De vacina a transporte de órgãos: a rotina de batedores que abrem o trânsito e ajudam a salvar vidas

“A função do motociclista batedor, faz você vê que está sendo útil para a sociedade”, detalha um batedor,

Legenda: Em meio a pandemia, a ocupação ganhou mais um significado: acompanhar a distribuição dos lotes de vacina que chegam na Capital cearense - Foto: Arquivo pessoal

Escrito por Redação

Trajeto da esperança: motociclistas batedores da AMC relatam detalhes da experiência de escoltar autoridades, órgãos a serem transplantados e, agora, a vacina do novo coronavírus

Um trabalho que abre caminhos para que aqueles momentos que ficam na memória aconteçam. Essa é a função dos motociclistas batedores da Autarquia Municipal de Trânsito (AMC). Normalmente, a especialidade desses profissionais é auxiliar no transporte de órgãos a serem transplantados e escoltar autoridades do País. Mas, em meio a pandemia do coronavírus, a ocupação ganhou mais um significado: acompanhar a distribuição dos lotes de vacina que chegam na Capital cearense. “Para a gente representa a chegada de uma solução de um problema mundial”, expressa Joel Ferreira Façanha, 43, membro da equipe de batedores. 

A rotina não é a mesma todos os dias, porém, esse é um dos fatores que torna a profissão gratificante, como diz José Agamenon Pergentino de Andrade, 49. “A função do motociclista batedor, seja com autoridades ou com a vacina, por exemplo, é de fazer com que haja uma agilidade no trânsito. É gratificante porque tanto eu, que participei já algumas vezes e participei da formação dos agentes, a gente vê que é uma coisa que nos satisfaz. Você vê que está sendo útil para a sociedade”, detalha.

José Agamenon é um dos membros mais antigos do setor de batedores. O trabalho como agente de trânsito começou em 1999, e em 2002, ele recebeu um convite para fazer o curso de motociclista batedor da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Logo depois, surgiu a oportunidade de ministrar o curso na AMC. “Todos os agentes que hoje são batedores, fizeram esse curso. Eu fui o primeiro instrutor, depois os que se formaram foram instrutores também”, diz orgulhoso.

A função de acompanhar o transporte de órgãos começou aos poucos, com pequenas experiências bem sucedidas. “Uma vez a gente foi chamado para os primeiros transplantes e a equipe de batedor agilizou bastante o translado da ambulância, e aí começaram a chamar a gente. E depois vieram as escoltas de autoridade, aí teve a Copa das Confederações, a Copa do Mundo, que a gente ficou fazendo a escolta das seleções”, explica Marcos Antônio Martins de Sousa, 49, batedor há 16 anos e instrutor do curso. 

Para ele, a efetividade da distribuição das vacinas não seria a mesma, caso não houvesse profissionais especializados para promover um transporte seguro e rápido.

“O trânsito de Fortaleza hoje é bastante pesado e, apesar de ser um atividade que gera um risco de acidentes, porque a gente está em cima de um veículo de duas rodas, a gente impõe um ritmo de velocidade para poder ganhar espaço a frente do comboio, mas existe todo um treinamento, a gente não faz isso aleatoriamente”, informa. “A sensação que nos dá é prazerosa, dá orgulho na gente fazer essa função de agilizar o tempo da vacina”, complementa.

Trabalhando na pandemia

Assim como outros serviços, os agentes da AMC não estagnaram sua atuação durante o pico da pandemia de Covid-19, no entanto, a função de batedor foi reduzida, assim como os transplantes. “A gente trabalhou mais na demanda da cidade mesmo”, confirma Joel Ferreira. 

Dessa forma, o trabalho passou a ser guiado por um sistema de revezamento, para evitar a aglomeração de agentes. Em janeiro, foram realizados dez transportes de lotes de vacina, e em fevereiro, os batedores foram responsáveis por escoltar o Ministro da Justiça e Segurança Pública (MJSP), André Mendonça. “ Foi bem rápido, a gente conseguiu fazer o translado do primeiro lote com bastante agilidade. A cada lote que chega, a gente está acompanhando”, conta Marcos Antônio. 

“Para mim, pessoalmente, foi um momento de muita alegria. O medo se alastrou pelo País e no mundo, e todo mundo ficou ansioso pela vacina”, comemora Joel. 

Experiências que marcam

Ajudar a distribuir a vacina de Covid-19 é um novo feito que os batedores podem se orgulhar de ter participado. Entretanto, as grandes memórias que marcaram a atuação de Agamenon e Marcos Antônio envolvem o transplante de órgãos. 

“Eu tive um momento muito marcante na minha vida que foi em um transplante de coração de uma criança, que eu tive a oportunidade de ver no Instituto Doutor José Frota (IJF) uma família chorando pela perda do filho, e quando eu cheguei no Hospital do Coração de Messejana, eu tive a oportunidade de ter contato com a outra família que também estava chorando, mas de alegria. Isso me arrepia até hoje, o fato de eu conseguir fazer alguma coisa por alguém”, relata emocionado.

A experiência de Agamenon foi um pouco mais além. Ele foi responsável pelo transporte de um coração que seria transplantado, e só tempos depois descobriu que o homem que recebeu o órgão era vizinho de seu irmão.

"Você conhecer uma pessoa que recebeu um coração que foi transportado e que você ajudou a levar, isso é muito gratificante. Ele teve Doença de Chagas e era vizinho do meu irmão. E depois que ele se recuperou, a gente conversou, falou as datas e deu certinho. Toda escolta você sente a adrenalina, sente aquele negócio e sabe que está sendo útil” 

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