O diretor de Satélites da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Gurgel, declarou ontem, em visita à Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ceará (Secitece),que o Estado deve receber, nos próximos anos, um núcleo de inovação tecnológica para estudos aeroespaciais. O objetivo, segundo ele, é tornar a região referência no assunto, a fim de aproveitar a capacidade que as escolas locais têm para formar estudantes qualificados para essa área, como os vários que são aprovados anualmente para estudar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
"Com isso, futuramente, o Ceará pode receber uma base de lançamentos de pequenos foguetes, pois tem potencial para isso e uma posição geográfica privilegiada. No entanto, por enquanto, não é isso que estamos procurando agora, mas sim fomentar esse tipo de pesquisa", disse.
O diretor reuniu-se ontem, em Fortaleza, com o titular da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Estado (Secitece), Renê Barreira, para tratar dos planos de fortalecer a atuação cearense em pesquisas espaciais. O interesse pelo encontro partiu da própria AEB.
A agência sugere ainda que sejam abertos cursos na Universidade Federal do Ceará (UFC) na área, com apoio dos profissionais formados pelo ITA. A AEB é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), responsável por formular e coordenar a política espacial do país.
Primeira vez
Esta é a segunda vez que o Estado entra nas discussões do programa espacial brasileiro. Em 2008, o Ministério das Ciência e Tecnologia (MCT) teria pleiteado com o governo estadual uma área litorânea de três mil hectares livres e com condições apropriadas para a instalação de uma base espacial. Segundo chegou a ser informado pela imprensa nacional em 2009, este terreno se localizaria nas proximidades do Porto do Pecém. Dessa vez, Gurgel revelou que o Estado já se candidatou para receber uma base de lançamentos de foguetes, e disse ainda que Jijoca de Jericoacoara, onde fica uma das mais famosas praias do Ceará, seria uma boa opção.
O diretor de Satélites da AEB, Carlos Gurgel, elogiou a capacidade que as escolas cearenses têm em preparar alunos para serem aprovados no ITA.
Problemas em Alcântara
A procura do MCTI se justificaria porque o Complexo Espacial Brasileiro (CEB) enfrentava, como ainda enfrenta, dificuldades pela falta de terras próximas ao Centro de Lançamento de Foguetes de Alcântara, no Maranhão.
À época (2009), uma decisão do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que decretou como área quilombola 78 mil hectares dos 114 mil que constituem a península de Alcântara, complicou a situação. Em matéria do Diário do Nordeste, em julho daquele ano, fontes do governo descartavam a utilização de áreas no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), já destinadas pata outros fins. Assim, Jijoca ganha força, caso o empreendimento se concretize.
Distância do Equador
A base de Alcântara, por estar próxima da Linha do Equador, a apenas 2,2 graus de distância, permite o lançamento de satélites com redução de 30% do gasto de combustível, garantindo, assim, competitividade ao programa. A expectativa é de que os dois países, Brasil e Ucrânia, obtenham US$ 50 milhões por lançamento. O Pecém, inicialmente cogitado, encontra-se a 3,2 graus do mesmo ponto. Já Jijoca de Jericoacoara está em condições geográficas ainda mais competitivas que o Pecém, pois se encontra a 3 graus da linha.
O programa espacial, nos moldes que está concebido, prevê gastos de R$ 1 bilhão, a serem divididos entre ambos os países. O Programa Nacional de Atividades Espaciais (Pnae) 2012, segundo informado na página eletrônica da AEB, estimava gastos de R$ 112 milhões, somente no ano passado, para a implantação do Complexo Espacial de Alcântara, além de outros R$ 85 milhões de participação na União do capital da ACS e de R$ 1,8 milhão no funcionamento do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão.
O governo brasileiro já investiu R$ 390 milhões na ACS nos últimos seis anos. Contudo, a conclusão do veículo lançador de satélite não deverá ocorrer antes de 2014.
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