Casa do Artesão de Sobral será inaugurada neste mês
Sobral A Casa do Artesão deste município tem inauguração prevista para o fim deste mês e vem para criar um espaço físico para a Associação dos Artesãos Sobralenses (Asas), que, há dez anos, atua na Praça do Theatro São João, às quintas-feiras. De acordo com a presidente da Asas, Maria Marcília Alves de Aguiar, o equipamento servirá como vitrine para os produtos, pois possuirá loja permanente.
"Hoje, quem vem a Sobral não encontra uma lembrancinha tipicamente sobralense se não for à Feira do Artesanato, às quintas-feiras, na praça, ou sábado, no Arco do Triunfo, que são nossos principais pontos. Essas feiras ocorrem apenas à noite", explicou a presidente. A casa será uma realidade graças à parceria com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Secretaria de Cultura e Desenvolvimento Econômico do Município.
Normas da associação
Perfil sobralense
Hoje, a Asas conta com 40 artesãos cadastrados oficialmente. Os demais estão no período de observação. De acordo com a coordenação, isso faz parte das normas da associação, pois muitas pessoas se empolgam com o movimento da feira e querem participar. Para o produto ser caracterizado como artesanato deve ser personalizado pelo artista, mesmo que não tenha sido produzido desde seu estado bruto. Assim são as peças para decoração, que agregam ao barro adereços com pinturas e materiais naturais. Além dos jarros, bolsas e sacolas, a feira dispõe, ainda, de chaveiros e arte em biscuit, caracterizando os principais pontos da cidade. Uma das novas abordagens será a embalagem da Casa do Artesanato, que trará o Arco do Triunfo como estampa.
Hoje, a Asas conta com 40 artesãos cadastrados oficialmente. Os demais estão no período de observação. Marcília explica que isso faz parte das normas da Associação, pois muitas pessoas se empolgam com o movimento da feira e querem participar. "Temos que ter um cuidado de não prejudicar os artesãos já presentes, por isso, observamos o tipo de artesanato que ele está trazendo, para que não choque com o que já existe", destaca Marcília.
Critérios
Para o produto ser caracterizado como artesanato, ela explica que o trabalho deve ser personalizado pelo artista, mesmo que não tenha sido produzido desde seu estado bruto. "Você pode comprar uma caixa em MDF cru e pintar, criar uma estampa, e isso caracteriza como artesanato. A criação de peças próprias em bijuterias com uso de fibras naturais como couro, o trançado e o crochê, também pode ser considerado artesanato".
Sobre o artesanato como patrimônio histórico e cultural, ela diz que a pessoa tem que acreditar realmente na ideia. "Porque quem vai comprar pergunta o motivo da estampa e da blusa, como a Casa do Capitão Mor, por exemplo. Aí a gente vai e explica o que ela representa. É como se, para cada cliente, déssemos uma pequena aula de história. Você tem que vestir a camisa a fim de que seja difundido o artesanato sobralense", afirma.
Incentivo
Segundo o coordenador do artesanato no Sebrae em Sobral, Tomaz Machado do Carmo, as duas últimas edições do Mercado do Artesanato foram trabalhadas com o intuito de incentivar o profissional a trabalhar mais com a cultura local, valorizando as tradições da região.
Além das bolsas e sacolas, a feira dispõe, ainda, de chaveiros e arte em biscuit, caracterizando os principais pontos da cidade. Uma das novas abordagens será a embalagem da Casa do Artesanato, que trará o Arco do Triunfo como estampa.
Outra manifestação da cultura regional apontada pelo coordenador é o material levado pelo artesão Luciano Boto, que trabalha com barro e madeira, criando figuras típicas do Nordeste brasileiro, como o sertanejo e o vaqueiro, por exemplo.
Conforme Tomaz Machado do Carmo, a feira recebe visitantes rotativos semanalmente, como os artesãos de Irauçuba, que trabalham com as redes, os de Camocim, que trazem o artesanato em búzios por meio de cortinas e lustres, além de Uruoca, com o ponto de cruz, e Massapê, com figuras regionais em taipa.
Organização
Para que esses artistas possam expor na tradicional quinta-feira, Marcília informa que há um contato prévio, marcando a vinda deles. "Todos são programados, alguns aparecem quinzenalmente, outros mensalmente. Nós também visitamos as feiras dessas cidades, levando nosso trabalho, graças ao link com o Sebrae", declara.
Ela aponta que os principais desafios vividos pelos artesãos é a compra da matéria-prima e a falta de um espaço adequado para a exposição em locais públicos. Mas, para Marcília, muitos desafios foram superados, como o fato de agregar valor ao produto e a maneira correta de expor, graças aos cursos e capacitações oferecidos pelo Sebrae. Estes melhoramentos ampliaram as possibilidades de trabalho e renda.
