MEIO AMBIENTE: Coleta seletiva de lixo tem alcance social em Crateús

Crateús. Este é um dos poucos municípios do interior do Ceará que vem trabalhando a coleta seletiva. Social e ambientalmente viável, o programa engatinha no sentido do alcance da viabilidade econômica para a gestão municipal, segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semam), órgão executor da iniciativa. De acordo com relatório apresentado pela Semam, as dificuldades dizem respeito ao volume coletado seletivamente baixo, mercado instável e a operacionalização da ação.

Mesmo assim, considera que o programa superará os atuais desafios, com o aperfeiçoamento e expansão do serviço, construção de novas parcerias, bem como com a solidificação da Associação dos Catadores, que tem menos de um ano de fundação.

O relatório aponta que o custo mensal da Prefeitura por quilograma de resíduo coletado é maior que o valor médio de venda, indicando a fragilidade econômica do programa.

O entendimento é que é preciso reverter essa situação por meio da ampliação do volume do material coletado, superação das dificuldades operacionais e de mercado.

"O esforço é pela sustentabilidade futura do programa, que já está trazendo grandes ganhos ambientais, como a limpeza da cidade e o cuidado com o meio ambiente, bem como ganhos sociais gerando renda para as famílias dos sócios da Associação. Com a maturidade da ação, alcançaremos a viabilidade econômica com a maior quantidade de material coletado e a comercialização. E isso é questão de tempo", afirma o secretário municipal de Meio Ambiente, Wanderley Marques.

O programa foi implantado em fevereiro na sede e já atua em oito bairros. E em dois distritos da zona rural. A Semam conta com o apoio do Conselho de Políticas e Gestão ambiental (Conpam), Projeto Mata Branca, Instituto Brasil Solidário, Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Ceará (Arce) e a Associação dos Catadores Recicratiú.

O programa de coleta seletiva, desenvolvido em parceira com os poderes público e privado, tem gerado ocupação e renda por meio da inclusão de catadores de materiais recicláveis na gestão dos resíduos sólidos do município, além de buscar a sustentabilidade ambiental.

Análise

De acordo com o relatório, que tem por objetivo analisar os desafios e as perspectivas do programa de coleta seletiva desenvolvido no município, assim como apontar alternativas para melhorar a eficiência e a sustentabilidade do programa, a Prefeitura investe em torno de R$ 7 mil mensais no serviço (caminhão para coleta, energia e despesas em geral) e a Associação tem uma receita aproximada de R$ 3 mil/mês. A renda é rateada entre os 12 catadores.

Da análise dos indicadores das dimensões social, operacional e econômica, foi possível observar a situação atual, suas conquistas e dificuldades, assim como estabelecer novas metas e projeções para o aperfeiçoamento e a continuidade do programa de coleta seletiva do município.

Social

A coleta seletiva é realizada em oito dos 18 bairros do município, em dias alternados à coleta convencional, com apoio de caminhão alugado pela Prefeitura. Antes da criação do programa, os catadores filiados trabalhavam diretamente no lixão, ou em catação na zona urbana, de maneira insalubre.

Sustento

Se para a Prefeitura o Programa ainda é inviável economicamente, para os catadores significa o sustento da família e um trabalho bem mais digno do que no lixão local.

Manoel Ferreira que o diga. Há 20 anos no lixão, desde o início do ano aguardava uma vaga na Associação junto aos filhos, que já tinham garantido suas vagas no início do programa. E sonhavam em levar o pai.

"A renda aqui é quase a mesma, mas trabalho bem menos, na sombra, com condições melhores, sem poeira e insetos. E ainda recebo cesta básica. Estou me sentindo bem melhor e vejo que pode melhorar e ganhar um pouco mais", diz.

Sérgio Wilson, filho de seu Manoel, é o vice-presidente da Recicratiú, também está satisfeito com o trabalho desenvolvido. "Muito melhor que no lixão, é na sombra, tem os equipamentos e estou satisfeito com o que faço aqui", conta.

De acordo com eles, a renda mensal é entre R$ 300 e R$ 400. Wilson conta que está aprendendo a negociar com os compradores do material e acredita que a tendência é da iniciativa crescer.

As pessoas que trabalham com a coleta de materiais recicláveis, em sua grande maioria, vivem em situação de vulnerabilidade social.

O programa tem como característica principal a valorização e a capacitação desses trabalhadores. Diversas atividades já foram realizadas nesse sentido, como rodas de conversa, cursos de associativismo, fortalecimento da autoestima, vídeos motivacionais e dinâmicas de grupo.

