Este já é o terceiro incêndio no Parque do Cocó neste ano, que reacende a preocupação com a preservação
A fumaça que se espalhava pela Cidade 2000, na tarde de ontem, anunciava mais um incêndio de grandes proporções no Parque do Cocó, o terceiro somente neste ano. Do alto dos prédios, era possível ver parte da vegetação já sofrida ser, rapidamente, consumida pelo fogo. O Corpo de Bombeiros estima que uma área equivalente a seis campos de futebol tenha sido destruída.
Das varandas dos prédios, os moradores das imediações viram o incêndio e acionaram os bombeiros para combater as chamas
O incêndio foi identificado pelos moradores por volta das 13h30, que chamaram os bombeiros imediatamente. A luta dos brigadistas contra as chamas começou às 14 horas, mas o fogo só foi controlado às 16h30. A Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) deve ir amanhã ao local para apurar as causas do incêndio no Cocó. O laudo deve sair na próxima quinta-feira.
A representante comercial Marúcia Mendes informa que os focos de incêndio vêm sendo recorrentes. Ela mora na Avenida Padre Antônio Tomás, próximo ao parque, e faz parte de um grupo composto por 42 síndicos da Cidade 2000 que lutam pela preservação do Cocó.
"Somos os vigias do parque. Mantemos contato direto com os órgãos responsáveis para denunciar qualquer tipo de agressão a essa área que está sendo completamente devastada", fala, ressaltando que os incêndios são ocasionados por pessoas que buscam descaracterizar o parque para construir empreendimentos imobiliários.
O advogado e membro do movimento SOS Cocó, Arnaldo Fernandes, lembra que a cidade perdeu, em 35 anos, cerca de 90% de sua cobertura natural. Os dados são do último Inventário Ambiental de Fortaleza, de 2003. Para ele, atualmente, esse número é ainda maior. O advogado acredita que o Parque do Cocó, por ser a área verde mais importante da cidade, é a que sofre maior assédio da especulação imobiliária.
"A gente não pode acusar ninguém, mas há um grande intuito de descaracterizar o parque, tirar seu valor ambiental e, assim, criar um direito à construção de prédios, por exemplo.
Regulamentação
Na opinião de Arnaldo Fernandes, isso acontece porque o Governo do Estado ainda não regulamentou o parque. "A postura do poder público em defesa do meio ambiente é ineficaz para coibir esses abusos. As queimadas no parque são recorrentes".
Para ele, o que ainda dá uma certa segurança à população são os mangues, os recursos hídricos e as dunas vegetadas do Cocó que encontram-se em Área de Preservação Permanente (APP).
"Mas não é suficiente. É preciso criar uma Unidade de Conservação e Proteção Integral, com a demarcação definitiva da área, que seja totalmente pública e não haja nenhum tipo de construção. Porque há um crescimento desenfreado não só no Cocó, como em outros locais de Fortaleza", avalia.
RAONE SARAIVA
REPÓRTER
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