Especialista cearense explica como as crianças são afetadas pela Covid-19

A informação de que 12 crianças, entre 0 e 9 anos, estão infectadas com a Covid-19 no Ceará

Por Redação

Apesar de não integrarem o grupo de risco, as crianças podem ser infectadas e/ou serem vetores da doença

O infectologista pediátrico cearense Robério Leite tira dúvidas sobre a ação da Covid-19 em crianças

A informação de que 12 crianças, entre 0 e 9 anos, estão infectadas com a Covid-19 no Ceará, conforme os dados do Portal Integrasus, divulgados na quinta-feira (2), acendeu o alerta sobre esse grupo que também pode apresentar os sintomas da doença. Contudo, de acordo com o Ministério da Saúde, a principal questão envolvendo as crianças é o fato delas não estarem no grupo de risco e assim se tornarem transmissores para os mais sensíveis à doença, como os idosos. 

O Diário do Nordeste entrevistou o infectologista pediátrico cearense Robério Leite para tirar dúvidas sobre o assunto.

Confira:

Como as crianças são afetadas pela Covid-19  mesmo não fazendo parte do grupo de risco?

R- O que se tem de pesquisas até agora mostram que as crianças apresentam queixas ou sintomas brandos, pode ser de um simples resfriado, como coriza e um pouco de tosse ou casos assintomáticos. Por vezes, também, podem surgir casos mais graves com febre e dificuldade respiratória que requer um cuidado médico mais contundente. O que preocupa nesses casos brandos é a transmissão. As crianças, normalmente, já são as principais transmissoras das infecções respiratórias gerais. Aí vem a importância de manter a suspensão de aulas nas escolas, pois quando infectadas, é mais fácil contaminar as pessoas dos grupos de risco. 

Existe alguma diferença na transmissão da Covid-19 para as crianças?

R- Não. A criança pode se infectar pelo novo coronavírus e desenvolver a covid-19 da mesma maneira que os adultos: através de gotículas eliminadas pela tosse ou espirro ou diretamente em contato com as secreções que estão contaminadas pelo vírus, que podem estar na mão de alguém ou na superfície. As crianças, obviamente, têm muito mais contato com objetos, então existe um risco maior de infecção e de transmissão, consequentemente. Até agora não se confirmou a transmissão do vírus para as crianças através do leite materno, que seria uma outra situação específica do período neonatal. 

Temos casos de 12 crianças, entre 0 e 9 anos, infectadas no Ceará. Qual a faixa de idade de crianças mais afetada? 

R- Observando o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), podemos compreender que a faixa pediátrica mais afetada, visto a incidência por 100 mil habitantes, é maior no primeiro ano de vida das crianças, o que inclui também as crianças no maior risco de desenvolver complicações respiratórias. Então, quanto mais nova a criança, menor a capacidade de combater um vírus da natureza do coronavírus.

Quais são os riscos da doença para crianças asmáticas, diabéticas ou com outras comorbidades?

R- De um modo geral, sempre se considera que crianças com comorbidades, como a asma que é uma doença crônica do pulmão, ou como diabetes, obesidade ou cardiopatia são crianças mais propensas à complicações. Porém, ainda não temos dados epidemiológicos firmes de que o que está válido para os adultos também se aplica aos menores. A nossa orientação, como pediatra, é considerar essas crianças com comorbidades como grupo de risco para complicações da Covid-19.

Quando a criança apresenta sintomas da covid-19, os pais devem levá-la ao hospital ou mantê-la em casa, isolada?

R- Como as crianças têm desenvolvido mais quadros leves, geralmente, não há necessidade de levá-lo ao hospital, até mesmo porque a gente não tem certeza que essa criança resfriada esteja com Covid-19. Ela pode, inclusive, adquirir a doença no atendimento de emergência, então a gente recomenda que apenas as que estejam com quadro clínico de gravidade, representado, principalmente, pela falta de ar ou cansaço muito prostrado ou quando os sintomas não tendem a melhorar, devem ser levadas para avaliação médica nas emergências.

Os testes não devem ser feitos nessas crianças com sintomas leves?

R- Considerando a dificuldade dos testes de Covid-19, nesse momento, é interessante que eles fossem reservados para as pessoas com quadros mais graves, de todo modo. Futuramente, quando os testes ficarem mais disponíveis seria realmente interessante saber quando a criança desenvolver um quadro de Covid-19 ou então quando chegar os testes sorológicos, saber se ela já teve Covid-19 assintomática ou com sintomas leves. Então, vai ser muito interessante saber. Isso vai ajudar, também, no controle da transmissão da doença porque os dados epidemiológicos vão ficar mais claros e seguros para interpretação.

Existe alguma medida de precaução especial para as crianças?

R- Esse é um momento de isolamento social. Então, as crianças não devem brincar com outras fora da sua residência, não devem ir para parquinhos ou para a praia. A gente tem que entender que a cada exposição fora na nossa casa, cada saída que se faz, estamos aumentando o risco de exposição e desenvolvimento da doença, mesmo que a gente saiba que as crianças, no momento, são grupos de menor risco de complicação de um modo geral. Porém, nada impede que essa doença, individualmente, afete de maneira grave e possa levar inclusive uma criança à morte. Então, todo cuidado é pouco, tem que ter criatividade e explicar para as crianças a importância delas permanecerem em casa e fazer muitas atividades para entretê-las.

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O infectologista pediátrico cearense Robério Leite tira dúvidas sobre a ação da Covid-19 em crianças