Mais do que uma atividade econômica
Lucy de Holanda produz diversas peças sustenta a família com o trabalho artesanal há mais de dez anos
Sobral Funcionando oficialmente desde 2002, a Associação dos Artesãos de Sobral reúne mais de 40 artistas nos mais diversos segmentos, como crochê, bordado, costura e até esculturas em taipa. Para os artesãos, o trabalho é mais do que uma atividade econômica, pois buscaram na atividade, acima de tudo, um meio de superação e distração.
Artesã desde 2008, Marcília Alves de Aguiar fala que seu principal trabalho é o crochê, além de bolsas de lona com estampas locais, como o Arco do Triunfo e Theatro São João. O artesanato chegou para ela como meio de se distrair durante a recuperação contra um câncer de mama.
"Comecei para ocupar a cabeça, na época da quimioterapia, quando minha cunhada veio até a cidade para a recuperação do meu pai, que também estava com câncer. Como ela estava fazendo muitas peças de crochê, alguém a levou para conhecer a feira e ficar como convidada. Quando ela retornou para São Paulo, eu fiquei como fixa".
Para conseguir passar um produto com preço mais acessível, a artesã conta que precisa se deslocar para Fortaleza, pois as opções locais são escassas. "Mas, enquanto lá o preço é melhor e as opções mais variadas, há o desgaste de uma viagem, além de passagem alimentação e transporte dentro da própria cidade", ressalta.
Sustento
Para a artesã Lucy de Holanda, o artesanato foi um meio de sustentar a família sem precisa se ausentar de casa. Ela tinha uma tinha uma filha doente e, numa das consultas da garota em Fortaleza, entrou numa loja de bijuterias e se apaixonei pelo ramo.
"Com o nascimento da minha segunda filha, que também apresentou problemas de saúde, acabei largando o emprego fixo e trabalhando em casa, cuidando delas. Com o dinheiro, além das melhorias no meu ateliê, paguei escola, faculdade e até o consorcio de uma moto. Minhas peças são de criação própria e trabalho muito com o couro a camurça, relata Lucy de Holanda.
Ela trabalha na cozinha de casa e chega a produzir 40 peças por dia, muitas delas apresentam o couro trançado, preferido pelo público consumidor devido à qualidade. Suas ferramentas de trabalho são estilete, tesoura, cola lã e agulha, além da máquina para por ilhós. Na hora da produção, desenha no couro e recorta peça por peça com o estilete, em cima de uma placa de vidro. "Tudo tem que ser feito com muito cuidado para que eu não perca a peça", afirma.
Raquel Carvalho dos Santos trabalha há mais de 12 anos com o artesanato, mas está na associação há um ano. Lá, vende peças de cama, mesa e banho, além de almofadas. Todas são produzidas na sala da própria casa.
Bordado
Seu principal trabalho é com o bordado, tendo iniciado com o ponto cruz. Hoje, utiliza mais técnicas. Segundo ela, aprendeu a bordar em ponto de cruz quando era técnica de enfermagem e supervisionava um grupo de terapia ocupacional na Casa de Repouso Guararapes. "Foram as pacientes que me ensinaram o bordado. No mesmo dia, fiz uma frase que mandei aplicar em uma peça. Alguém viu, gostou e se ofereceu para comprar. Depois fiz uma colcha de cama com o meu nome e o do meu marido, que usei como mostruário", conta a bordadeira.
A partir desse trabalho, os pedidos foram aumentando tanto que hoje ela trabalha apenas na produção das peças e participa da feira toda quinta e sábado, tendo outras pessoas para auxiliá-la na venda. "Larguei a carreira na saúde e me dediquei apenas a isso, não me arrependo. Contei com um apoio muito grande da minha família e, graças a Deus, deu tudo certo".
Matéria-prima
A matéria prima de Rachel dos Santos é o tecido de algodão puro, comprado na cidade mesmo. "Já fui a Fortaleza uma vez, mas, além das opções não serem realmente tão diferentes, ainda havia o grande problema do frete. Hoje, apesar de comprar em Sobral, ainda sinto dificuldade em encontrar algumas coisas".
Lucy de Holanda também tem que viajar mensalmente para repor o estoque, chegando a gastar mais de R$ 2 mil por viagem. "Não dá pra comprar pela Internet, pois tenho que ver a qualidade. É no momento da compra que já vou criando a peça. Além do material natural como o couro e a camurça, também compro pedrarias para enfeites, pingentes e berloques".
Já a matéria prima da pintora Francisca Edilene Sousa Mesquita vem de outras cidades, como Viçosa do Ceará, e até de outros estados, como o Maranhão. Ela pinta esculturas de argila crua, que vão até um metro de altura. "Para trazer esse material é complicado, pois, como ele é frágil, sempre há o risco de uma peça ou mais quebrar no caminho".
JÉSSYCA RODRIGUES
COLABORADORA
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