CENTRO-SUL: Queimadas colocam o CE em estado de alerta ambiental
Pontos de fogo se espalham pelo Estado destruindo a Caatinga
Iguatu O Ceará atravessa um dos anos mais secos. Em período de estiagem, há uma tendência ao crescimento de queimadas. E é exatamente isso que vem ocorrendo no Estado nas duas últimas semanas. Serras e vales com vegetação seca estão queimando. A Caatinga arde em chamas em todas as regiões. De janeiro até ontem, foram registrados mais de 5.500 focos de calor no Estado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe). No mesmo período, em 2011, foram 1.697 pontos de fogo, um crescimento médio de 225% neste registro.
Cerca de 150 hectares da Serra dos Bravos, em Iguatu, já foram consumidos pelo fogo. Duas equipes do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), estabelecidas em Acopiara, trabalham intensamente em uma peleja contra os focos. As consequências são dramáticas Fotos: Prevfogo
Há uma semana, a Serra dos Bravos, localizada na zona rural da cidade de Iguatu, queima sem cessar. Estima-se que o fogo já destruiu cerca de 150 hectares. No início deste mês, o fogo destruiu grande parte da Chapada do Moura e de áreas agrícolas do Distrito de José de Alencar, neste município. Na Lagoa dos Cavalos, área limítrofe entre Cedro e Cariús, o incêndio florestal já dura cinco dias.
Duas equipes do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) estabelecidas na cidade de Acopiara, na região Centro-Sul do Ceará, trabalham intensamente em uma peleja contra os focos diários de queimadas. São 14 homens que lutam contra as dificuldades de acesso e o intenso calor oriundo do fogo. O trabalho é árduo e demora dias para que as chamas sejam controladas e debeladas.
A unidade do Prevfogo foi instalada em 2010 em Acopiara, que liderava até aquele ano o ranking de desmatamento e queimadas no Estado. "No ano seguinte, reduzimos em 70% o índice de focos de calor no município em comparação com período anterior", disse o coordenador da brigada de combate aos incêndios florestais, Natanael Silva Alencar. "Neste ano, está demais. Há fogo em todas as áreas e a gente trabalha até a madrugada".
A principal causa dos incêndios florestais é a manutenção de um modelo tradicional de preparo de terra para o plantio. Alguns agricultores insistem em fazer broca (corte) dos restos culturais e a queima de forma inadequada e em horário inapropriado desse material. Outros simplesmente fazem o roço das margens (aceiros, próximo a cerca) da área a ser cultivada e ateia fogo de forma extensiva. Resultado: o vento espalha as chamas para áreas vizinhas de mato seco e a queima se generaliza.
Orientação
Os técnicos orientam que os agricultores devem fazer o corte dos restos culturais e juntá-los em vários montes (coivaras) na roça. A queima é controlada e em horário menos quente, a partir das 16 horas. "Dessa forma, evita-se que o fogo se espalhe", observa Alencar. "É preciso avisar os vizinhos, levar água para os trabalhadores e, em alguns casos, recomenda-se o corte em pelo menos cinco metros de distância da mata nativa".
"Infelizmente, muitos agricultores não seguem as orientações do Prevfogo e do Ibama", disse Alencar. "Há também os casos de incêndios criminosos e feitos por caçadores".
Ele lamentou a falta de apoio dos moradores que temem a fiscalização do Ibama. "A maioria dos moradores não informa quem e o que provocou o fogo e nem o melhor acesso para se chegar à queimada".
As brigadas dispõem de equipamentos de combate aos incêndios florestais: abafadores, rastelo, foice, motosserra, bomba costal e veículo para deslocamento. No Ceará, foram instaladas cinco núcleos nos municípios de Acopiara, Quixadá, Viçosa do Ceará, Crateús e Jaguaribara. São homens contratados temporariamente no período de agosto a dezembro.
O engenheiro agrônomo e ambientalista, Paulo Ferreira Maciel, observa que, neste ano, por causa da estiagem prolongada, a situação agravou-se. "É preciso observar que a seca dificulta o combate às queimadas, mas estas são provocadas pela ação humana", disse. "O fogo provoca impactos ao meio ambiente em dimensões econômicas, sociais e ambientais".
