No Brasil, quase metade da população ainda não tem cobertura completa de saneamento e isso se reflete no dia a dia. Cagece e Ambiental Ceará querem aumentar redes de esgoto na Região Metropolitana de Fortaleza e no Cariri.

Por g1 CE

Costuma-se entender o que é saneamento básico pela falta dele: lixo e esgoto espalhados pelas ruas, escassez de água potável, doenças causadas pela poluição urbana, entre outros. No Brasil, quase metade da população ainda não têm cobertura completa de saneamento e isso se reflete no dia a dia para além do que foi citado acima.

Dados da pesquisa “Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento no Ceará” do Instituto Trata Brasil revelam o seguinte:

A ausência de coleta de esgoto traz problemas à saúde, com a incidência das doenças de veiculação hídrica e as enfermidades transmitidas por mosquitos;

As doenças causadas pela falta de água tratada e ausência do sistema de coleta e tratamento de esgoto acarretam prejuízos financeiros, com despesas privadas e públicas de saúde; e também prejudicam o mercado de trabalho, com o afastamento das pessoas de suas atividades profissionais;

Trabalhadores que residem em áreas sem saneamento básico têm a saúde mais precária e, com isso, acabam tendo um desempenho produtivo pior no mercado de trabalho e menos sucesso na carreira profissional. Isso acarreta, ainda, a diminuição da renda que eles podem obter;

Uma residência construída em área com saneamento básico, e devidamente conectada à rede de distribuição de água tratada e ao sistema de coleta e tratamento de esgoto, tem o valor elevado em mais de 35%, em comparação com as que não são ligadas a esses sistemas, de acordo com os dados da pesquisa do Instituto Trata Brasil;

A degradação ambiental causada pela falta de um sistema de coleta e tratamento de esgoto afasta os turistas, reduzindo as oportunidades de geração de negócios, emprego e renda nesse setor;

Cagece e Ambiental Ceará querem aumentar redes de esgoto na RMF de Fortaleza e do Cariri — Foto: Esdras Nogueira/Ambiental Ceará.

A expansão do saneamento resulta em investimentos na construção civil, que geram empregos diretos, indiretos e induzidos.

Para tentar mudar o cenário, a Ambiental Ceará junto com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), apostam na universalização do saneamento básico para levar o direito cidades da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e do Cariri cearense.

A ideia é garantir acesso à coleta e ao tratamento de esgoto para 90% da população de 24 municípios até 2033, chegando a 95% em 2040. São eles:

Fortaleza, Aquiraz, Caucaia, Cascavel, Chorozinho, Eusébio, Guaiúba, Horizonte, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacajus, Pacatuba, Paracuru, Paraipaba, São Gonçalo do Amarante, São Luís do Curu, Trairi, Barbalha, Farias Brito, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri.

Ainda segundo a pesquisa, os benefícios diretos da implementação das redes de esgoto nestes municípios podem chegar a R$ 15 bilhões, como a realização de obras e a operação do sistema; e as melhorias indiretas da universalização, a exemplo da redução com os custos em saúde e as rendas geradas com valorização imobiliária e atividades turísticas.

'A universalização é garantir o acesso. A cada 100 casas, 90 vão ter em frente à sua rua um sistema público de esgoto, que é composto por uma rede coletora, que são tubulações que ficam na via e vão coletar aquele esgoto que vem dos banheiros, da cozinha', exemplificou ao g1 André Facó, diretor-presidente da Ambiental Ceará.

Após passar por essas tubulações, o esgoto segue para uma estação de tratamento, onde é removida a impureza e para que a água restante seja devolvida ao meio ambiente. Ainda conforme André, o esgoto é composto por pelo menos 99% de água.

Dados preocupam

No Brasil, 45% da população ainda não tem acesso a serviço adequado de esgoto

A realidade de tratamento adequado, no entanto, não é experienciada por quase metade da população brasileira. Pelo menos 100 milhões de habitantes - cerca de 44,2% - do país não têm sistema de esgoto funcionando, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS 2021.

Confira como se comportam outros dados:

55,8% da população tem rede de esgoto;

Quase 100 milhões de brasileiros (44,2%) não têm acesso à coleta de esgoto.

3,1% das crianças e adolescentes não possuem banheiro em casa;

34 municípios entre as 100 maiores cidades do Brasil têm mais de 90% de sua população atendida com rede de esgoto.

O Nordeste fornece rede de esgoto para 30,2% (16,9 milhões) da população;

35,5% do esgoto é tratado no Nordeste.

"No Ceará, em 184 municípios, a gente tem 30% de cobertura. A cada 100 casas, 30 têm esse sistema público de esgotamento sanitário", comentou André Facó.

A Parceria Público-Privada pretende chegar a 4,3 milhões de cearenses.

"Com o saneamento, você vai ter menos doenças. Existem doenças que ocorrem pela falta de saneamento, como a diarreia, leptospirose, hepatite. E tem também doenças respiratórias pela falta de água adequada. A gente acabou de vir por uma doença de transmissão viral (Covid-19). A saúde é muito afetada em ambientes que não têm saneamento, seja água ou esgoto", apontou Facó.

O projeto quer diminuir a desigualdade sanitária em pelo menos dez anos. O diretor ressalta, ainda, que o tempo de execução de cada rede de esgoto é específico, porque leva em consideração o contexto da região. Uma rua menos movimentada, por exemplo, pode ganhar uma obra mais acelerada. Já aquelas que têm comércios e outros estabelecimentos, exigem diferente cronograma.

‘Gosto de falar que o saneamento talvez seja o maior programa de proteção social. É o maior programa, talvez, de combate à vulnerabilidade social. Não tem país desenvolvido que não tenha resolvido o problema de saneamento básico', concluiu André.