Mais Informações:

Semam, Centro de Treinamento, Altamira: (88) 3692.3315/ Recicratiú, Rua José Sabóia Livreiro, 1661 - tel.: (88) 92441.230 – Altamira

 

Objetos sem valor viram negócio nas mãos dos catadores de lixo

Galpão onde é realizada a triagem dos resíduos coletados no município de Crateús. O trabalho se tornou economicamente viável´ para os catadores e que atuam no antigo lixão local, oferecendo assim melhor qualidade de vida

Crateús. Uma garrafa plástica ou vidro pode levar um milhão de anos para decompor-se. Uma lata de alumínio, de 80 a 100 anos. Uma sacola plástica, dessas que recebemos todos os dias como embalagem para produtos que adquirimos nos supermercados, padarias e lojas em geral, também centenas de anos. Porém, todo esse material pode ser reaproveitado, transformado em novos produtos ou matéria-prima, diminuindo a poluição, poupando o meio ambiente e contribuindo para o nosso bem estar no futuro. E gerar renda.

E esse é um dos grandes desafios das administrações públicas em todo o mundo: dar um destino adequado ao lixo. Alguns países, porém, já descobriram como transformar objetos sem valor em um grande negócio.

Economia de energia, menos poluição da água, ar e solo, melhoria na limpeza das cidades, por exemplo, por si só já justificariam os esforços que alguns municípios fazem para coletar e reciclar os resíduos gerados pela suas populações.

Imagine, então, que com um quilo de vidro quebrado se faz um quilo de vidro novo e que a cada 50 quilos de papel reaproveitado se evita de cortar uma árvore. Some-se ainda a essa conta o fato de que a quantidade de lixo produzida por cada ser humano é de aproximadamente 5 quilos, de acordo com especialistas em meio ambiente. E ainda que: em torno de 88% do lixo vai para os aterros sanitários. Imagine, então, a quantidade imensa de material que estão nos aterros ou nos famosos "lixões" que poderiam ser aproveitados, reciclados, transformados.

Empregos

Um benefício da reciclagem é a quantidade de empregos que ela tem gerado nas grandes cidades. Muitos desempregados estão buscando trabalho neste setor e conseguindo renda para manterem suas famílias. Cooperativas de catadores de papel e alumínio já são uma boa realidade nos centros urbanos do Brasil. Se o homem souber utilizar os recursos da natureza, pode-se ter, muito em breve, um mundo mais limpo e mais desenvolvido.

Muitas campanhas educativas têm despertado a atenção para o problema do lixo nas grandes cidades. Cada vez mais, os centros urbanos, com grande crescimento populacional, têm encontrado dificuldades em conseguir locais para instalarem depósitos de lixo. Portanto, a reciclagem apresenta-se como uma solução viável economicamente, além de ser ambientalmente correta.

Nos países desenvolvidos, como a França e Alemanha, a iniciativa privada é encarregada do lixo. Fabricantes de embalagens são considerados responsáveis pelo destino do lixo e o consumidor também tem que fazer a sua parte. Por exemplo, quando uma pessoa vai comprar uma pilha nova, é preciso que entregue a usada.

Entre os países que mais reciclam estão os Estados Unidos, o Japão, a Alemanha e a Holanda. 

Municípios

No Brasil, a coleta seletiva é insipiente, embora venha sendo ampliada nos últimos anos. Menos de 10% dos municípios realizam programas dessa natureza. Em algumas cidades a iniciativa municipal, que é responsável pela coleta dos resíduos, realiza e massifica a coleta seletiva.

Cooperativas de catadores de lixo e empresas privadas realizam o trabalho, enxergando na atividade uma forma de ganhar dinheiro. Os municípios de Curitiba (PR), Itabira (MG), Londrina (PR), Santo André (SP) e Santos (SP) investem na coleta seletiva, feita em 100% das residências, podem ser tomados como exemplos.

Na cidade de Curitiba, no Estado do Paraná, por exemplo, a fórmula que deu certo inclui o uso de caminhões que recolhem apenas o lixo seco, sem nenhum resto orgânico. O resultado: o lixo fica mais limpo e acaba vendido por um preço mais alto às indústrias de reciclagem. Isso ajuda a tornar o sistema de coleta seletiva em Curitiba mais barato e viável que o da maioria das cidades brasileiras.

SILVANIA CLAUDINO

REPÓRTER   dn