Maciel relaciona alguns dos impactos provocados pelas queimadas: risco de acidente, queimadura e morte de pessoas e de animais silvestres e de rebanho bovino, ovino e caprino; destruição de casas, de plantações e de cerca; perda da mata da Caatinga; prejuízos em rede de energia elétrica, além de provocar risco de acidentes quando o fogo atinge a vegetação nas margens das rodovias.
"O fogo afeta a microvida, matando microrganismos essenciais para a fertilidade do solo e para a manutenção de um equilíbrio ecológico nas áreas naturais e agrícolas", observa Paulo Maciel. "Contribui para o déficit hídrico, acelerando os processos de degradação dos solos e promovendo a elevação de temperaturas", alerta ele.
Integrantes da brigada Prevfogo fazem relatos de que, comumente, encontram restos de animais mortos por ocasião do trabalho de combate às queimadas: tatu, tamanduá, cobras, cabritos novos e pássaros.
A redução das queimadas decorre de uma mudança de prática agrícola ou pastoril, pois o uso do fogo é nocivo ao meio ambiente e perigoso para as pessoas e animais. "Quando uma queimada for necessária, deve ser autorizada e feita mediante a orientação de técnicos", observa Maciel. "Algumas práticas como a abertura de aceiros e o contra-fogo são muito importantes neste caso", explica o agrônomo.
Atear fogo em áreas naturais ou agrícolas sem a autorização do órgão ambiental é uma prática criminosa sujeita às penalidades das leis ambiental e criminal, tais como multa e indenização por prejuízos causados.
O ambientalista Maciel observa que as brocas são uma prática antiga em desuso. "Antigamente quando um agricultor fazia uma broca, (com a finalidade de limpar uma área para plantio), fazia de maneira controlada, com aceiros e procurava informar a sua vizinhança", explicou Maciel. "Ele organizava pessoas que ficavam de sobreaviso para atalhar um fogo que fugisse do controle".
Para o agrônomo Paulo Maciel, hoje em dia, os produtores abandonaram esses cuidados e o que ocorre são os incêndios de grande porte. "Os proprietários de áreas grandes mandam atear fogo na mata para que, em seu lugar, plantem capim para o criatório extensivo de gado", afirmou. "A espécie de capim Andropogom é extremamente disseminadora de fogo, mas resistente ao calor e depois se propaga concorrendo com as espécies da Caatinga". Maciel observou que, além dos caçadores que promovem fogueiras nas matas, há os carvoeiros que desmatam e fazem carvão para comercializar, deixando resíduos que iniciam o incêndio.
FIQUE POR DENTRO
Prática comum na agricultura hoje é crime
No sertão, é comum o uso de uma prática antiga: o corte de matas nativas, de restos de culturas e a queimada nas roças para o preparo de solo de áreas de plantio de sequeiro.
A queimada contribui, entretanto, para a gradual esterilização do solo, acidificando-o e destruindo grande parte de sua microvida, os nutrientes. O fogo que se alastra mata espécies animais e destrói o habitat da fauna.
As queimadas são as responsáveis pela maioria dos incêndios florestais. Depois de algum tempo, provocam a desertificação do solo. Liberam gases tóxicos (CO2), o que poluem a atmosfera deixando-a mais suscetível a fenômenos que prejudicam o meio ambiente como o efeito estufa, inversões térmicas e aumentando o buraco na camada de ozônio. As queimadas também afetam a qualidade do ar e, próximas às áreas urbanas, causam sérios problemas respiratórios na população.
Atear fogo na mata nativa, fazer brocas e queimadas sem autorização do Ibama é crime ambiental e os responsáveis respondem por aplicação de multa e até prisão.
MAIS INFORMAÇÕES:
Escritório do Ibama
Cidade de Iguatu
Telefone: (85) 3581. 2349
Prevfogo em Acopiara
Telefone: (88) 9282.7440
HONÓRIO BARBOSA
REPÓRTER
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