VAQUEIROS DE CANINDÉ: Projeto une escritora e aboiadora

Canindé. Nessa viagem cultural que o "Projeto A Rainha e os Vaqueiros, Aboios o Som do Sertão" está proporcionando ao povo cearense, é resgatada duas histórias diferentes que se misturam ao cotidiano daqueles que respiram cultura.

O abraço de Dina Martins na estátua de Rachel de Queiroz, é um gesto que une duas gerações em uma só época. Rachel foi a primeira mulher escritora a entrar para Academia Brasileira de Letras. Dina, a primeira mulher a montar a cavalo

De um lado o Ceará de Rachel de Queiroz, a primeira mulher escritora a entrar para Academia Brasileira de Letras. Do outro lado, a mestra da cultura Dina Maria Martins, a primeira mulher a montar a cavalo e participar de vaquejadas, pega de boi e aboiar ao lado de Luiz Gonzaga. São encontros inusitados que unem o imortal e o real. Rachel de Queiroz que ganhou estátua na sua terra natal, Quixadá, antes de deixar nosso convívio na Fazenda Não me Deixes, deixou um legado histórico que relaciona o vaqueiro e o sertão, ao escrever obras como "O Quinze", "Memorial de Maria Moura", entre outros livros que retratam nossa história sertaneja.

Dina Maria Martins elevou o nome de sua cidade Natal, Canindé, além fronteiras com seu aboio e sua coragem de vestir roupa de couro e entrar na Caatinga fechada para participar das festas de apartação.

O abraço de Dina Martins na estátua de Rachel de Queiroz é um gesto que une duas gerações em uma só época. Literatura, aboios, vaqueiros se misturam num só sentido. A cultura.

Valores

Para o poeta e escritor Pedro Paulo Paulino, Rachel de Queiroz e Dina Martins "são valores que formam um leque diferenciado no imaginário e olhar de uma gente que a cada dia não perde e nem deixa o foco de que a cultura se manifesta de várias maneiras. Para isso, basta que as pessoas, com pensamento amplo, mantenham acesa essa chama".

O "Projeto a Rainha e os Vaqueiros, Aboios o Som do Sertão" eleva o sentimento do homem sertanejo, que mesmo com suas adversidades nunca perde a esperança de que a vida pode mudar a qualquer momento, para isso basta que ele acredite na luta e na coragem.

As músicas interpretadas durante o show - cantadas em épocas diferenciadas por Luiz Gonzaga, traz o passado para o presente atual. Basta sentar em um banco de qualquer espaço cultural que esteja sendo mostrada a saga dos vaqueiros nordestinos, para sentir isso de perto.

Exemplo maior é a música a "Volta da Asa Branca", um verdadeiro clássico sertanejo que retrata os dias atuais, com a grande seca no sertão. Para Fernanda Gomes, o Projeto tem uma grande finalidade que é manter viva essa tradição cultural que a cada dia ganha novos simpatizantes.

Quem ainda não conhece essa viagem, é bom ficar atento e tirar um pouco do seu tempo e participar de uma longa viagem muitas das vezes feita em estradas ruins, mas que tem um só objetivo: não deixar morrer uma das tradições a cultura popular. Dona Dina é a "Rainha dos Vaqueiros". É vaqueira e aboiadora desde os 14 anos e já virou inspiração para filmes, cordéis, livros e matérias jornalísticas. Fundou a Associação dos Vaqueiros e Aboiadores do Sertão Central, com sede em sua cidade, Canindé, e a preside desde então, já em seu sexto mandato. Dona Dina Tornou-se a maior incentivadora dos costumes e tradições do vaqueiro no Ceará, seja por meio da Associação ou de sua luta individual.

Orgulho

Tem uma vida voltada para a cultura popular. Ajuda em projetos como missas, vaquejadas, cavalgadas, aniversário de vaqueiros, festas de apartação, corridas de mourão, enfim, carrega sobre os ombros a história real do homem do sertão. Para ela, essa profissão é o seu grande orgulho. "Sinto-me feliz e realizada em ser vaqueira. Essa é minha faculdade", orgulha-se.

Quem convive com Dina Martins sabe da importância de sua participação nas grandes festas que envolve a figura do vaqueiro, afinal foi ela ao lado de frei Lucas Dolle, Juarez Coutinho e do inesquecível poeta popular de Canindé, Raimundo Marreiro, que o Brasil viu ser celebrada a primeira missa em homenagem a essa figura ilustre e tão popular, o vaqueiro.

ANTÔNIO CARLOS ALVES
COLABORADOR