias atuais. Por tudo isto, e por muito mais, é tempo de celebrar o mérito e aplaudir os personagens que estão ajudando o Ceará a escrever uma nova história, onde não deve haver capítulos para a miséria, a doença, o desemprego, a triste partida dos retirantes.
Senhoras e senhores, as personalidades distinguidas, em 2013, com a Medalha da Abolição habitam há muito tempo a galeria dos construtores da modernidade cearense. São quatro os agraciados. Três deles aqui estão, em pleno estágio produtivo de sua existência, brindando-nos com sua enriquecedora presença, compartilhando conosco experiências e conhecimentos. Um quarto nome habita o território de nossas saudades.
A professora Adísia Sá e os empresários Ivens Dias Branco e dona Yolanda Queiroz, com sua própria luz, trazem brilho e prestígio para a honraria que recebem do governo do Estado - e, com certeza, todos que aqui se encontram - se sentem agraciados por tê-los em nosso meio, oferecendo lições de vida e de entusiasmo, tão necessárias em um país que quer deixar para trás uma crônica secular de subdesenvolvimento e atraso para elevar-se ao patamar das nações desenvolvidas.
Nosso quarto homenageado - o escritor, poeta, humorista, compositor, diretor e artista plástico Chico Anysio - já não se prende a essa dimensão concreta, mas continua extremamente presente em nosso coração. Os mais de 200 personagens que encarnou, durante décadas, em todos os palcos do País, não permitem que sua memória se apague. Chico Anysio partiu somente porque essa era uma diligência necessária para que se eternizasse. Expressão maior do talento e criatividade cearenses, ele se fez merecedor da Medalha da Abolição, que há de receber como mais um gesto de carinho de seu povo.
Nesta noite, aqui se perfila a professora Adísia Sá, uma gigante pela dimensão moral. Presença extremamente enriquecedora na mídia cearense, ela se sobressai pela inteligência, a sagacidade, a sinceridade, a coragem de dizer o que precisa ser dito. Com um pé na sala de aula e o outro no jornal, Adísia pratica um jornalismo pedagógico - de um lado, ensinando seus leitores e ouvintes a enxergar a verdade dos fatos; do outro lado, ensinando seus próprios pares da Comunicação a exercer com dignidade e muita ética o nobre ofício de informar, elucidar, comentar e criticar,
Aqui se apresenta o industrial Ivens Dias Branco, esse filho de imigrante que aprendeu com o pai uma lição eterna: o amor ao trabalho. A construção do conglomerado industrial, que hoje comanda, foi uma caminhada que teve início nos anos 50 e na qual ele empenhou não apenas o talento empresarial, mas também o caráter cortês e a sensibilidade social. Ivens é uma dessas pessoas que, por suas qualidades humanas, souberam conquistar, ao mesmo tempo, respeito e admiração, agregando ao seu patrimônio um imensurável círculo de amizades - provavelmente, o seu maior tesouro.
Aqui também se encontra, recebendo o nosso aplauso e nosso afeto, dona Yolanda Queiroz. Habituei-me a admirar dona Yolanda, em primeiro lugar, por sua serenidade e delicadeza, que parecem não ter limites. Mas não perdi de vista aquela mulher muito especial que um dia conheceu Edson Queiroz. Com ele foi feliz, construiu uma ilustre família, e hoje lidera um dos maiores grupos empresariais do País. Discreta e gentil, ela oferece contribuição valiosa para a construção de um mundo melhor. Basta lembrar os vultosos recursos que suas empresas destinam, todos os anos, ao meio ambiente, assistência médico-odontológica, creches e capacitação profissional. Dona Yolanda encarna, com perfeição, o espírito da Medalha que hoje recebe.
Meus amigos, assim caminha o Ceará. As figuras que nesta noite tomam assento no pódium da nossa gratidão são aquelas que protagonizam a nossa história nos dias atuais. E o fazem trabalhando, oferecendo exemplos de dignidade, exercitando a generosidade.
É destes ingredientes que nosso Estado precisa para continuar crescendo mais rapidamente que o resto do País. Vale lembrar que, no ano passado, o PIB do Ceará cresceu quatro vezes mais que o do Brasil. Obtivemos 3,65% de crescimento, enquanto o Produto Interno Bruto nacional ficou em 0,9%.
Chico Anysio, professora Adísia, Ivens Dias Branco e dona Yolanda nos mostram caminhos. Vamos, pois, seguir seus passos, acolher suas lições. E aplaudi-los.
Muito obrigado".
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